Flagrado tapando, de forma
ilícita, rombos do Tesouro com saques em aberto em bancos públicos, o bando no
poder, sob o comando de madama, cometeu crimes de responsabilidade e tornou o
impeachment dela uma urgência para a salvação nacional
Por Augusto
Nunes, 04/05/2016,
www.veja.com.br
Texto de José Nêumanne publicado
no Estadão
Ao contrário do que se imagina e muito se cita em
discursos e textos clássicos ou comuns, a matriz do pensamento da esquerda
ocidental contemporânea não é mais o comunismo de Marx e Engels nem a teoria da
revolução proletária de Lênin. Mas se inspira numa frase do filósofo
existencialista francês Jean-Paul Sartre: “O inferno são os outros”. Ante a
angústia de ter de decidir como viver a própria vida, o ser humano, como fica
explícito em sua peça Huis Clos (Entre Quatro Paredes), habitua-se a delegar ao
“outro” a responsabilidade pela própria existência. A militância esquerdista,
desde a adesão do pai do existencialismo à tirania pós-stalinista do chinês Mao
Tsé-tung, assumiu a fraqueza humana como justificativa para as próprias
vilezas.
Mesmo não sendo o autor de O Ser e o Nada o melhor
exemplo de caráter ilibado, seria injusto conceber que ele possa ser o maior
responsável pelo comportamento do lulodilmopetismo na exacerbação amoral e
imoral desse raciocínio. Como Lula se orgulha de detestar ler e Dilma tem dificuldade
de entender o que ouve, lê e repete, é mais sensato constatar que esse
paradigma da apropriação do bem que o outro faz e da responsabilidade deste
sobre os próprios delitos é um acréscimo prático às lições de Nicolau Maquiavel
aos cruéis príncipes da Florença renascentista. Durante a bonança da primeira
gestão Lula, os benéficos resultados da revolução social planejada, gerada,
produzida e gerida nas administrações de Itamar Franco e Fernando Henrique
foram tratados como “herança maldita”. E os bens causados pelo equilíbrio
fiscal e monetário, incluídos no legado “bendito” do padim dos oprimidos.
Apresentada a conta dos frutos podres desse pomar,
onde foram queimados em fogo-fátuo o suor e as lágrimas dos desvalidos,
especialmente dos 10,9% de desempregados, hoje eles passam a usar mentiras
maledicentes contra quem ouse denunciar seus crimes. E a tratar suas vítimas
como cúmplices no que as prejudicaram, forçando-as a perdoá-los.
Acolitada por Lula e repetindo o discurso à
Goebbels do marqueteiro João Patinhas Santana, Dilma vendeu o paraíso na terra
na campanha pela reeleição, em 2014. Mas desde o primeiro dia do segundo
governo iniciou a transferência para os derrotados da própria culpa pelo
inferno da maior crise econômica da História. O PT e seus aliados formaram, em
13 anos e quatro meses de desgoverno, uma organização criminosa que esvaziou os
cofres da República, feito um Robin Hood às avessas. Assim, a crise moral que
assolou as máquinas burocráticas federal e estaduais, roendo as conquistas do
Plano Real, a maior revolução social da História, produziu a maior crise
econômica de todos os tempos.
Flagrado tapando, de forma ilícita, rombos do
Tesouro com saques em aberto em bancos públicos, o bando no poder, sob o
comando de madama, cometeu crimes de responsabilidade e tornou o impeachment
dela uma urgência para a salvação nacional. Ao longo dos quatro anos do
primeiro mandato, ela moeu a maioria no Congresso, herdada do antecessor e
padroeiro, com sua inusitada incapacidade de conviver com membros de outros
Poderes, gerada no ventre da serpente de seu trato truculento e intolerável com
outrem.
Demonstrando enorme desapreço pela Constituição,
revelado quando só a assinaram a contragosto, seus correligionários petistas
tentaram, em vão, espalhar pelo mundo a hipótese estapafúrdia de que
“impeachment sem crime é golpe”. Esse slogan parte de duas mentiras grosseiras:
a de que ela é inocente e a da possibilidade de êxito de uma conspiração
tramada nos porões (como os da tortura na ditadura militar) por 61% da
população, representada por milhões nas ruas, 69% dos deputados federais, 61%
dos senadores (conforme revela o placar do Estadão) e pela maioria do
Supremo Tribunal Federal (STF).
O absurdo, que chacoalha o esqueleto de
Aristóteles, não resiste a fatos. Os brasileiros que querem apeá-la do poder
são em maior número do que o total dos que nela votaram. A oposição, que ela
acusa de culpa pela crise por ter aprovado pautas-bombas que tornaram inviável
seu insustentável ajuste (?) fiscal, é minoria insignificante no Congresso. E
dos 11 juízes do Supremo, oito foram nomeados por Lula e por ela.
A insistência com que sua defesa mente tira a
harmonia do samba de uma nota só do “golpe”. José Eduardo Cardozo,
advogado-geral da União, de fato seu causídico pessoal, já arengou tanto no
Congresso, no STF e na “mídia” que merece uma citação no Guinness como o mais
loquaz camicase na história dos “golpes”.
Não só de acusações à oposição sobrevive sem
governar o atual desgoverno. Quem não apóia tal desvario tem sido açoitado no
pelourinho petralha. A professora da Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo (USP) Janaína Paschoal teve de explicar à “bancada do chororô” na
comissão de impeachment no Senado por que defendeu um procurador que bateu na
mulher. Seus detratores, que ainda a acusaram de ser “tucana”, não replicaram
com um só argumento válido à acusação por ela lida. Nem se lembraram da
sentença romana de que acusados devem gozar da presunção de inocência, tão
citada pelo PT para defender cúmplices na roubalheira.
Na dita sessão, a ministra da Agricultura, Kátia
Abreu, chamou os brasileiros de caloteiros, ao perguntar quem nunca deixou de
pagar uma conta, ousando comparar a irresponsabilidade da chefona com o estado
de extrema necessidade do desempregado que não consegue manter o crédito na
praça porque perdeu o salário. Ocupada em contar reses, não sabe que ninguém
entende mais de crédito do que o pobre, incapaz de sobreviver sem ele.
Contra tantas ignomínias, com as quais Sartre nada
tem que ver, há uma salvação: o emprego de Dilma e o protagonismo de seu
partido estão a sete dias do fim anunciado. Amém!
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