Os auditores da Receita
concluíram que houve simulação de prestação de serviços, com o objetivo de
desviar o dinheiro do instituto Lula para as mãos dos Lula da Silva
Por Augusto
Nunes, 19/09/2016,
www.veja.com.br
Editorial do Estadão
O Instituto Lula se apresenta como uma “instituição
sem fins lucrativos que tem como objetivos principais compartilhar experiências
de políticas públicas de combate à fome e à pobreza com os países da África,
promover a integração da América Latina e ajudar a fazer o resgate da história
da luta pela democracia no Brasil”. O ex-presidente é livre para vender seu
peixe como achar melhor, mas a coisa muda de figura quando se fica sabendo que
o instituto goza de benefícios fiscais por se apresentar como entidade sem fins
lucrativos, mas não cumpre os requisitos que devem justificar essa condição,
transformando a isenção em apropriação ilegal de recursos de natureza pública.
Foi por esse motivo – desvio de finalidade – que a
Receita Federal decidiu suspender a isenção tributária do Instituto Lula.
Segundo o jornal O Globo, os auditores do Fisco entenderam que o
instituto foi usado pela empresa de palestras de Lula, a LILS (Luiz Inácio Lula
da Silva), configurando exploração comercial de uma entidade que não deveria
ter fins lucrativos.
Além disso, conforme o jornal Folha de S.Paulo,
o instituto repassou R$ 1,3 milhão para a empresa G4 Entretenimento, cujos
donos são Fábio Luís Lula da Silva, o “Lulinha”, e Fernando Bittar, dono formal
do sítio de Atibaia que, segundo suspeita a Lava Jato, pertenceria ao chefão
petista. Os auditores da Receita concluíram que houve simulação de prestação de
serviços, com o objetivo de desviar o dinheiro do instituto para as mãos dos
Lula da Silva.
A investigação da Receita Federal abrangeu o
período de 2011, quando o instituto foi fundado, a 2014. Por ora, somente a
isenção tributária de 2011 será suspensa, obrigando a entidade a recolher os
impostos devidos. Para os anos restantes, a Receita pretende aprofundar a
investigação, mas auditores dizem que já há provas de desvio de finalidade
também nesse intervalo. É por isso que não se sabe ainda qual será o valor
total da cobrança do Fisco – fala-se de algo entre R$ 8 milhões e R$ 12
milhões. E o presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais, Kleber
Cabral, disse que a Receita aplicará ainda uma multa de até 150%, porque a
fraude foi intencional.
Não é de hoje que se suspeita da verdadeira
finalidade do Instituto Lula e da LILS, duas entidades que estão na mira da
Lava Jato. Entre 2011 e 2014, o Instituto recebeu R$ 18 milhões das
empreiteiras enroladas no petrolão e terá de se explicar à Receita. Segundo a
Folha, o presidente do instituto, Paulo Okamotto, disse à Receita que a
ideia das empreiteiras era patrocinar projetos sociais nos países africanos nos
quais têm obras. Quando os auditores quiseram saber por que razão nenhum desses
projetos se concretizou, Okamotto disse que a prioridade, por ora, é organizar
o acervo de Lula.
O caso da LILS é semelhante. A empresa de palestras
recebeu volumosos recursos de grandes empresas, mas raros são os registros
desses eventos. A Lava Jato e a Receita suspeitam que as palestras tiveram uma
serventia bem menos nobre do que a de levar ao mundo a sabedoria de Lula. Além
disso, o Fisco suspeita que as empresas que contrataram a LILS fizeram o
pagamento, na verdade, ao Instituto Lula, caracterizando confusão patrimonial –
uma forma de evitar o recolhimento de impostos, já que o Instituto Lula é
isento.
É por esses motivos que a Receita está há tempos
nos calcanhares de Lula, a ponto de o ex-presidente, em março passado, ter
reclamado duramente com o então ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Em
telefonema grampeado, Lula disse que a Receita estava “procurando pelo em ovo”
no instituto e mandou o ministro enquadrar o responsável por aquilo. Pelo que
se nota, a bronca de Lula não surtiu efeito.
A ação da Receita contra o Instituto Lula só
surpreende os incautos. Sempre se soube que a entidade foi concebida para
servir como escritório político e assessoria de imprensa de Lula, enquanto
vendia ao público a ideia de que era um “espaço de interação e diálogo para
aqueles que compartilham os ideais de Lula”, como se lê em seu site. O Fisco
acabou com mais essa fantasia de Lula.
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