Deltan pediu
para ser ridicularizado, e foi. Lula se acha Jesus Cristo, mas só o inocenta
quem o idolatra
Por Ruth de Aquino, 16/09/2016,
www.época.com.br
Não tenho provas, mas tenho
convicção de que os dois lados – o procurador do Ministério Público Federal e
da Lava Jato Deltan Dallagnol e o ex-presidente Lula – exageraram tanto em suas
retóricas, comparações e adjetivos que acabaram por virar piada. Pior,
prejudicaram um processo que se arrasta há mais de dez anos, quando Lula pediu
desculpas ao Brasil pelo mensalão, jogou Zé Dirceu às feras e se disse traído
pelos companheiros.
O primeiro tiro no pé foi de
Dallagnol. Com seu rosto imberbe e óculos de primeiro aluno, tem 36 anos e é
procurador da República desde os 22. Fez mestrado em Harvard, é especialista em
crimes financeiros. Em seu currículo, constam mais de 200 horas de cursos sobre
lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas, técnicas de denúncias. Nesse
último item, tem muito a aprender.
O show de acusações hiperbólicas
a Lula, ele ilustrou com um “quebra-cabeça”. Um powerpoint tão tosco quanto
hilário, com erros de digitação (“proinocracia”), palavras hifenadas como
expres-sivida-de, enri-queci-mento, corrom-pida, men-salão. Algumas bolas eram
incompreensíveis, como “vértice comum” ou “reação de Lula”. No centro, LULA,
flechado por todos os lados. Nem na era pré-digital essa ilustração seria
aprovada numa sala de aula. Originou memes de morrer de rir nas redes sociais.
O procurador foi ridicularizado. Pediu por isso. Recebeu.
Dallagnol extrapolou do
substantivo para o adjetivo. Em arroubos que deveriam ser vetados, chamou Lula
de tudo o que pudesse levantar a bola para o ex-presidente. “Grande general no
comando da engrenagem.” “O comandante máximo da propinocracia e da corrupção.”
“O maestro da orquestra criminosa.” Menos, Dallagnol, menos.
O procurador disse coisas que já
sabemos, que o petrolão não se limitava à Petrobras, mas envolvia a Eletrobras,
os ministérios do Planejamento e da Saúde e a Caixa Econômica, entre outros
órgãos públicos. Com a saída de Dirceu do governo, segundo Dallagnol, a
continuidade do mensalão (que virou petrolão) só foi possível porque o
ex-ministro não era o líder – e sim alguém acima dele, o então presidente Lula.
Essa convicção é provavelmente nacional.
Talvez não seja eu apenas que não
agüente mais ouvir falar das reformas no triplex em Guarujá e no sítio em
Atibaia, embora saibamos que é nos detalhes que mora o diabo. Os valores são
ínfimos comparados ao que o PT deve ter roubado do país todos esses anos.
Quando o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, diz que recorreu à empreiteira
OAS para guardar os 14 contêineres com presentes ganhos por Lula no Planalto
porque “não tinha outro jeito”, é claro que não passa de história da
carochinha.
Mais importante é a gigantesca
promiscuidade com empreiteiras, o pacto bilionário que tirou do povo o dinheiro
para a educação, saúde, trabalho, saneamento, transporte, que iludiu os mais
necessitados, e que deixou tantos esqueletos de obras essenciais paradas pelo
país afora. O conjunto da obra, do qual Lula parece mesmo ser o chefe. Só o inocenta
quem o idolatra.
Lula é um mito, por suas
conquistas pessoais, por superar uma infância de miséria, por liderar greves
históricas, por se tornar o primeiro operário a ser presidente da República e
ser reeleito. Sua consagração como líder popular é legítima. Sua retirada de
milhões da pobreza e da fome é uma verdade, mesmo de vida curta por erros no
comando da economia. Seu carisma é irrefutável. Sua capacidade de fazer alianças espúrias e mesmo assim
manter a militância a seu lado é notória. Sua malandragem é conhecida.
Lula também exagera. Ofende a inteligência dos
brasileiros ao insistir que nunca soube de nada. Mente sobre um monte de
números. Acusa os procuradores de farsa lulocêntrica para levá-lo à cadeia, mas
promove uma farsa demagógica. “Só ganha de mim aqui no Brasil Jesus Cristo”,
afirmou. Já disse que seu corpo levou “mais chibatadas” do que o corpo
crucificado de Jesus. Onde estão os memes de Lula/Jesus na cruz? Menos, Lula,
menos.
Sempre chora ao lembrar que não tinha “um bocado de feijão para botar no fogo” na infância ao lado de cinco irmãos, na Vila São José, região carente de São Paulo. Felizmente, dinheiro não o preocupa mais. Ao contrário do uruguaio Mujica, que não enriqueceu nada, o patrimônio de Lula cresceu 360%, em valores nominais, após o fim de seu segundo mandato, em 2010.
Sempre chora ao lembrar que não tinha “um bocado de feijão para botar no fogo” na infância ao lado de cinco irmãos, na Vila São José, região carente de São Paulo. Felizmente, dinheiro não o preocupa mais. Ao contrário do uruguaio Mujica, que não enriqueceu nada, o patrimônio de Lula cresceu 360%, em valores nominais, após o fim de seu segundo mandato, em 2010.
Enquanto os procuradores da Lava Jato levarem Lula
a se fazer de vítima, ouvirão bravatas assim: “Provem uma corrupção minha que
irei a pé ser preso”. E prejudicarão a acusação preparada pelo procurador-geral
da República, Rodrigo Janot. Não dá para chamar esses jovens procuradores
estudiosos de “força-tarefa”. Falta força (e comedimento) na tarefa.
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