Em entrevista a VEJA, Mendonça Filho afirma que notas ruins são
resultado de muito marketing e pouca ação
Por Monica
Weinberg, 08/09/2016,
www.veja.com.br
Há quatro meses na cadeira de ministro da Educação,
o pernambucano José Mendonça Bezerra Filho, 50 anos, cumpriu nesta quinta-feira
a via-crúcis de seus antecessores: vir a público anunciar outra nota vermelha
para o ensino básico. A divulgação do Ideb, o termômetro oficial da qualidade na sala de aula, mediu a evolução em escolas
públicas e particulares entre 2013 e 2015 – ou a involução, no caso do ensino
médio. Deputado federal licenciado pelo DEM, Mendoncinha contou a VEJA o que
pretende fazer em sua gestão para reverter à curva.
O que pensou quando viu o monte de notas vermelhas
do Ideb?
Frustração e vergonha. É claro que um país com essa
defasagem não conseguirá dar um salto.
Muita gente celebrou os avanços nas primeiras
séries do ciclo fundamental. O senhor não?
Não. Com esse desastre, não há o que comemorar
mesmo.
Por que a educação brasileira não sai do buraco?
Na última década, as iniciativas foram mais focadas
no lado midiático e em políticas pulverizadas, que atiraram para todos os
lados. Sobrou marketing e faltou transformação social para valer.
Mas o PT criou diversos programas voltados para os
mais pobres, como o Fies e o Prouni?
Esses programas serão preservados, mas olhe o
Ciência sem Fronteiras, que enviou jovens universitários ao exterior, uma das
bandeiras petistas: dragou 3 bilhões de reais para atender 35 000 alunos — o
mesmo dinheiro que custa todo o programa de merenda escolar, que chega a 39
milhões de estudantes. Os grandes números demolem a ideia de que o foco petista
foi nos mais pobres.
A que números o senhor se refere?
Enquanto o ensino superior recebeu 30 bilhões de
reais dos cofres federais, o básico ficou com um terço disso. Faltou atenção às
escolas públicas.
Também faltou dinheiro?
Mais dinheiro sempre ajuda, mas o maior problema é
usá-lo de forma apropriada. O Ideb mostra que, infelizmente, isso não vinha acontecendo.
O que pretende mudar para livrar o Brasil do
fracasso escolar?
Um ponto estratégico é transformar o ensino médio,
hoje engessado e ineficiente. Ele precisa ser mais flexível e atraente para o
aluno.
Há chances políticas de um plano como esse, que
fere tantas corporações, passar no Congresso?
Acredito nisso e estou trabalhando por isso.
O Enem acompanhará essas mudanças?
Nesta edição fica tudo igual. Mas haverá mudanças
no Enem, que serão conseqüência da transformação do próprio ensino médio.
Muitas escolas e até redes de ensino não levam o
Ideb em consideração. Será que agora servirá de alerta?
Acho que a educação está virando um tema para os
brasileiros, que já fazem pressão por avanços. Espero que entre de uma vez por
todas na agenda dos futuros prefeitos.
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