Sem eles, ela poderia ficar até
2018. Aí nem Deus se lembraria de ter piedade de nós porque o Senhor não era
nada paciente com gente estúpida. Leiam lá no Velho Testamento
Por Reinaldo
Azevedo, 30/08/2016,
www.veja.com.br
Previa-se um eventual embate agressivo
entre Dilma Rousseff e os senadores favoráveis ao impeachment. Felizmente, não
aconteceu. Os questionamentos foram respeitosos e, admita-se, na forma, a
Afastada soube se comportar. Não que faltassem esgares de mau humor e um
movimentar ou congelar de sobrancelhas nem sempre amistosos. Mas, em regra, a
presidente se conteve em seu dia final. Pois é…
Dilma poderia ter se limitado a ler
aquela carta patética, eivada de mentiras sobre o passado, o presente e o
futuro, mas, vá lá, dotada de alguma unidade. Com muita distração e alguma
abstração, talvez a gente até se visse tentando a enxergar ali a figura de uma
resistente. Mas quê… Houve depois a fase das perguntas e das respostas. Aí a
presidente enfiou o pé na jaca.
É espantoso que ela tenha sido eleita
presidente da República. Mais espantoso ainda é que tenha sido reeleita. Ao
acompanhar algumas de suas respostas, fiquei tentado a ser grato aos ladrões do
PT. Ao prestar atenção a certas coisas que ela dizia, pensei, num momento
tresloucado, em ser grato também a Dilma por ela ter cometido crime de
responsabilidade. Deus do céu! E se os petistas fossem honestos? E se Dilma não
tivesse atentado contra a Lei Orçamentária? Teríamos de ficar com ela até 2018.
E aí só restaria Deus para ter piedade de nós. E acho que, ainda assim, ele não
iria querer se meter.
A Dilma que respondeu aos
questionamentos dos senadores desmentiu aquela falsa humilde que chegou a
admitir alguns eventuais erros. Ao entrar no detalhe de suas escolhas,
percebemos que a mulher não reconhece falhas em seu governo. Sim, ela está
convicta de que só está caindo por causa de suas qualidades.
Depois de fazer digressões sobre a
natureza internacional da crise, foi indagada por Janaina Paschoal, que compõe
a acusação, sobre a realidade econômica em outros países da América Latina. Por
que a crise se mostrava especialmente severa com o Brasil? A indagação
subjacente, pois, é se o desarranjo da economia não decorria, então, de
escolhas feitas pelo governo, pela própria Dilma.
E aí assistimos a um momento fabuloso,
só equiparável, em indigência técnica, à resposta dada por Luiz Gonzaga
Belluzzo, testemunha de defesa, convertida em informante, segundo quem não
existe operação de crédito quando um banco público arca com o custo de política
de governo sem o devido repasse do Tesouro. Para ele, isso é mera questão
fiscal. Confrontado com o que está da Lei de Responsabilidade Fiscal, ele
deixou claro que discorda da dita-cuja. Aí fica fácil. Mas voltemos a Dilma.
De modo incrível, contra todas as
evidências, contra tudo o que está mais do que claro, comprovado, explícito,
ela acredita que o descontrole das contas públicas derivou da recessão, não a
recessão do descontrole das contas públicas. É um troço fabuloso. Chega a ser
assombroso.
Repetiu no Senado uma asnice que já
havia proferido em seu discurso da ONU em setembro de 2015, conforme apontei neste blog
então. Reescrevo agora o que escrevi naquele post:
“O tal superciclo das commodities
terminou em meados de 2012. Em vez de tomar as medidas prudenciais, esta
senhora enfiou o pé nos gastos públicos e manteve o modelo ancorado no consumo
do tempo das commodities gordas. Para lograr tal intento, aplicou anabolizantes
na economia como desonerações, isenções, estímulo ao crédito. Os que anteviam
que o ‘modelo’ naufragaria foram tratados como inimigos do Brasil.”
Pois acreditem: ela não mudou seu
diagnóstico. Ela insistiu na bobagem.
Aí, meus caros não têm cura. Isso
embute um arrependimento da governanta que se despede. No fim das contas, ela
lamenta algumas medidas de contenção de gastos que chegou a adotar, quando já
não surtiam mais efeitos.
O que Dilma disse aos senadores, em
suma, é que ela quer voltar para propor eleições. Caso isso não dê certo, ela
tem outra ideia: adotar a mesma política econômica que nos conduziu ao abismo.
Ah, sim: à tarde, ela encontrou tempo
ainda para censurar as economias dos EUA e da União Européia. Ela não só
acredita que esteve sempre certa. Ela também se acha um modelo para o mundo.
Sim! Sou grato ao crime de
responsabilidade de Dilma e aos ladrões do PT. Sem eles, ela poderia ficar até
2018. Aí nem Deus se lembraria de ter piedade de nós porque o Senhor não era
nada paciente com gente estúpida. Leiam lá no Velho Testamento.
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