Lula está perdido. E disso dão
testemunho os que convivem com ele, e os que o escutam falar nos raros atos
públicos a que comparece
Por Augusto
Nunes, 13/06/2016,
www.veja.com.br
Texto de Ricardo Noblat
Primeiramente… Se Dilma tivesse chances de voltar
ao cargo do qual foi afastada, ela não acenaria, como o fez em entrevista à TV
Brasil, com a proposta de convocação de um plebiscito para que os brasileiros
digam se são favoráveis a uma eleição presidencial antecipada. Caso ocorresse,
a eleição serviria à escolha de um presidente para completar o mandato de
Dilma. O que significa…
Que Dilma tem plena consciência de sua
impossibilidade de governar até o dia 31 de dezembro de 2018, como deveria. O
impeachment passou na Câmara com os votos de 71,5% dos 513 deputados,
obrigando-a a se afastar do cargo. Foi admitido no Senado com os votos de 67,9%
dos 81 senadores. Esse percentual tem tudo para ser maior no ato final do
julgamento dela.
Dilma caiu porque pedalou contra o Tesouro, fez um
governo desastroso e perdeu apoio político. Quer voltar por pouco tempo,
preocupada apenas com sua biografia. “Querida, deu errado. Você só tem de
escolher por qual porta sair”, ensinou Lula a Dilma no dia em que ela se
despediu do Palácio do Planalto. Hoje, refugiada no Palácio da Alvorada, espera
que a sorte mude seu destino.
Para ela, bem que os brasileiros poderiam se
encantar outra vez com a ideia de Diretas, já! Ou seja: nem Dilma, nem Temer,
mas um terceiro. E já! E assim, devolvida temporariamente ao poder, Dilma
sairia mais tarde dali pela porta de quem abdicou de direito adquirido pensando
acima de tudo no país – Dilma, a generosa; Dilma, a abnegada; Dilma, a
estadista.
Haveria outra porta pela qual a ex-presidente
poderia sair: a do rotundo fracasso do governo provisório de Temer. Ela nunca
admitirá que torça para que Temer fracasse, mas não faz outra coisa, não deseja
outra coisa. Dane-se o país se esse for o preço a pagar para dar um lustro no
que se dirá de Dilma no futuro. Golpeada, Dilma caiu, mas o golpista-mor,
também. Vítima e algoz. Lorota!
Temer é visto com muita desconfiança, e é natural
que seja. Ele é do PMDB, partido tão encrencado na Lava-Jato quanto o PT. Por
duas vezes foi vice de Dilma, responsável, assim como Lula, pela dramática
situação econômica, política e moral que o país atravessa. Temer é uma esfinge.
Mas Dilma, não. Decifrada, a maioria dos brasileiros deu-lhe as costas.
Lula está perdido. E disso dão testemunho os que
convivem com ele, e os que o escutam falar nos raros atos públicos a que
comparece. No da última sexta-feira, que lotou apenas quatro quadras da Avenida
Paulista, no centro de São Paulo, nem Lula nem ninguém perdeu tempo em comentar
a proposta de plebiscito com diretas, já. Daqui a dois anos haverá diretas. Antecipá-las
para quê? Para o PT perder?
Agora a derrota seria certa. Este ano ou em 2018,
não se sabe se o PT contaria com Lula como candidato. Sérgio Moro deve saber.
Ou o ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal. Lula poderá escapar
de ser preso para que não se dê ao PT um aspirante a mártir. Não mais uma
jararaca de vida curta, talvez um São Sebastião flechado. Mas livrar-se da
Lava-Jato, esqueça. Ele não se livrará.
Se Temer não for alvejado por uma bala perdida ou,
pior, certeira, dessas que ultimamente produziram severo estrago na imagem de
influentes caciques do PMDB, seguirá capengando na direção do seu Santo Graal –
um ajuste nas contas públicas e a aprovação de algumas reformas econômicas. É
pouca ambição? Não, não é. Nas atuais circunstâncias, é muita.
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