Mais longevo ministro da Fazenda
da história brasileira, Mantega tornou-se, ao lado da presidente cassada Dilma
Rousseff, o grande símbolo do jeito petista de governar
Por Augusto
Nunes, 24/09/2016,
www.veja.com.br
Editorial do Estadão
A prisão do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega,
ainda que apenas por algumas horas, significa que o escândalo da Petrobrás
alcançará mais gente e gente muito mais graúda do que os notórios operadores do
PT que hoje amargam a prisão. Já se sabia que o propinoduto que ligou a máquina
do Estado aos cofres do PT era o pilar de um método de governo, sendo o
ex-presidente Lula o “chefe supremo” do esquema de corrupção, como autoridades
já denunciaram. Mas as suspeitas que recaem sobre Mantega, se comprovadas,
mostrariam a extensão do contágio por grande parte do primeiro escalão da
administração, passando o próprio governo a ser visto como uma organização
criminosa.
Mais longevo ministro da Fazenda da história
brasileira, Mantega tornou-se, ao lado da presidente cassada Dilma Rousseff, o
grande símbolo do jeito petista de governar. Enquanto Dilma, em seu dialeto
peculiar, agredia a realidade de sua desastrosa administração com frases
desconexas, Mantega, sempre com ar professoral, tratava de insultar a inteligência
alheia com dados sem sustentação e retórica vazia para comprovar o acerto da
famigerada “nova matriz econômica” – aquela que quase quebrou o Brasil. O
ministro da Fazenda era a face mais conhecida da impostura do PT na condução da
economia, um obediente executor das fantasias nacional-desenvolvimentistas de
Dilma. Nada, porém, indicava que ele tivesse feito uso de seu cargo e de seu
poder para fazer algo além de destruir as finanças do País.
Tudo isso mudou ontem. O juiz Sergio Moro aceitou
pedido do Ministério Público Federal para que Mantega fosse preso, sob acusação
de que o petista, em novembro de 2012, quando era ministro, solicitou ao
empresário Eike Batista recursos para o pagamento de dívidas de campanha do PT.
A informação foi prestada pelo próprio Eike em depoimento ao Ministério Público
em maio passado.
Em 2012, o Grupo OSX, de Eike, integrava um
consórcio que havia obtido um contrato de US$ 922 milhões com a Petrobrás para
a construção de plataformas. Suspeita-se de que Mantega tenha pedido a propina
como compensação por esse contrato. Sem experiência na área, o consórcio
contemplado não conseguiu entregar as plataformas.
Em seu depoimento, Eike disse que Mantega solicitou
R$ 5 milhões para o PT. O dinheiro, depositado no exterior, foi entregue por
meio de falsa prestação de serviços pela empresa de João Santana, o marqueteiro
do PT. Para Eike, não estava claro que se tratava de uma contrapartida por seu
contrato com a Petrobrás, mas não é preciso grande perspicácia para desconfiar
dos reais motivos de Mantega – afinal, como disse Eike, “o ministro da Fazenda
me pediu, o que é que você faz?”. Além de ministro da Fazenda, Mantega era
presidente do Conselho de Administração da Petrobrás.
Eike e Mantega, segundo o depoimento do empresário,
trataram a propina como “doação eleitoral”. Em seu despacho, Moro lembra que
não cabe a um ministro de Estado “solicitar doações eleitorais ao partido do
governo, ainda mais doações sub-reptícias”, feitas “através de contas secretas
mantidas no exterior e com simulação de contratos de prestação de serviço, meio
bem mais sofisticado do que o usual mesmo para uma doação eleitoral não
contabilizada”.
Para Moro, está clara a “similaridade com o modus
operandi verificado no esquema criminoso da Petrobrás”. Eis o que realmente
importa a essa altura. São muitas as evidências de que o grande sistema de
corrupção implantado pelos petistas pode ter tido entre seus operadores o mais
importante ministro de Estado tanto de Lula como de Dilma. Terá sobrado um
canto que seja de seus governos que não tenha sido conspurcado?
É claro que os petistas, sem ter como defender o
ex-ministro, apelam à já tradicional vitimização, pois Mantega foi detido
quando estava num hospital acompanhando a mulher, que se tratava. Ao decidir
revogar a prisão – pedida porque, segundo os procuradores, havia risco de
destruição de provas –, Moro disse que ele, os policiais e o Ministério Público
desconheciam a situação familiar do ex-ministro. Mas Lula, sempre ele, já andou
dizendo que a prisão de Mantega prova que “qualquer tese de humanitarismo foi
jogada no lixo”. Sobre a grave acusação que pesa sobre o ex-ministro, nem um
pio.
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