Guru de si mesmo e de alguns
maltrapilhos intelectuais, o Vampiro da Virgínia exibe a gosma verde do rancor
Por Reinaldo
Azevedo, 17/05/2016,
www.veja.com.br
Caros, meu blog faz dez anos no dia 24
de junho. Ao longo desse tempo, conheci todas as baixarias de que são capazes
os petralhas, com seu misto de ignorância e fanatismo. No mais das vezes,
ignorei. A razão é simples: contavam comigo para aparecer e para sair dos
escombros da irrelevância moral.
O mesmo faz agora Olavo de Carvalho e
seus esquisitos amestrados. À medida que o “mestre”, “o professor” e o “guia”
vai enlouquecendo — e os sinais de paranóia e alheamento da realidade vão se
tornando a cada dia mais evidentes; a questão é de química cerebral mesmo —,
seus súditos intelectuais tentam emular o guru. Como a estes faltam às
referências que o outro consegue manejar com certa destreza, apesar da discricionariedade
e das idiossincrasias, sobra aos meliantes só o gosto pela grosseria, pelo
baixo calão, pela vulgaridade.
Olavo se tornou servidor de uma
candidatura à Presidência. Sim, a de Jair Bolsonaro. Espero que esteja ao menos
sendo bem remunerado por isso. Conhecemos, no Brasil, o fenômeno dos “blogs
sujos”. Olavo é o “filosofo” — e coloquem-se aspas aí — sujo. Se chegou a
pensar com autonomia, em algum momento, e duvido crescentemente disso, esta
desapareceu.
O que tirou Olavo da casinha? Respondo:
a sua brutal incapacidade de ler a realidade.
O “filósofo” jamais imaginou que Dilma
sofreria um processo de impeachment. Tentou ser o condutor das massas nas
jornadas de 2015 e 2016, mas ninguém sabia quem era ele, a não ser os feios,
sujos e malvados de sempre. Os que seguiam as suas ideias só serviam para
difamar um movimento que tinha e tem a democracia como valor inegociável.
Olavo de Carvalho, o bobalhão, e os
bolsonaretes queriam “intervenção militar”. Não confiavam que o processo
político — e democrático — se encarregaria de depor Dilma Rousseff. Eram
entusiastas dos coturnos saneadores passando sobre Brasília “por um breve
período”. Lixo!
O vampirismo
Ali por volta de novembro, a tese do
impeachment deu uma esfriada — ao menos no noticiário. Quem acompanhava os
bastidores da política sabia ser essa uma informação falsa. Bastou para o
Vampiro da Virgínia — que se alimenta do sangue envenenado de fel e melancolia
de seus seguidores feios, sujos e malvados — vir a público para anunciar que o
impeachment não aconteceria porque movimentos como o MBL e jornalistas como eu
haviam rendido a força das ruas aos… políticos.
Olavo, o Sábio, aquele “que tinha
razão”, queria tomar o Palácio de assalto. Certa feita chegou a sugerir que os
servidores não mais atendessem às ordens de Dilma. O que se queria o grande
“pensador da direita” confundia a história com um conto de fadas.
Quem sabia, no entanto, onde se
desenhava o futuro tinha clareza de que se vivia uma onda temporária de refluxo
do movimento, que ele voltaria com toda a força, como voltou. E que os
políticos eram essenciais para garantir a deposição dos petistas, SEGUNDO OS
RIGORES DA LEI. SEM COTURNOS.
Olavo e seus feios, sujos e malvados
foram desmoralizados. Eles estavam errados. A organização política e as
instâncias da democracia derrubaram Dilma Rousseff.
Ao “mestre” sobrou a luta contra
fantasmas nos quais nem ele mesmo acredita. Essa impressão que Olavo passa de
que enxerga comunista até debaixo da cama é falsa como nota de US$ 3. O
anticomunismo virou a sua profissão, virou seu meio de vida. Anunciar agentes
de ordens secretas infiltrados em todas as instâncias do poder se tornou o seu
ganha-pão — e não é de hoje.
A última tese do gênio é que o Foro de
São Paulo agora tomou conta das Forças Armadas. Olavo ensina general a fazer
guerra. E não em razão de sua inteligência superior, mas de sua loucura sem
limites. A seu modo, é um gênio: transformou a paranóia alheia em fonte de
renda. Não precisa pegar no pesado. É só sentar diante da tela e vomitar suas
teorias alucinadas.
Seus seguidores se espalham na
Internet. Não é preciso ser muito agudo para perceber patologias várias,
conjugadas na expressão de uma ignorância agressiva, travestida de ilustração.
Aqui e ali, enviam-me mensagens que o
Vampiro da Virgínia divulga na rede. Segundo escreve, foi ele, lá de longe, o
grande mentor da deposição de Dilma. É mesmo?
Olavo deveria voltar ao Brasil, arrumar
um emprego para ganhar a vida honestamente e testar a sua popularidade nas
ruas. Vamos ver quantos são os brasileiros que o reconhecem como inspiração.
Não! Não estou sugerindo um teste de
popularidade para avaliar a qualidade da sua “filosofia” — esta já foi
amplamente desmoralizada pela realidade. Estou propondo que ele vá ao povo para
avaliar quantos reconhecem nas orientações desse guia genial o caminho da
libertação.
Só não digo que Olavo perdeu porque
nunca houve a hipótese de ele ganhar. Este senhor lançou-se no mundo das ideias
como astrólogo e vai terminar como prestidigitador, escondendo e tirando
imposturas da cartola. Outro dia alguém me perguntou se ele era mesmo de
extrema direita. Nem isso. É um extremista do oportunismo.
Ah, Olavo!!! Um pouco de Marx para defini-lo:
eis “o bufão sério que não mais toma a história universal por uma comédia, mas
a sua própria comédia pela história universal”.
A cada vez que tomo ciência de que
ainda existe, lembro do garotinho de “O Sexto Sentido”: “Eu vejo gente
mooorta!”.
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