Por Reinaldo Azevedo, 03/08/2015,
www.veja.com.br
Os petistas estão de tal sorte perdidos
e de tal modo se descolaram da realidade brasileira que já não medem mais as conseqüências
das coisas que enunciam. E, por óbvio, sem querer ser tautológico, as falas são
tão mais irresponsáveis quanto mais altas são as responsabilidades dos que
lançam bobagens ao vento. A começar da presidente da República.
Na quinta à noite, um artefato
explosivo, de fabricação caseira, foi jogado na calçada do Instituto Lula, em
São Paulo. A explosão chegou a danificar um portão. É coisa de bandido? É claro
que é. As polícias, inclusive a Federal, têm de investigar para tentar chegar aos
responsáveis? É evidente! E em os encontrando? Que sejam punidos segundo os
rigores da legislação — não dará para enquadrá-los numa lei de combate ao
terrorismo porque o PT nunca aceitou que se votasse uma.
É tolice ter de declarar que se trata
de um ato condenável, tão explicitamente condenável ele é. Mas daí a ver no
episódio a escalada da intolerância, como fez a presidente Dilma, segundo quem
o ato poria em risco até a democracia, bem, há aí a diferença que vai do óbvio
à estultice. Afirmou a governanta no Twitter: “A intolerância é o caminho mais
curto para destruir a democracia. Jogar uma bomba caseira na sede do Instituto
Lula é uma atitude que não condiz com a cultura de tolerância e de respeito à
diversidade do povo brasileiro”.
Ai, ai… Mais um pouco, a presidente
recupera a retórica das catacumbas da ditadura, quando se assegurava: “Os
subversivos são portadores de uma ideologia exógena, contrária à índole
pacífica e ordeira do povo brasileiro”…
É claro que os vagabundos que
praticaram aquele ato, se presos, têm de ser punidos, mas a presidente também
poderia dar um exemplo. Volta e meia, ela faz alusão a seu passado de membro de
grupos que praticavam ações terroristas. Naquele caso, as bombas não eram tão
primitivas e matavam mesmo. Nunca vi um mea-culpa presidencial. Ao contrário:
Dilma empresta aquelas jornadas ares de heroísmo e diz até que aqueles grupos
defendiam a democracia, o que é uma mentira objetiva.
Jaques
Wagner
Jaques Wagner, nada menos do que
ministro da Defesa, resolveu engrossar o coro dos insensatos — e olhem que o
homem é apontado como alternativa moderada entre os petistas. Não só decidiu
emprestar à coisa um peso político que nem sabe se tem como aproveitou para
fazer politicagem, criticando a Polícia Civil de São Paulo.
No sábado, o homem que, na prática, é
chefe das três Forças Armadas e a cargo de quem estaria à defesa da nação
afirmou: “Eu acho que [o ataque] é grave e acho que foi pobre a afirmação da
Polícia Civil de São Paulo porque não se trata de ter sido alguém organizado ou
não”.
Explico. A Polícia Civil de São Paulo,
de forma prudente, disse trabalhar com todas as hipóteses, inclusive a de que
seja um ato de vandalismo. É o certo. Mas Wagner exige que o PT seja hoje
tratado como vítima de uma ação organizada, de caráter político e ideológico.
Ele quer porque quer empregar a palavra “terrorismo”. Disse: “Está se criando
um clima no país em que alguém se acha no direito, seja ele quem for — pode ser
um cidadão comum —, de chutar as costas do prefeito de Maricá (RJ) ou de botar
uma bomba explicitamente no local de trabalho de um [ex-presidente]. Isso é
inadmissível para qualquer um, porque o terrorismo é a pior forma de se
trabalhar as diferenças”.
Calma! A coisa não parou por aí. O
ministro procurou associar a bomba caseira aos que defendem o impeachment de
Dilma. Leiam: “A tentativa de quebra da regra da naturalidade da democracia é
que eventualmente embala loucos como esses que jogou a bomba. Porque outros,
sem serem loucos iguais [ao que arremessou o artefato], [o] embalam”.
Ah, entendi. Então defender o
impeachment da presidente e convocar uma manifestação, como a do dia 16 de
agosto, predisporia loucos a jogar bombas caseiras… O país fez o maior protesto
político de sua história no dia 15 de março deste ano, e não se teve notícia de
um só incidente. Rui Falcão, presidente do PT, estava com Wagner e também
criticou a Polícia de São Paulo, chamando o episódio de um “ato de
violência contra a maior liderança que o país já produziu”. Ah… Se Lula fosse
apenas a quinta maior liderança, talvez a bomba fosse menos grave.
Discurso
terrorista
Terrorista é o discurso dos petistas,
inclusive o da presidente da República. Pra começo de conversa, faz uma brutal
diferença um ato dessa natureza ter sido praticado por um grupo organizado ou
por um delinqüente qualquer. Se um ministro da Defesa não tem essa clareza,
melhor fazer outra coisa. Aliás, Wagner ser titular da pasta é um escárnio. Com
que conhecimento de causa?
Lamento adicionalmente, diga-se, que
ele não tenha censurado seus pares de partido que dizem que o antipetismo é
coisa tão grave como o anti-semitismo. Wagner estaria moralmente obrigado a
tratar do assunto: por ser petista, por ser ministro da Defesa e por ser judeu.
Em segundo lugar, ainda que ato
terrorista fosse o que; isso teria a ver com os que convocaram as marchas em
favor do impeachment para o dia 16? Todos os grupos que se ocupam da convocação
e da organização dos eventos têm sólidos compromissos com a democracia,
rejeitam a violência de qualquer natureza e defendem o império da lei.
Dilma, Wagner e Falcão precisam ser
mais responsáveis. Até porque há uma questão de natureza lógica: se ações
contra o PT servirão de pretexto para atacar os que protestam contra Dilma, a
melhor maneira de transformar em vilões os que o fazem é praticando ataques
contra o PT. Aí a gente é logicamente obrigado a trabalhar com a hipótese de
que, na raiz de um ataque como aquele, podem estar justamente os adversários do
impeachment, não é mesmo?
Odorico Paraguaçu mandava pichar nos
muros de Sucupira “Odorico é ladrão” quando queria baixar o porrete na
oposição.
O Brasil não é Sucupira, Dilma!
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