Decisão esdrúxula de ministro faz dele um mero esbirro das táticas do
partido
Por Reinaldo
Azevedo, 05/09/2016,
www.veja.com.br
Ricardo Lewandowski, ainda presidente
do Supremo, deve estar muito contente com a sua obra, não é mesmo? A
manifestação relativamente robusta deste domingo, em São Paulo, que contou até
a com a participação do investigado Lindbergh Farias (PT-RJ), certamente
agregou alguns milhares depois que o preclaro, rasgando a Constituição, fatiou
o julgamento. A decisão serviu para manter os direitos políticos de Dilma
Rousseff.
Ora, para quem não conhece
suficientemente o riscado, sobrou à seguinte constatação: “Se cassam a mulher,
mas mantêm os seus direitos, então vai ver ela não cometeu o crime não é? Vai
ver existe mesmo uma arquitetura golpista…”.
O fatiamento serviu para alimentar a
mentira de que Dilma não cometeu falta nenhuma e só foi derrubada “pelo
conjunto da obra” — e não que o conjunto da obra não merecesse mesmo
derrubá-la. Ocorre que isso é mentira. Ela caiu porque cometeu crime de
responsabilidade, mas não é menos verdade que este, por si, seria incapaz de
levá-la ao impeachment. Ele foi mandado pra casa também porque destroçou a
economia do país.
É claro que o arranjo foi feito numa
combinação entre PT, Lewandowski e setores do PMDB — que forneceu 10 votos (8
contrários à inabilitação de Dilma e 2 abstenções). Acho razoável que se infira
que não havia como o presidente Michel Temer não saber. Afinal, quem é a figura
hoje mais poderosa? O presidente ou Renan Calheiros, apontado como um dos
principais operadores da maracutaia? Por que senadores serviriam a Renan, não a
Temer?
As perguntas são boas, mas, até onde
consegui saber, não há evidências de que Temer tenha participado da decisão.
Até porque haveria de se perguntar por quê. O adensamento dos protestos, dado o
novo fato, eram favas contadas, não é mesmo? Com essa nova realidade, as
esquerdas podem tentar subestimar os crimes cometidos pelo governo petista,
fazendo de conta que nunca existiram, e brincar de pobre perseguido pelo
regime.
E, como já adverti aqui, cumpre ficar
de olho em Lewandowski, sim! Afinal, José Eduardo Cardozo, em uma das ações
contra o impeachment, o havia feito a autoridade impetrada — o que o impediria
de julgar o caso mais tarde. Eis que o advogado de Dilma, do nada, retificou o
documento e excluiu o nome do ministro. Vale dizer: se ele quiser, ele pode
votar.
A gente já sabe que o homem não tem
limites, certo?
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