Prazo para justificar mensagens
codificadas de Marcelo Odebrecht terminava hoje, mas defensores optaram por
confrontar Lava Jato
Por Laryssa
Borges, de Brasília, 27/07/2015,
www.veja.com.br
Defesa não
explicou anotações cifradas de Marcelo Odebrecht
A defesa do empreiteiro Marcelo Odebrecht decidiu
atacar nesta segunda-feira o juiz Sergio Moro, integrantes do Ministério
Público e a Polícia Federal em petição enviada à Justiça Federal em Curitiba
(PR). Os advogados se recusaram a explicar as mensagens cifradas encontradas no
telefone celular do empreiteiro e as referências a siglas que, segundo os
investigadores, podem estar relacionadas a políticos como o ex-presidente Lula,
o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), o senador José Serra (PSDB) e o
governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT). Terminava hoje o prazo para
que os defensores explicassem o contexto de cada mensagem apreendida.
Relatório da Polícia Federal com base em mensagens
extraídas do celular de Marcelo revela o amplo leque de políticos com os quais
ele tinha contato e seu esforço para utilizar siglas e mensagens codificadas
para anotar as ações. De acordo com o documento, ele lançou mão de uma
estratégia de confrontar as investigações da Lava Jato que contaria com
"policiais federais dissidentes", dupla postura perante a opinião
pública, apoio estratégico de integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) e ataques às apurações internas da Petrobras. A PF avalia que o empreiteiro
buscava criar "obstáculos" e "cortinas de fumaça" contra a
operação Lava Jato.
Em manifestação entregue a Moro, a defesa de
Odebrecht classificou a atuação do MP como "intolerável" por ter
utilizado "documentos velhos de autenticidade duvidosíssima" e uma
"artificiosa correlação entre telefonemas" para incriminar o
empreiteiro. Depois de identificar 135 telefonemas entre o diretor da Odebrecht
Rogério Araújo e o operador de propinas da empreiteira Bernardo Freiburghaus, a
Lava Jato também mapeou que o executivo da construtora manteve conversas com o
presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, poucas horas depois de ter falado com
Freiburghaus. De dezessete conversas telefônicas ou mensagens de texto entre
Araújo e Odebrecht, quatro delas aconteceram em dias nos quais o executivo
também havia conversado com Freiburghaus. Para os investigadores do petrolão, a
coincidência entre os telefonemas e mensagens indica que Marcelo Odebrecht
tinha amplo conhecimento e atuação na negociação de propinas pagas pela empreiteira.
O juiz Sergio Moro também é alvo das críticas por
ter decretado nova prisão preventiva do executivo e por ter utilizado as
mensagens do celular do empresário no decreto que determinou sua nova detenção.
A defesa do empresário, preso desde 19 de junho,
também atacou a Polícia Federal e acusou o órgão de ter violado o sigilo dos
advogados ao apreender um manuscrito em que o executivo havia registrado a
mensagem "destruir e-mail sondas". "Em seu afã de incriminar
Marcelo a todo custo, a Polícia Federal nem se deu ao trabalho de tentar
esclarecer as anotações com a única pessoa que poderia interpretá-las com
propriedade - seu próprio autor" criticou.
Os advogados também contestam a revelação de
informações supostamente confidenciais da empresa e criticam a divulgação de
mensagens de familiares nos autos. A Odebrecht pede a decretação de sigilo nos
documentos. "Lamentavelmente, a obstinação investigativa e persecutória de
autoridades que atuam na Lava Jato parece ter turvado sua compreensão de que o
país não se resume a um caso criminal. Há indivíduos, famílias, empresas,
finanças, obras e empregos em jogo - no caso das empresas do grupo Odebrecht é
mais de 160.000! -, que deveriam impor um mínimo de cuidado na análise e
divulgação de documentos e informações por parte dos agentes públicos, ao menos
até que bem esclarecidos seu conteúdo e eventual pertinência com as
apurações", atacam os defensores de Marcelo Odebrecht.
"Impressiona, igualmente, a dubiedade do
discurso de vossa excelência. De um lado, quando intima a defesa, assevera que
'tudo está sujeito à interpretação'. De outro, porém, antes mesmo de ouvir
explicações, prende novamente quem já está preso dando por certo aquilo tudo
que estava sujeito a interpretação!", escreveram.
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