Antes acabavam em pizza. Agora, segundo investigações da Lava Jato,
servem para políticos favorecerem empresários
Por Sergio
Praça, 04/07/2016,
www.veja.com.br
É difícil ser pessimista com o combate à corrupção
no Brasil desde 2014. A Operação Lava Jato, aparentemente sem fim, tem
desvendado esquemas complexos e, graças a novas leis, ao trabalho do juiz
Sérgio Moro e decisões do Supremo Tribunal Federal, os responsáveis têm sido
punidos. O poderoso empreiteiro Marcelo Odebrecht está há mais de um ano na
cadeia.
Mas entre tantas instituições de combate à
corrupção como a Controladoria-Geral da União (CGU), Judiciário, Ministério
Público Federal, Polícia Federal e Tribunal de Contas da União, a ausência de
comissões parlamentares de inquérito eficazes é conspícua.
Aliás, pior do que ausentes, as CPIs têm sido
desmascaradas como instâncias de chantagem a empresários e manipulação de dados
para fins corruptos. Até onde consegui pesquisar, a CPI do Banestado, em 2004,
foi a primeira a registrar suspeitas desse tipo de atitude dos parlamentares.
Um vereador de São Paulo foi preso ao achacar empresários supostamente respaldados por integrantes da
CPI, entre eles o relator (José Mentor, PT) e o presidente (Antero Paes de
Barros, PSDB). Nada foi provado até agora, apesar de as histórias serem contadas e recontadas em Brasília.
Com todas as novidades da Lava Jato sobre as
relações ilegais entre doleiros e políticos, a postura atribuída a esses
parlamentares não surpreende.
A Lava Jato trouxe à tona o principal caso, até
agora, de CPI usada para proteção de criminosos. Trata-se do falecido senador
Sérgio Guerra, ex-presidente nacional do PSDB. Titular da CPI da Petrobras em 2009, Guerra foi flagrado conversando com
Paulo Roberto Costa, então diretor de Refino e Abastecimento da empresa, o
deputado Eduardo da Fonte (PP) e o lobista Fernando Baiano – além de dois
representantes de empreiteiras. (Leia aqui a íntegra da conversa.)
O combinado era que Guerra evitasse que a CPI
tratasse das obras da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. “Tenho horror a
CPI”, disse o então senador. “Vamos fazer uma discussão genérica.” Paulo
Roberto Costa não foi convocado pela comissão e, de acordo com o
Ministério Público Federal, Guerra teria recebido R$ 10 milhões em troca.
Durante a conversa, Sérgio Guerra diz que “[ouviu
falar que] a refinaria de vocês está dez por cento acima do preço”. De fato, o
Tribunal de Contas da União apontou graves irregularidades na obra. Em entrevista ao “Roda
Viva” em
abril de 2013, um ano antes de morrer, Guerra disse que na política “falta um
compromisso mais seguro entre o discurso e a prática”. Em seus contatos com
empreiteiros, o presidente nacional do PSDB parece ter mantido sua palavra.
O ex-senador Delcídio do Amaral (PT), que presidiu
a CPI dos Correios (uma das comissões que investigou o “mensalão”), afirma que
o senador Aécio Neves (PSDB) teria pressionado para postergar a quebra do sigilo bancário do
Banco Rural pela comissão, e assim teria tido tempo para que dados
comprometedores para o PSDB fossem disfarçados. Ao contrário de Sérgio Guerra,
não há provas contundentes para além do depoimento de Delcídio que incriminem
Aécio.
Se comissões parlamentares de inquérito são instrumentos da minoria parlamentar – ou seja, da oposição – para
revelar desmandos do governo, por que elas estariam sendo usadas para outros
fins? Uma hipótese é que a competição virtuosa entre instituições de combate à
corrupção elimine a possibilidade de deputados e senadores serem vistos como
combatentes da corrupção alheia. Afinal, a CPI pode apenas fazer recomendações
de punições ao Ministério Público Federal. Atualmente os brasileiros esperam
não apenas discursos e investigações, mas também punição dos corruptos e
corruptores. E isso só a Justiça pode dar.
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