Entre os 19 senadores que votaram pela cassação,
mas não pela perda dos direitos políticos, 10 são do PMDB; a maioria é da
esfera de influência de Renan
Por: Reinaldo
Azevedo, 01/09/2016,
www.veja.com.br
Que diabos, afinal de contas, aconteceu
para 61 senadores votarem no impeachment de Dilma, mas só 42,19 a menos, em
favor também da sua inabilitação para a vida pública? Eram necessários 54.
Ficaram faltando 12. Dos 19, oito peemedebistas resolveram manter os direitos
políticos da impichada, a saber: Renan Calheiros (AL), Edison Lobão (MA),
Raimundo Lira (PB), Eduardo Braga (AM), Hélio José (DF), Jader Barbalho (PA),
Rose de Freitas (ES) e João Alberto Souza (MA). Houve duas abstenções: Eunício
Oliveira (CE), líder do partido na Casa, e Valdir Raupp (RO).
Atenção, a maioria desses 10
peemedebistas que deram uma mãozinha para Dilma é constituída de peixes
graúdos. Será que o próprio presidente Michel Temer endossou a patuscada? Não!
Sigamos. Já volto ao ponto. O DEM também deu a sua ligeira contribuição, com a
abstenção de Maria do Carmo (SE). Os outros votos exóticos se distribuem em
quatro partidos: Telmário Motta (AP) e Acir Gurgacz (RO), ambos do PDT;
Cristovam Buarque (PPS-DF); Antônio Valadares (SE) e Roberto Rocha (MA), ambos
do PSB, e Cidinho Santos (MT), Vicentinho Alves (TO) e Wellington Fagundes
(MT), os três do PR.
O que aconteceu? Renan Calheiros,
presidente do Senado, e Eunício Oliveira, líder do PMDB na Casa, conspiraram
com Ricardo Lewandowski, que preside o Supremo, contra a Constituição.
Logo depois da votação, Renan viajou
para a China com o presidente Michel Temer. Teria sido um jogo ensaiado? Não!
Foi só uma demonstração de força do enroscado presidente do Senado. Como
esquecer que, em dezembro do ano passado, os dois trocaram farpas publicamente?
Referindo-se ao então vice-presidente, o senador afirmou que o PMDB não tinha
dono. Temer respondeu que o partido não tinha dono nem coronéis. O político
alagoano só deixou de ser um esteio de Dilma no Senado quando percebeu que ela
já não tinha mais saída.
A articulação foi comandada
pessoalmente por Renan, cuja influência se estende além do seu partido. Os
únicos que não são, vamos dizer, da sua turma, entre os 19, são Cristovam
Buarque e Acir Gurgacz.
E por que não se pode atribuir ao
espírito conciliador de Temer tal resultado? Porque não é do interesse do
presidente. A verdade é que o Palácio do Planalto, em especial o chefe da Casa
Civil, Eliseu Padilha, tomou a chamada “bola nas costas”, como se diz no
futebol. Ou levou um chapéu.
Tivesse se cumprido a Constituição,
que, entendo, foi fraudada por Ricardo Lewandowski, as ações que tramitam no
TSE contra a chapa Dilma -Temer perderiam a razão de ser. Agora não mais.
Afinal, um dos objetos do que se julga lá remanesce: a inelegibilidade de
Dilma, que decorre da eventual cassação da chapa, o que pode colher Temer. A
conspirata da qual Lewandowski participou só torna mais enrolado o cipoal
jurídico.
Renan, o “companheiro” da viagem à
China, deu uma demonstração evidente de poder. E quis dizer a Temer que, no
Senado, a governabilidade tem de passar, sim, por ele. O resultado provocou,
por motivos compreensíveis, um profundo desconforto no PSDB.
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