Por ser o símbolo da megalomania
de Lula, vale reconstituir a trajetória do empreendimento que enriqueceu um
punhado de espertos, em detrimento dos contribuintes
Por Augusto
Nunes, 22/06/2016,
www.veja.com.br
As “campeãs nacionais” foram empresas escolhidas
durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva para disputar o mercado mundial
com as gigantes estrangeiras contando com vasto financiamento e participação
estatal. Pretendia-se gerar conglomerados que fossem ao mesmo tempo
competitivos e ajudassem a acelerar o desenvolvimento nacional. O retumbante
fracasso de tal iniciativa pode ser medido pelo esfarelamento da Oi, a empresa
criada para ser a “supertele nacional” e que acaba de pedir recuperação
judicial – a maior da história brasileira, com uma dívida total de R$ 65,4
bilhões. Por ser o símbolo da megalomania de Lula, vale reconstituir a
trajetória desse empreendimento que tanto embalou os sonhos de grandeza da
tigrada e enriqueceu um punhado de espertos, em detrimento dos contribuintes.
O caso da Oi é marcado por intrigas e negócios
suspeitos mesmo antes da existência formal dessa empresa. Tudo começou em 1998,
quando a Telemar arrematou a Tele Norte-Leste no leilão de concessão do sistema
Telebrás. O consórcio, formado a toque de caixa, era liderado por uma
construtora, companhias de seguro e uma empresa da área comercial. Sem dinheiro
para honrar o compromisso, o grupo apelou para os cofres públicos,
associando-se aos fundos de pensão de estatais Previ, Petros e Funcef e ao
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em uma conversa
gravada ilegalmente, o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de
Barros, qualificou a Telemar de “telegangue” e de “rataiada”, o que dá uma
ideia da natureza do jogo que estava sendo jogado.
Dez anos mais tarde, em 2008, a Telemar já havia
trocado de nome – passara a se chamar Oi, numa tentativa de dinamizar a marca,
já com vista à expansão que teria generoso apoio do governo Lula. O governo
petista esperava transformar a empresa na “supertele verde e amarela” com a
compra da Brasil Telecom, o que de fato ocorreu.
No entanto, para que a compra fosse concretizada,
foi necessário que Lula alterasse o Plano Geral de Outorgas, eliminando a regra
que restringia a atuação da operadora somente em uma das quatro regiões em que
o País foi dividido. Foi assim, com uma canetada, que a Oi se tornou a primeira
tele de alcance nacional.
Para que a reconstituição dessa trajetória não
fique incompleta, não se pode esquecer que um dos sócios da Oi, a Andrade
Gutierrez, havia sido o principal doador da campanha de Lula à reeleição em
2006. E também não se pode ignorar que, em 2005, a antiga Telemar investiu R$ 5
milhões na compra de 30% da Gamecorp, empresa de Fábio Luís Lula da Silva, o
Lulinha, especializada em programas de TV e em jogos para celular, que fechou
aquele ano com prejuízo superior a R$ 3 milhões. No ano seguinte, a Telemar/Oi
investiu mais R$ 5 milhões na empresa, sem que isso fosse capaz de reverter às
perdas da empresa de Lulinha.
Graças a esse modo de fazer negócios – eivado de
interesses que nada têm a ver com a boa administração – a Oi jamais chegou a
ser a “supertele” que Lula queria. Ao contrário, a empresa afundou em dívidas,
obrigando o governo a intervir para salvá-la. A solução, mais uma vez envolta
em situações mal explicadas, foi à fusão da Oi com a Portugal Telecom, em 2010.
A transação entrou nos radares da Lava Jato e das autoridades portuguesas, pois
surgiram suspeitas, ainda sob investigação, de que houve pagamento de propina a
integrantes do PT – José Dirceu entre eles.
A fusão da Oi com a Portugal Telecom fracassou, e a
dívida tornou-se impagável. A companhia jamais cumpriu a função alardeada por
Lula – na lista das maiores empresas do mundo feito pela revista Forbes, a Oi
amarga o 1.464.º lugar. Entre as 19 empresas brasileiras que aparecem no
ranking, ela perde para 17. É evidente, portanto, que a experiência das
“campeãs nacionais” não deu certo, pela simples razão de que esse grau de
intervenção do Estado causa profundos desequilíbrios, gerando escassos ganhos
para o desenvolvimento do País. E o resultado menos visível dessa estratégia é
a corrupção, cuja extensão ainda se desconhece
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