Por Antonio Carlos Prado, 01/09/2016,
www.istoé.com.br
Não haveria doente no País se cada cidadão ganhasse
um dia de saúde cada vez que ouvisse as autoridades dizerem que é preciso
melhorar a situação geral da… saúde. Ouve-se isso de todas as bocas que têm
poder para decidir, ouve-se isso por todos os lados em que se pede socorro. As
condições de acesso a médicos e tratamentos tornam-se, no entanto, cada dia
mais difíceis, e o sistema degrada-se num ritmo alucinante. Em meio à falência
múltipla dos órgãos que cuidam desse setor, nasceu um impasse: a judicialização
da saúde. Trocando em miúdos: ou o cidadão bate às portas da Justiça ou corre
risco de ficar sem remédio, sem médico, sem cirurgia, sem prótese, sem atendimento
adequado – e sem vida.
Estima-se que em 2016 os gastos da União, dos
estados e municípios com a judicialização cheguem R$ 7 bilhões (no último
triênio subiu 129%). Pede-se de tudo nas ações judiciais, de esparadrapo a
absorventes íntimos, que, pelas normas da OMS, são mesmo inerentes à área. O
Poder Judiciário vem sendo injustamente criticado porque está fazendo o que tem
de fazer, determinando que seja cumprida a Constituição, clara ao fixar que a
União é obrigada a fornecer zelo integral no campo da saúde. Aqueles que, no
âmbito público ou privado, deveriam não tê-la quebrado são os primeiros a
criticarem os juízes. Cobra-se razoabilidade nas decisões, como se fosse
plausível a um magistrado não despachar favoravelmente ao paciente, sabendo ele
da bandalheira promovida, por exemplo, por setores do PT que estiveram no poder
– nem a Previdência nem o dinheiro mirrado dos aposentados ficaram a salvo de
rapinagem.
“Ou o cidadão bate às portas da
Justiça ou corre risco de ficar
sem remédio, sem médico, sem cirurgia, sem prótese – e sem vida”
sem remédio, sem médico, sem cirurgia, sem prótese – e sem vida”
Uma proposta de solução que está sendo colocada é a
formação de núcleos de profissionais para atuarem junto ao Judiciário e dar-lhe
subsídios técnicos. Trata-se de declarada interferência na autonomia de
consciência dos membros da magistratura e proponho, então, que juízes também
passem a atuar junto aos responsáveis pela escalada na majoração dos preços de
medicamentos. Alega-se, por fim, que a judicialização faz o direto individual
prevalecer sobre o coletivo, e isso compromete a sustentabilidade da estrutura
da saúde. Equívoco. A estrutura está falida porque o seu sucateamento se
confunde com a nossa própria história republicana. E, daqui a pouco, vão jogar
a culpa no próprio doente.
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