Os petistas ora criticam uma
suposta perseguição da operação, ora denunciam a suposta vontade do PMDB de
acabar com ela
Por Sergio
Praça, 28/04/2016,
www.veja.com.br
É animadora a notícia de que Michel Temer descarta
o advogado criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira para seu ministério.
Mariz havia sido cogitado para o Ministério da Justiça. Mas perdeu a chance
após críticas na imprensa sobre suas ressalvas com relação à Operação
Lava Jato.
Talvez seja otimismo demais afirmar que a Lava Jato
é irreversível. Sem dúvida a operação já fez história no combate à corrupção no
Brasil, mas ainda há peixes grandes a colocar no aquário: Eduardo Cunha (PMDB),
Renan Calheiros (PMDB) e blogueiros pagos com dinheiro desviado da Petrobras
são alguns exemplos. Para que isso aconteça, a Polícia Federal e o Judiciário precisam
de apoio político contínuo.
PMDB, PP e PT desejam que a Operação Lava Jato não
tivesse começado? Sem dúvida. Vários de seus integrantes estão na cadeia (ou
bem próximos dela) por conta das investigações conduzidas de modo independente
pela Polícia Federal e Ministério Público Federal.
Mas não há, por enquanto, elementos suficientes
para imputar ao PMDB iniciativas para frear a Lava Jato. Quanto ao PT, há sim.
São pelo menos três: a pressão para que um ministro do STJ ajudasse a soltar
Marcelo Odebrecht,
Em sua delação, o senador Delcídio do Amaral (PT) revelou que a presidente Dilma Rousseff e o hoje
Advogado-Geral da União José Eduardo Cardozo pressionaram-no para pleitear que
Marcelo Navarro, ministro do STJ, ajudasse a soltar os empreiteiros Marcelo
Odebrecht e Otávio Azevedo. (Navarro foi voto vencido.)
As escutas telefônicas autorizadas pelo juiz Sérgio
Moro mostram o ex-presidente Lula querendo contato com Rosa Weber, ministra do
Supremo Tribunal Federal. Rosa foi a relatora do pedido do ex-presidente para
ser nomeado ministro da Casa Civil. Em conversa com seu advogado Roberto Teixeira, Lula sugere que
Jaques Wagner fale com a presidente Dilma sobre a ministra do STF. Alguns dias
depois, Wagner ouve o pedido do próprio ex-presidente. (Rosa Weber indeferiu o
pleito de Lula.)
Por fim, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão
iniciou sua brevíssima gestão criticando “vazamentos” da Polícia Federal,
prometendo punição aos delegados. Teve que voltar atrás depois de pressão da
imprensa e da burocracia.
Não param juntas de pé, portanto, afirmações como a
do deputado federal Afonso Florence (PT-BA), para quem a Operação Lava Jato é “ilegal e política” e a de militantes e dirigentes do PT para quem “o PMDB quer acabar com
a Lava Jato”.
Ora, se a operação é ilegal e persegue o partido,
os petistas deveriam agradecer qualquer esforço (ainda não visto) do
vice-presidente Michel Temer (PMDB) nesse sentido.
Uma pesquisa da Ipsos obtida com exclusividade
mostra que apenas 38% dos brasileiros (eram 46% em janeiro) acreditam que a
Lava Jato “vai acabar em pizza”. E 75% acham hoje que a operação “pode ajudar a
transformar o Brasil em um país sério”. Eram 53% em janeiro. Além disso, 66%
dos respondentes acham que a Lava Jato “está investigando todos os partidos”.
Muitos petistas podem discordar, mas a verdade é
esta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário