O novo governo começaria a
agonizar nesta segunda-feira se Jucá fosse dormir ministro
Por Augusto
Nunes, 23/05/2016,
www.veja.com.br
O balanço da primeira semana de governo informa que
o presidente Michel Temer acertou na escolha da equipe econômica, na mudança de
rota da política externa e na recriação do Ministério da Cultura, que confiscou
das carpideiras do PT o cadáver indispensável. Removido o pretexto para a
choradeira, o coro dos cantores federais teve de contentar-se com a lengalenga
que finge enxergar um “golpe parlamentar” no impeachment de Dilma Rousseff. Os
acertos compensaram amplamente os erros de avaliação política. Dois deles: a
ausência de mulheres no ministério e a nomeação de um prontuário ambulante para
o posto de líder do governo na Câmara.
Esse saldo assegurado, repita-se, pelos trabalhos
de parto do plano econômico reclamado pela crise devastadora e pelo enterro da
diplomacia da canalhice estaria reduzido a pó se Romero Jucá fosse dormir ainda
ministro. Não porque a turma do quanto pior, melhor conseguiria fôlego para
mais algumas horas de gritaria. Esses são um bando de derrotados sem horizontes
(e, daqui a pouco, sem emprego nem mesada). O que o afastamento de Jucá impediu
foi à reação justificadamente colérica de milhões de brasileiros exaustos de
ladroagem, cinismo e sem-vergonhice.
O Brasil decente aprendeu que não pode haver
bandido de estimação e que todo corrupto merece cadeia, sejam quais forem o
tamanho da conta bancária, o estado civil ou o nome da mãe. O que já se sabia
do senador por Roraima era suficiente para fazer de sua presença no coração do
poder uma aposta de altíssimo risco. As conversas telefônicas divulgadas pela Folha
confirmaram que Temer teve a seu lado, durante 10 dias, um homem-bomba com
teor explosivo capaz de explodir o governo recém-nascido.
O comportamento do presidente no bota-fora de Jucá
demarcou outra fronteira que o separa de Dilma e Lula. Em episódios
semelhantes, o padrinho e a afilhada sempre tentaram varrer para baixo do
tapete a sujeira produzida por bandidos companheiros. Hoje estão todos juntos
no mesmo lixão.
O despejo de Jucá eliminou o perigo real e
imediato. É preciso agora remover as muitas minas terrestres que continuam
espalhadas pela Esplanada dos Ministérios. Pelo visto, Temer ouviu a voz das
ruas. E compreendeu que, no Brasil redesenhado pela Lava Jato, não há esperança
de salvação para governantes que protetores de delinqüentes. Quem não enxergar
tal evidência terá o mesmo fim de Dilma e Lula.
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