Quando ex-presidente ensaiava se apresentar como o defensor dos
direitos trabalhistas e previdenciários, toma na testa a acusação de chefe de
uma organização criminosa
Por Reinaldo
Azevedo, 15/09/2016,
www.veja.com.br
Sim, o comando do PT vibrou com o show
estrelado por Deltan Dallagnol nesta quarta-feira. E, como sabe todo jornalista
bem-informado a respeito do que vai nos bastidores da Lava-Jato, parte da
força-tarefa sentiu, depois de alguns minutos de iniciado o evento, que o
espetáculo pode custar muito caro. Investigadores sensatos consideram, e eu
concordo, que se tratou de um tiro no pé. Mas o PT e a defesa de Lula vibraram
com o quê? Com as conseqüências imediatas para o partido? Claro que não!
No curto prazo, as conseqüências são
obviamente negativas — se é que há espaço para a reputação do partido cair
ainda mais. As eleições municipais já seriam um desastre antes desta
quarta. Depois dela… Por mais que os candidatos do PT escondam a estrela, seus
adversários se encarregam de recuperá-la. No momento em que Lula ameaçava alçar
vôo por aí e em que os protestos de rua ensaiavam ganhar algumas adesões fora
do petismo-esquerdismo, Dallagnol estampa aos olhos de todos o organograma em
que o grande líder figura como o chefe da organização criminosa — o antigo
chefe de quadrilha.
Por mais que Lula pretenda, mais uma
vez, usar a acusação para posar de vítima, idiota não é. Sabe o peso que isso
tem, especialmente quando o seu algoz assumia as vestes de uma espécie de anjo
vingador, a dizer com ar impoluto e a retórica inflamada dos justos:
“propinocracia, propinocracia, propinocracia”. E, segundo a espada vingadora, o
chefão petista é o general da bandalheira.
Do ponto de vista estritamente
partidário e eleitoral, isso empurra Lula ainda mais para o gueto. Ele já tinha
decidido que correria o país a falar em nome dos direitos trabalhistas, que
estariam sendo ameaçados por Temer. É mentira, claro! Mas desde quando os
petistas precisam da verdade para fazer política? Ele já estava azeitando o
discurso contra a reforma da Previdência. A pregação contra as privatizações
também já estava na ponta da língua.
Pois é… Terá de haver um recuo nisso
tudo. Um problema bem mais alto se alevanta. Lula não terá muito como se ocupar
de criar embaraços para o governo Temer. Ele tem agora de cuidar da sua
reputação e da sua defesa. O chefe de uma organização criminosa, segundo o
Ministério Público Federal, vê comprometida boa parte da pouca reputação
positiva que conservava. A partir de agora, seus juízos estão contaminados por
uma acusação grave. É bom lembrar que o Ministério Público Federal não o coloca
apenas como o centro irradiador da roubalheira do partido. Ele também é acusado
de se beneficiar pessoalmente das safadezas apontadas.
E o que o PT comemora? Obviamente, não
são as dificuldades novas. Como já afirmei aqui, o que se viu na decisão
precipitada da Lava-Jato foi uma vereda para a defesa. Seus advogados, a partir
de agora, estarão menos empenhados em jogar para a galera — isso que fique para
o partido — do que em apontar as fragilidades técnicas da acusação nos
tribunais.
Do ponto de vista político imediato, é
claro que o partido está às voltas com um novo desastre. Qual será o caminho?
Fica para outro texto.
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