Por Reinaldo Azevedo, 11/08/2015,
www.veja.com.br
O presidente do PSDB, senador Aécio
Neves (MG), e o governador de São Paulo, o também tucano Geraldo Alckmin, foram
ao ponto nesta segunda ao comentar a situação do governo. Afirmou o primeiro:
“As alternativas que estão colocadas não dependem do PSDB. Seja a continuidade
da presidente, seja a discussão na Câmara dos Deputados sobre o impeachment,
seja a questão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”. Alckmin, por sua vez,
considerou que o governo não pode “terceirizar responsabilidades políticas para
solucionar a crise”. E emendou: “Não pode responsabilizar os outros pelos seus
problemas. A primeira questão para você resolver um problema é você reconhecer
o problema”.
Sim, são falas corretas; são falas
sensatas. Alguns analistas se comportam hoje como se a oposição é que detivesse
os instrumentos da chamada governabilidade. Ora, isso é apenas uma mentira. Se
o PSDB e as oposições fossem forças desestabilizadoras da democracia, aí, sim,
se poderia vir com esse discurso cretino. Alguém, no entanto, viu os tucanos a
ameaçar a ordem pública ou a subtrair direitos nas ruas? Alguém viu os tucanos
a pôr em risco a segurança da população? Alguém viu os tucanos a clamar por
alguma solução extralegal?
Ora, o que eu vejo é a oposição
cumprindo o seu papel, isto sim: cobra que o governo atue dentro da legalidade;
exige que responda pelas ilegalidades que avalia (e eu também) ter cometido;
confronta-o com seu discurso de campanha; submete-o ao peso de suas próprias
palavras, de suas escolhas, de seus atos.
Afirmei ontem num seminário e repito
aqui: de todas as saídas possíveis, eu preferiria a renúncia da presidente, um
processo mais rápido e menos traumático. E ela que não evoque, em benefício do
país, o seu passado de quem resistiu até a tortura porque não é disso que se
trata. Ainda que eu possa reconhecer a têmpera de quem passou por situação tão
terrível, Dilma, felizmente, não está a enfrentar delinqüentes torturadores. O
problema é de outra natureza. Ela poderia ser generosa com o povo brasileiro e
reconhecer o colapso de sua gestão. Ela certamente não responde sozinha pelo
desastre, mas é uma das protagonistas. Ou a renúncia à Presidência não estaria
em suas mãos.
Há a possibilidade do impeachment — e
por crime de responsabilidade, sim! Também nesse caso, assumiria o vice, Michel
Temer. E há a segunda pior saída (a primeira é Dilma permanecer), que é a
cassação da chapa pelo TSE, hipótese em que seria necessário realizar novas
eleições se o impedimento duplo se der nos dois primeiros anos de mandato. Se
nos dois finais, o Congresso faz uma eleição indireta. Em qualquer dos casos, o
eleito encerra o seu período no dia 31 de dezembro de 2018.
Não há muitas razões para duvidar de
que a oposição teria grande chance de se eleger para cumprir o período
presidencial. No entanto, a desordem na economia é tal, e tão ruins são as
perspectivas que se anunciam, que eu não sei se essa é a alternância de poder
pela qual devamos torcer. Tendo a achar que não.
Mas atenção! Que se cumpra a lei! E nós
as temos, muito claras e inequívocas. Até porque ninguém sabe o que pode sair
das delações premiadas que estão em curso ou que estão por vir. Se Fernando
Baiano era mesmo o operador do PMDB no esquema, em que medida eventuais
revelações podem inviabilizar uma solução de continuidade com o partido, sem o
concurso de novas eleições? Que surpresas Renato Duque reserva na terra já
devastada do petismo?
Assim, uma coisa é a solução desejável,
dado o quadro lastimável que está aí; outra, que pode não ser coincidente, é a
solução possível. Mas que não se perca isto de vista: o Brasil, felizmente, tem
prescrição constitucional para qualquer uma das hipóteses — inclusive, sim, novas
eleições, ora! Qual é a razão do espanto?
Volto ao ponto inicial: as oposições
não têm de encaminhar as soluções políticas para a continuidade do governo; as
oposições têm de lutar pela salubridade das respostas legais e institucionais.
Ora, ora, ora… A cada vez que vejo Rui
Falcão, presidente do PT, com aquele seu ar grave, a recomendar que a oposição
seja sensata, ocorre-me que este senhor preside o partido que tem seu segundo
tesoureiro preso; que aquele que já foi considerado o capitão da equipe está na
cadeia pela segunda vez; que um dos delatores diz ter entregado R$ 10,5 milhões
em dinheiro vivo na sede do partido… E olhem que cito aqui os pecados mais
ligeiros. Não! A cara de capuchinho consciencioso de Falcão não combina com a
sua função.
Quem precisa ter juízo, senhor Falcão,
é o PT. O partido que não ouse, como já escrevi, deter a marcha dos pacíficos
nem desafiar a sua indignação.
A farsa acabou.
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