Por Reinaldo Azevedo, 01/08/2015,
www.veja.com.br
Ora, vamos fechar o Congresso
Nacional!? O que lhes parece? O Poder Legislativo passará a ser exercido por
Beatriz Catta Preta, Alberto Youssef e tipos correlatos. Que tal? Se uma
advogada diz que desistiu até da carreira porque se sentiu ameaçada por uma
convocação para depor na CPI da Petrobras, declaremos o Legislativo do Brasil
um Poder criminoso!
Como boa parte da imprensa não gosta de
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, a gente já aproveita e o pendura
num guindaste, pelo pescoço, com se faz no Irã. No guindaste ao lado, estará Renan
Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Mais ao fundo, igualmente
enforcados, Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro e Vital do Rego, três ministros do
TCU que podem recomendar a rejeição das contas do governo. Reinando sobre toda
coisa viva, Dilma Rousseff. Mas reinando para quê? Ora, pra nada, como de
costume.
Vocês notaram? Um a um, todos os
“inimigos” do Planalto estão na mira, certo? Agora só falta, deixem-me ver,
abater uns dois ou três no TSE, que é a outra frente que pode criar
constrangimentos para a presidente. E aí estará tudo perfeito.
Confesso-me algo chocado com a acolhida
que teve em certos setores da imprensa a estupefaciente entrevista concedida
por Catta Preta ao Jornal Nacional na noite de quinta. Nada contra a coisa em
si, claro! Se ela queria falar, o JN deve ouvir. A questão é saber se alguém
que apela ao STF para não ter de dar declarações a uma comissão de inquérito —
a OAB o fez por ela, eu sei — pode apelar ao programa jornalístico de maior
audiência do país para acusar essa mesma comissão de praticar crimes. Ou não
foi isso o que ela fez? Ou ela tratava de um mero sentimento, assim…, um temor
não mais do que subjetivo?
Agora virou moda. A ordem parece ser
mesmo deslegitimar a CPI. Interessa a quem? Antonio Figueiredo Basto, advogado
de Alberto Youssef e de Júlio Camargo — aquele homem de muitas verdades
premiadas enviou uma petição, ao juiz Sérgio Moro pedindo o cancelamento; da
ida do doleiro a Brasília na semana que vem. A CPI, CORRETAMENTE, DIGA-SE,
marcou uma acareação entre ele e Paulo Roberto Costa, ex-diretor de
Abastecimento. Sabem o que Basto alegou? Que a integridade física do delator
estará em risco se isso acontecer.
Mas Basto não parou por aí. Pela
segunda vez, ele voltou a desferir um violento ataque a autoridades do Legislativo
— já havia atacado Eduardo Cunha nas alegações finais em favor de Camargo. Está
escrito lá:
“O seu [da CPI] raio de abrangência não
pode se perder, para distorcer o instituto com fins de politicagem de ocasião
ou propósitos revanchistas. Nestas circunstâncias, o deslocamento de Alberto
Youssef à capital federal compromete sua própria segurança, colocando em xeque
sua integridade física e moral!”
Doutor Basto diga o que quiser, e não
será este jornalista a contestar o direito de defesa — ao contrário: tenho sido
atacado por alguns idiotas justamente porque não transijo nisso. Mas eu não
reconheço o seu direito de tentar cassar uma prerrogativa do Poder Legislativo.
É surrealista o que está em curso.
Fazendo de conta que a CPI não tem o
poder para convocar seu cliente e já se antecipando a uma decisão judicial,
Basto avança e diz que Youssef “não vai se submeter ao teatro de horrores de
uma CPI notoriamente comprometida com interesses não republicanos, onde os
personagens protagonizam uma tragicomédia encenada sob o cenário revanchista de
ameaças veladas e vinganças rasteiras”.
Quais ameaças veladas? Quais vinganças
rasteiras? Com a devida vênia, atitudes como essa de Basto e a da doutora
Beatriz é que transformam a questão numa chanchada macabra. Sim, existem
diferenças entre os depoimentos que precisam ser esclarecidas. Lembro uma:
Paulo Roberto diz que Antonio Palocci lhe pediu R$ 2 milhões para a campanha de
Dilma em 2010 e que o doleiro liberaria o dinheiro. Este afirma que nunca
aconteceu. Um dos dois está mentindo. Quem?
Que coincidência notável, não é mesmo?
Uma a uma, as frentes em que Dilma pode vir a enfrentar problema estão
mergulhadas em denúncias e dificuldades. Que se apure tudo, claro! Que se
noticie tudo, claro! Mas que se diga tudo, claro!
Sei o que escrevi, e não retiro uma
vírgula de nada. Acho que Eduardo Cunha fez um excelente trabalho na Câmara, e
entendo os motivos por que é alvo do ódio do PT e de outros tantos. Se cometeu
crimes, que pague! Mas lembro que, inicialmente, integrou a “Lista de Janot” em
razão de um depoimento cediço e meio confuso de um policial. Não entendi,
então, por que Janot não incluiu a própria Dilma no rol. A explicação que ele
deu à época é furada, está demonstrado pela Constituição e pela jurisprudência do
Supremo.
Júlio Camargo, ex-cliente de Beatriz e
atual cliente de Basto, entrou na história, contra Cunha, bem depois. Até
porque, já como delator premiado, negou o pagamento de propina ao deputado.
Mais tarde, mudou a versão — e continuo sem saber se ele mentiu para a sua
então defensora em algum momento ou se os dois mentiram juntos para a Corte.
Pedi a ela que me mandasse uma resposta. Não mandou. A minha dúvida persiste.
Escrevi na minha coluna na Folha , nesta sexta, que os
interlocutores estão desaparecendo. Pululam irresponsáveis por todo canto.
Agora, já não se poupam também as instituições na busca desesperada para salvar
e cortar cabeças.
As ações de intimidação atingem hoje a
Câmara, o Senado, o TCU e a CPI da Petrobras. E será preciso resistir. Ou,
daqui a pouco, será preciso entregar a “Politeia” aos homens de negro para que,
finalmente, a gente possa ter uma ditadura de virtuosos.
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