"Mobilizados por Dirceu, os
bandidos de Santo André saltaram sobre mim"
Por Felipe
Moura Brasil, 02/04/2016,
www.veja.com.br
Dirceu e
Lula: os chefes
O artigo abaixo, publicado neste blog em 26 de maio de 2015, merece ser
relido agora que a 27ª fase da Lava Jato, a Carbono 14, investiga o
assassinato de Celso Daniel.
Reproduzo o texto na íntegra, como o escrevi dez
meses atrás.
Benjamin e Lula: quem conhece
sabe
O sociólogo e editor Cesar Benjamin foi militante
do PT de 1980 a 1995.
Foi ele que revelou na Folha, em 2009, o caso do
“menino do MEP”, o preso que Lula se gabou de ter tentado subjugar sexualmente
nos 30 dias em que ficara detido e “que frustrara a investida com cotoveladas e
socos”.
Cesar Benjamin conhece bem as violações
lulopetistas.
Em 2005, durante o escândalo do
mensalão, ele já denunciava ao Estadão que “tinha havido uma série de
financiamentos que desconhecíamos”, “de bancos e empreiteiras, para a campanha
do Lula” de 1994(!) e que o processo de corrupção “talvez tenha começado
antes”.
“Quando vejo essa situação atual, tenho consciência
de que não começou agora e é a expressão de uma prática continuada e sistêmica,
que foi introduzida através do Lula e do Zé Dirceu”.
Naquele ano, quase uma década antes de explodir o
petrolão, Benjamin também disse à Época:
“Isso foi vivido como ascensão social para um
grande número de quadros, de lideranças do PT, que mudaram individualmente de
classe social. Passaram a ter um nível de vida que não tinham e viveram isso
muito alegremente.”
Questionado se este processo gerou o cadáver de
Celso Daniel, prefeito de Santo André assassinado em 2002, o ex-militante
petista respondeu:
“Eu não acho, tenho certeza. E houve muitos
cadáveres morais. Este foi o físico.”
Não só este, diga-se. Sete
outras pessoas ligadas ao caso morreram, inclusive o legista que atestara que o
prefeito fora barbaramente torturado antes de ser assassinado.
Agora, Cesar Benjamin voltou a tratar do assunto no
Facebook, por ocasião da morte no domingo (24) de um dos fundadores do PT.
Reproduzo seu post na íntegra, grifando os trechos
sobre Lula e Dirceu:
“Acabo de saber da morte de Antônio
Neiva. Muito teria a dizer sobre ele: seu companheirismo, seu humor, sua
lealdade, sua honestidade. Velho militante da época da ditadura permaneceu no
PT até o fim. Escolho apenas um momento das nossas vidas.
Eu era da direção do PT quando percebi
que o processo de corrupção se alastrava no partido. Tentei debater isso na
direção, sem sucesso, pois àquela altura todos já temiam os dois comandantes da
desagregação, Lula e José Dirceu.
Restou-me levar a questão ao Encontro
Nacional do PT realizado em 1995 em Guarapari, no Espírito Santo. Fui à
tribuna, que ficava numa quina do grande salão, de onde era possível ver,
simultaneamente, o plenário e a mesa.
Logo depois de começar meu
pronunciamento, vi José Dirceu se levantar, se colocar de frente para o
plenário, de lado para mim, e fazer sinais na direção de um grupo que – depois
eu soube – era a delegação de Santo André.
Pelo tom da minha fala, Dirceu achou que
eu trataria do esquema de corrupção nesse município, que ele e Lula comandavam
e que resultaria depois no assassinato de Celso Daniel.
Ele estava enganado. Eu não falaria
disso, simplesmente porque desconhecia esse esquema. Minha crítica era à perda
geral de referência ética e moral no partido, que nessa fala eu denominei de
‘ovo da serpente’.
Mobilizados por Dirceu, os bandidos de
Santo André saltaram sobre mim, para interromper meu pronunciamento na base da
porrada.
Foi Antônio Neiva quem se interpôs entre
mim e eles, distribuindo safanões e impedindo a continuidade do massacre. Foi
minha última participação no PT, que agora agoniza, engolido pela serpente que
cultivou.
Descanse em paz Antônio Neiva, irmão,
homem honrado.
“Cesar Benjamin.”
Uma comentarista do post escreveu:
Na verdade, eu achei que o espaço ainda era
público, público de menos, e resolvi dar uma mãozinha para que se
tornasse público, público demais.
O motivo é simples: os bandidos de Santo André
também saltaram sobre o Brasil.
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