Ministro participou de
conversações prévias de políticos que buscavam livrar Dilma da inabilitação
para cargos públicos
Por Reinaldo
Azevedo, 02/09/2016,
www.veja.com.br
Abaixo, escrevo um post sobre a
entrevista que um tal Luiz Fernando Bandeira, secretário-geral do Senado,
concede a Leandro Colón, da Folha. O rapaz afirma que foi sua a ideia de fatiar
a Constituição, separando perda de mandato de inabilitação. Mais: sugere que Ricardo
Lewandowski, presidente do Supremo, não sabia de nada e decidiu tudo na hora.
Ocorre que a apuração de Colón, que integra a categoria dos jornalistas sérios,
evidencia que se trata de uma mentira. Leiam primeiro mais um trecho da
entrevista de Bandeira:
Quando esse destaque surgiu?
Na abertura da sessão desta quarta,
apareceu o requerimento do senador Humberto Costa (PT-PE) apresentando o
destaque. Neste momento o ministro Lewandowski virou para mim e disse: ‘Eu
posso aceitar isso?’. Eu mostrei para ele o parecer (da consultoria
legislativa), ele leu o regimento interno, as disposições aplicáveis e entendeu
que era o caso de admitir. Acho muito importante salientar que a própria lei do
impeachment, na sua redação original, lá em 1950, previa primeiro votar a perda
do cargo e, depois, a inabilitação.
Então o presidente Lewandowski não chegou
à sessão com decisão tomada?
Tenho certeza que foi tomada na hora. (…)
Agora leiam o que apurou Colón. Volto
em seguida:
A estratégia de fatiar o julgamento de Dilma
Rousseff vinha sendo discutida há duas semanas pela bancada do PT no Senado.
Além disso, durante a sessão de quarta
(31), o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), aconselhou o presidente
do STF, Ricardo Lewandowski, a aceitar o pedido apresentado de última hora pelo
PT.
Segundo a Folha apurou, quando estava ao
lado do ministro na Mesa do plenário, Renan disse, em rápidas e discretas
palavras, que, na sua opinião, Lewandowski poderia decidir como presidente do
plenário do Senado, soberano para o assunto, e não como magistrado do STF.
A articulação contou também com o apoio
da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), aliada e ex-ministra de Dilma.
O assunto foi levantado pela primeira
vez numa reunião de líderes no dia 17 de agosto. Nela estavam Lewandowski,
Renan e senadores contra e a favor do impeachment.
No encontro, o senador Lindbergh Farias
(PT-RJ) perguntou se o próprio Lewandowski poderia dividir o quesito do
julgamento a ser votado no plenário.
A ideia dele era que o ministro
separasse perguntas sobre os crimes cometidos por Dilma e suas conseqüências,
como a inabilitação para função pública. Lewandowski teria lido trecho da
Constituição que reúne os temas num só item – ou seja, naquele momento, para
ele, seria inviável quebrar por conta própria o quesito.
Não se comentou no encontro a estratégia
apresentada pelo PT na sessão de quarta de protocolar um requerimento para
“destacar” (recortar parte do texto) e votar o trecho sobre função pública.
A possibilidade foi discutida cinco dias
depois, em 22 de agosto, quando Abreu, em visita ao presidente do STF,
questionou-o sobre o tema. Na mesma hora, Lewandowski telefonou a assessores, e
sua equipe passou a se debruçar sobre o assunto.
O PT adotou a tática de apresentar o
requerimento somente na manhã de quarta, dia da sessão que cassou Dilma,
diminuindo, assim, o tempo para contestações.
Retomo
Segundo o que vai acima, Lewandowski não apenas sabia como foi parte ativa da ação. Como se nota, houve uma espécie de condução do processo para livrar a cara da Dilma.
Bem, dizer o quê? O inciso II do Artigo
52 da Constituição — aquele mesmo cujo parágrafo único Lewandowski estuprou —
prevê impeachment de ministro do Supremo. E a lei que disciplina a questão é a mesma
1.079, que cassou o mandato de Dilma. A alínea 5 do Artigo 39 prevê impeachment
para o ministro que “proceder de modo incompatível com a honra dignidade e
decoro de suas funções”.
Acho que foi precisamente isso o que
fez Lewandowski ao se entregar a essas articulações.
Sim, eu sei: uma denúncia cairia nas
mãos de Renan Calheiros, presidente do Senado, que mandaria arquivá-la. Até
porque atuaram em parceria. Nem por isso, entendo, ela deve deixar de ser
apresentada. Trata-se de escrever direito a história.
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