Blog analisa o 'vox populismo' petista. Veja resumão
Por Felipe
Moura Brasil, 16/08/2016,
www.veja.com.br
1.
No dia 17 de abril, durante a cobertura dos
discursos que antecederam a aprovação pela Câmara do prosseguimento do processo
de impeachment de Dilma Rousseff, apontei no Twitter a manipulação que o
deputado Afonso Florence (PT-BA) estava fazendo do resultado de uma aparente
pesquisa do instituto Vox Populi em sua tentativa de convencer os demais
deputados a votar contra o afastamento da petista:
Felipe Moura
Brasil
Florence cita 58% contra
impeachment no Vox Populi. MENTIRA. 58% só acham que não soluciona problemas do
país, mas 57% são a favor. PT mente.
2.
No dia 5 de agosto, o site petista Brasil 247,
editado pelo “suposto jornalista” (nas palavras do juiz Sergio
Moro) Leonardo Attuch, acusado de ter recebido R$ 120 mil do lobista do
petrolão Milton Pascowitch por determinação do ex-tesoureiro do PT atualmente
preso João Vaccari Neto, destacou a seguinte manchete:
“Vox: 79% dos brasileiros defendem o Fora, Temer”.
Na verdade, a aparente pesquisa do instituto
favorito dos petistas encomendada pela revista Carta Capital, cujo editor é pautado por Lula (como
ficou evidenciado em escuta telefônica da Lava Jato e este blog destacou em
primeira mão),
revelou apenas que 61% dos supostos brasileiros entrevistados querem novas
eleições e 18% defendem que Dilma retorne e conclua seu mandato.
Somando esses dois números, o famigerado Brasil 171
tenta passar a impressão que 79% dos brasileiros querem o ‘Fora, Temer’ da
mesma forma rancorosa que o PT, embora nenhum deles tenha respondido com
base nesse slogan político e o apoio à volta de Dilma tenha
caído de 21% para 18% em todo o país. Uma manchete bem menos
imprecisa, portanto, seria:
“Vox: 82% dos brasileiros defendem o Fora, Dilma”.
Mas aí não seria o Brasil 171, claro. Nem o Vox
Populi, que traz em seu currículo o erro grotesco no resultado da eleição
de 2010 por 22,4 milhões de votos.
3.
Curiosamente, nesta terça, 16 de agosto, o Vox
Populi foi um dos alvos da 6ª fase da Operação Acrônimo, deflagrada pela Polícia
Federal, que investiga o esquema de tráfico de influência para liberação
de empréstimos do BNDES.
De acordo com a PF, os recursos do banco público
para uma obra de construção do aeroporto Catarina, em São Roque, na Região
Metropolitana de Sorocaba, foram liberados mediante pagamento de campanha pela
empreiteira JHFS para Fernando Pimentel (PT), governador de Minas Gerais.
A instituição encarregada de receber o
pagamento em lugar do petista foi justamente o Vox Populi, segundo as
investigações turbinadas pelo acordo de delação premiada fechado com
o empresário Benedito Oliveira Neto, o Bené, apontado como operador de
Pimentel e responsável por essas transações financeiras.
A Lava Jato já havia descoberto que a
empreiteira Andrade Gutierrez pagou R$ 15 milhões para o Vox Populi fazer
pesquisas para a campanha de Dilma – os “trackings” regulares
comprados pelo PT para uso interno. Na contabilidade oficial, no
entanto, o instituto recebeu apenas R$ 1,4 milhão.
4.
O dono do Vox Populi é Marcos Coimbra,
não por acaso também colunista da Carta Capital.
Em janeiro, no sintomático artigo “Impeachment sem
força” (imagine se tivesse, hein…), Coimbra frisou preventivamente
que “apenas 24% dos entrevistados disseram manter o mesmo elevado interesse do
início da Lava Jato, taxa idêntica àquela dos que ‘não têm qualquer interesse
pelo assunto e nunca tiveram’”.
Só faltou o militante dizer se já sabia do
interesse da Lava Jato e da Acrônimo nos negócios dele (e se previa que seu
apartamento seria alvo de mandado de busca e apreensão, como
ocorreu nesta terça).
5.
O uso de supostas pesquisas de institutos próprios
ou parceiros para legitimar um discurso político embusteiro é expediente comum
entre (Vox) populistas de qualquer espécie.
Mas nada diz mais sobre a natureza do PT nessa
história do que a sua capacidade de distorcer pesquisas até do instituto
suspeito de lavar propina para o próprio partido.
Não há crime nem mentira que não possam ser
turbinados em função de um projeto criminoso de poder.
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