Para procuradores, petista era o
“comandante máximo” de uma organização criminosa que instalou no Brasil o
regime da “propinocracia”
Por Thiago Bronzatto, 16/09/2016,
www.veja.com.br
Em menos de quinze dias, a presidente da República
sofreu um processo de impeachment, o parlamentar mais poderoso do Congresso
teve o mandato cassado e o líder mais popular da história política recente
começou a enfrentar o período mais dramático de sua carreira. Como aparece na
capa desta edição de VEJA, em imagem inspirada em capa publicada pela revista Newsweek
em outubro de 2011, o mito Lula pode estar começando a derreter.
Na semana passada, os procuradores da força-tarefa
da Lava-Jato formalizaram denúncia de corrupção passiva e lavagem de dinheiro
contra o ex-presidente. A isso se resume a denúncia, mas ela veio embalada numa
retórica segundo a qual Lula era o “comandante máximo” da organização
criminosa, o chefe da quadrilha que assaltou os cofres da Petrobras, o general
que usava propinas para subornar parlamentares e comprar partidos, o fundador
da “propinocracia”, o homem que aceitava dinheiro e pequenos luxos em troca de
favores. Nisso tudo, a retórica tomou o lugar das provas.
No pedaço substantivo da denúncia, os
investigadores acusam o ex-presidente de receber vantagens indevidas de ao
menos três contratos bilionários assinados entre a construtora OAS e a
Petrobras. As propinas geradas por esses negócios somaram 87,6 milhões de
reais. Desse total, 3,7 milhões de reais foram direcionados a Lula, “oriundos
do caixa geral de propinas da OAS com o PT”. Para lavar esse dinheiro sujo,
segundo os procuradores, a empreiteira bancou a reforma de um triplex da
família Lula da Silva, no Guarujá, no litoral paulista.
O ex-presidente se defende dizendo que o imóvel
nunca foi dele, apesar de sua mulher, Marisa Letícia, também denunciada, ter
escolhido os móveis, os pisos, as torneiras, os armários e a cor das paredes.
Essa, talvez, se transforme em breve na prova mais forte de suborno contra
Lula. Há duas semanas, VEJA mostrou o conteúdo da proposta de delação premiada
de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS. Nela, o empreiteiro confirma que o triplex
pertence ao ex-presidente e foi pago com dinheiro da Petrobras.
Na denúncia de 149 páginas, os procuradores apontam
uma segunda evidência de corrupção do ex-presidente. Antes de deixar o
Planalto, em 2010, Paulo Okamotto, amigo de Lula, pediu à empreiteira OAS que
financiasse o transporte e o armazenamento dos objetos pessoais do
ex-presidente. Para atender Lula, a empreiteira gastou 1,3 milhões de reais.
Okamotto, que mais tarde passou a presidir o Instituto Lula e também foi
denunciado pelos procuradores, confirma que pediu ajuda para pagar o aluguel de
contêineres com o acervo do ex-presidente, mas não vê crime no seu pedido. “A
OAS, para mim, deveria inclusive reivindicar a Lei Rouanet, porque está fazendo
um pagamento para manter um bem cultural do povo brasileiro”, disse Okamotto.
As vantagens indevidas embolsadas por Lula
extrapolam 3,7 milhões de reais, segundo estimativas dos investigadores. Entre
2011 e 2014, o Instituto Lula e a L.I.L.S. Palestras, Eventos e Publicações,
empresa de palestras do ex-presidente, receberam mais de 55 milhões de reais,
sendo mais de 30 milhões de reais de empreiteiras envolvidas no petrolão. Desse
valor, mais de 7,5 milhões de reais foram transferidos para o ex-presidente,
cujo patrimônio saltou de 1,9 milhões de reais, em 2010, para 8,8 milhões de
reais, em 2015. Isso, no entanto, não consta da denúncia sob a forma de
acusação, pois ainda está sob investigação.
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