Para retomar o crescimento
econômico, o Brasil precisa de uma mudança de mentalidade – e isso inclui
expor-se mais à concorrência e depender menos dos favores do Estado
Por Augusto
Nunes, 20/09/2016,
www.veja.com.br
Texto de Luiz Felipe d’Ávila
O trágico legado do governo petista – a maior
depressão econômica da história do país, 12 milhões de desempregados e a queda
de mais de 9% da renda per capita em apenas um ano (2015/2016) – retrata a
combinação entre o capitalismo de compadrio com o aparelhamento do Estado e a
corrupção que dilapidou os cofres públicos e a institucionalidade por um
projeto de poder. Mas a crise oferece oportunidade única para enfrentarmos os
desafios que condenam o Brasil ao baixo crescimento. Poucos países escaparam da
armadilha da renda média e se tornaram nações ricas, cuja renda per capita
supera 25.000 dólares. O Brasil pode lográ-lo a médio prazo.
O efeito exponencial do crescimento econômico é
pouco intuitivo para a maioria das pessoas. Assim, o primeiro desafio será
esclarecer como ele afeta nosso bolso e padrão de vida. Uma nação que cresce 1%
ao ano dobrará a renda em 69 anos, mas o fará em apenas oito anos se crescer 8%
ao ano. O impacto da taxa de crescimento sobre a renda individual é dramático.
Se crescermos 1% ao ano, a renda dos nossos filhos será 30% maior que a nossa e
70% maior que a dos seus avós. Se o crescimento do país for de 8% ao ano, a
renda dos filhos será sete vezes maior que a dos pais e 55 vezes maior que a
dos avós. Portanto, as escolhas políticas dos próximos meses determinarão o
ritmo do crescimento econômico e da renda das novas gerações.
A economia cresce pouco porque nossos valores,
escolhas e crenças levaram a políticas perpetuadoras do intervencionismo
estatal e do protecionismo que nos tornaram uma das economias mais fechadas do
mundo. Retomar o crescimento tem de ser a agenda prioritária da sociedade, e
não apenas uma pauta do governo. Essa agenda só avançará como políticas
públicas se mudarmos de atitude e mentalidade. A mudança deve começar pelo
setor privado. Os empresários defensores do liberalismo são os mesmos que vão a
Brasília defender medidas protecionistas, isenção tributária e reserva de
mercado. Chegou a hora de renunciar à hipocrisia, expor-se mais à concorrência
e depender menos dos favores do Estado.
O governo e o Congresso terão de aprovar medidas
impopulares. O teto para os gastos do governo, a reforma previdenciária e o
equilíbrio das finanças públicas são imprescindíveis para reavivar a confiança
na economia. O ganho de produtividade, fundamental na retomada do crescimento,
demandará a flexibilização das leis trabalhistas e a simplificação de regras
tributárias. Já abertura da economia, o aumento das exportações e a integração
do Brasil às cadeias globais de produção serão medidas essenciais para o
aumento da competitividade.
Estados e municípios terão dois grandes desafios:
sanar as finanças públicas e atrair investimentos privados. Nesse aspecto, o
Centro de Liderança Pública (CLP) divulga neste mês de setembro o Ranking de
Competitividade dos Estados 2016, um instrumento que serve como orientação de
prioridades e estratégias a serem adotadas por executivos estaduais. Santa
Catarina é um bom exemplo de um Estado que utilizou o ranking para criar políticas
de impacto. Em 2013, o governo estadual lançou o programa Gestão para a Nova
Economia. Foram selecionados sete municípios para participar do programa, que
tinha dois objetivos: primeiro, sanar as contas dos municípios por meio do
equilíbrio fiscal; segundo, elaborar um plano de crescimento, baseado na
vocação econômica da cidade. O projeto de equilíbrio fiscal aumentou em 77,4
milhões de reais a receita dos municípios e o programa tornou-se um exemplo de
como Estados e municípios podem utilizar os indicadores do Ranking de
Competitividade para fazer bons diagnósticos e criar um plano de ação voltado
para estimular o crescimento e atrair investimento.
Há uma janela de oportunidade para cidades e
Estados atraírem investimentos. Dinheiro para isso não falta no mundo. O que
falta é determinação política para oferecer mais transparência, celeridade e
segurança jurídica aos investidores. A crise obrigará a definir os valores que
queremos preservar e aqueles que precisamos descartar para o Brasil prosperar e
competir.
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