A resistência venceu. Ao longo
dos anos de contínua depredação da verdade e da lógica, soubemos manter as
nossas instituições e reagimos com a devida presteza todas as vezes que eles
tentaram mudar os códigos do regime democrático. Não estão mortos. Não estão
acabados
Por Reinaldo
Azevedo, 31/08/2016,
www.veja.com.br
Quinze anos depois de eu ter criado a
palavra “petralha” para designar as práticas dos petistas em Santo André, lá se
vão eles. Morrem com retrato e com bilhete, mas sem luar, sem violão. Sei muito
bem o peso de enfrentá-los ao longo dos anos. Hoje é fácil. Felizmente, os
grupos de oposição ao petralhismo se multiplicaram. E ninguém corre o risco de
morrer de solidão por enfrentar a turma. Alguns o fazem até por oportunismo.
Outros ainda porque farejam uma oportunidade de negócios. O tempo que depure as
sinceridades, as vocações, as convicções. Não serei eu o juiz.
Sinto-me intelectualmente recompensado.
A razão é simples. Desses 15 anos de combate, 10 estão no arquivo deste blog,
vejam aí. Houve até um tempo em que um blogueiro petista sugeriu à grande
imprensa que tentasse investigar quem eram e como viviam os leitores desta
página. Afinal, integrávamos o grupo, dizia ele, dos apenas 6% que achavam o
governo Lula ruim ou péssimo. E é claro que os companheiros tentaram
transformar a repulsa ideológica ao partido num crime.
A recompensa intelectual não se
confunde, nesse caso, com vaidade. A minha satisfação não decorre de ter
antevisto a queda dos brutos. Isso seria fácil. Em algum momento, claro! Eles
cairiam, ainda que fosse pelas urnas. O meu conforto deriva do fato de que,
então, eu não via fantasmas quando apontava a máquina formidável de assalto ao
estado que se havia criado. Ela se destinava não só a enriquecer alguns
canalhas como a assaltar as instituições.
Ah, quantas vezes tive de ouvir que eu
exagerava! Ah, quantas vezes tive de ouvir que a palavra “petralha” designava,
na verdade, um preconceito! Ah, quantas vezes tive de ouvir que eu
criminalizava no PT o que considerava normal e corriqueiro nos outros partidos!
Ah, quantas vezes tive de ouvir que eu estava a serviço do tucanato! Essa
última acusação, diga-se, em tempos mais recentes, também ganhou as hostes da
extrema direita caquética, que precisava que o PT fosse um monstro invencível
para que sua ladainha impotente e escatológica continuasse a se alimentar da paranóia
dos tolos.
E, no entanto, as coisas estão aí. Os
petralhas foram derrotados por sua alma… petralha! Porque a maioria dos
brasileiros pôde, afinal, enxergá-los como eles de fato são.
Não! A palavra “petralha” nunca
designou apenas uma caricatura a serviço do embate ideológico. Os petistas
adorariam que assim fosse. A máquina de propaganda esquerdista tentou até criar
o contraponto à direita, que seriam os “coxinhas”. Mas foram malsucedidos no
intento. Porque, afinal, de um coxinha, pode-se dizer o diabo. Mas uma coisa é
certa: coxinha, em nenhuma de suas acepções, virou sinônimo de ladrão. Marilena
Chaui, aquela, pode achar um coxinha reacionário, preconceituoso, abominável…
Mas não tenho a menor dúvida de que ela confiaria sua carteira a um coxinha e
jamais a deixaria à mercê de um de seus pupilos petralhas.
José Eduardo Cardozo e os demais petistas
se zangam quando se diz que Dilma caiu pelo “conjunto da obra”. No seu
entendimento perturbado do mundo, entendem que se está admitindo que ela não
cometeu crime de responsabilidade. Trata-se, obviamente, de uma mentira. Sim, o
crime foi cometido, mas é fato que ele não teria sido condição suficiente,
embora necessária, para a deposição. Foi, sim, o jeito petralha de governar que
derrubou a governanta, aliado a uma brutal crise econômica, derivada, diga-se,
desse mesmo petralhismo: não fosse a determinação de jamais largar o osso, a
então mandatária teria tomado medidas para evitar o abismo. Ocorre que ela não
devia satisfações ao Brasil, mas ao projeto de poder, tornado realização, que
havia se assenhoreado do estado e que vivia de assaltá-lo.
A resistência venceu. Ao longo dos anos
de contínua depredação da verdade e da lógica, soubemos manter as nossas
instituições e reagimos com a devida presteza todas às vezes em que eles
tentaram mudar os códigos do regime democrático. Não estão mortos. Não estão
acabados. Estão severamente avariados, e cumpre aos defensores da democracia
que sua obra seja sempre lembrada como um sinal de advertência. Até porque, a
exemplo de todas as tentações totalitárias, também a petista tem seus ditos
intelectuais, seus pensadores, seus… cineastas. As candidatas a Leni
Riefenstahl do petismo, sem o mesmo talento maldito da original, não
conseguiram fazer a epopéia do triunfo; então se preparam agora para fazer o
réquiem, na esperança de que o ressentimento venha a alimentar o renascimento.
Vem muita coisa por aí. Não completamos
nem o primeiro passo da necessária despetização do estado. O trabalho será
longo, vai durar muitos anos. Não temos como banir os petralhas da política,
mas é um dever civilizacional combater suas ideias, enfrentá-los, resistir a
suas investidas — e pouco importa o nome que tenham.
Publiquei “O País dos Petralhas I”.
Publiquei “O País dos Petralhas II”.
Anuncio aqui, para breve, fechando o
ciclo, o livro “Petralhas Go”.
Acabou.
Eles perderam. A democracia venceu.
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