A introdução, mostrando Lula como chefe da camorra,
mentor do bando e beneficiário principal do esquema de corrupção montado no
governo era só um aperitivo do que ainda está por vir na investigação em curso
Por Augusto
Nunes, 15/09/2016,
www.veja.com.br
Texto de Vlady Oliver
Um belo dia, descendo a serra na Via Anchieta, fui
testemunha de um capotamento. O carrinho ficou lá, fumegando, com as pernas pro
ar, enquanto vários de nós, motoristas, procurávamos lugares seguros para
estacionar e socorrer a família ainda dentro. Chamou-me a atenção o fato do
cachorrinho da família ter sido arremessado de dentro do carro e ter ficado
correndo desesperado em volta do acidente, tentando entrar no veículo de volta.
Todos perceberam o desespero do bichinho, mas à hora era de solidariedade e
socorro às vítimas.
Porque me lembrei dessa passagem tão vivamente por
aqui? Porque o Brasil é um país esquisito. Sou um designer e, como tal, entendi
perfeitamente a função do “desenho” feito pela equipe de Deltan Dallagnol onde,
numa espécie de “ponto de magia negra”, todas as flechas se dirigem para o
Lula. É didático e explicativo. Mais ainda: é audiovisual. O Brasil comum
precisa deste tipo de ajuda visual para perceber certas obviedades que tentam
nos fazer engolir a seco por aqui.
No entanto, como o cachorrinho que quer voltar ao
carro capotado sem entender a gravidade do ocorrido, hordas de “progressistas”
pedem que a equipe da Lava Jato contrate imediatamente um designer para fazer
seus powerpoints mais bonitos da próxima vez, declaradamente desqualificando o
teor da denúncia que os quadros apresentam. É impressionante o trabalho de
desconstrução da verdade que se emprega por aqui. A coisa virou meme. Chacota.
O maior crime de que se tem notícia por aqui não passa de um gráfico mal feito.
Um cachorro tentando pular a janela de volta.
É claro que a confusão entre a forma e o conteúdo é
mais um dos artifícios com que jogam estes criminosos para dissimular seus
crimes. Dizem que o Mensalão foi uma quadrilha sem chefe para prender, e agora
o petrolão é um chefe sem formação de quadrilha para enquadrar, desqualificando
a denúncia. Pera lá. O que está provado – o apartamento e as “tralhas”
guardadas em favor do chefe são irrefutáveis, meus caros. Era isso, se não me
engano, que a equipe se dispunha a denunciar naquele momento. E o fez
claramente.
A introdução, mostrando Lula como chefe da camorra,
mentor do bando e beneficiário principal do esquema de corrupção montado no
governo era só um aperitivo do que ainda está por vir na investigação em curso.
Sabe a equipe da Lava Jato que eles vão ter de enfrentar uma turma poderosa de
“desconstrutores da verdade”, incluindo aí figuras indisfarçáveis do nosso
jornalismo de tanga.
Desqualificar o trabalho feito pela Lava Jato,
assim como desqualificar o trabalho feito até aqui por Michel Temer, é a ordem
do dia, a ordem de comando e a ordem unida dessa quadrilha encantadora de
cobras. É o que sobrou, diante das evidências escancaradas de que são um bando
de bandidos dos nossos combalidos e rapinados cofres públicos. Pois eu insisto:
frear essa vigarice passa inequivocamente por derrubar a esquerda toda do
poder. Toda ela, sem exceções. Mostrar claramente ao cachorro que o carro
capotou. Não adianta ele querer entrar de novo pela janela do veículo, abanando
o rabinho insolente. Seu dono está morto.
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