Revelações do ex-deputado ao MP
compõem documento de 132 páginas. Depoimento aguarda homologação pelo Supremo
Tribunal Federal
Por Robson
Bonin, 26/05/2016,
www.veja.com.br
Entre todos os corruptos presos na Operação
Lava-Jato, o ex-deputado Pedro Corrêa é de longe o que mais aproveitou o tempo
ocioso para fazer amigos atrás das grades. Político à moda antiga, expoente de
uma família rica e tradicional do Nordeste, Corrêa é conhecido pelo jeito
bonachão. Conseguiu o impressionante feito de arrancar gargalhadas do sempre
sisudo juiz Sergio Moro quando, em uma audiência, se disse um especialista na
arte de comprar votos. Falou de maneira tão espontânea que ninguém resistiu. Confessar
crimes é algo que o ex-deputado vem fazendo desde que começou a negociar um
acordo de delação premiada com a Justiça, há quase um ano. Corrêa foi o
primeiro político a se apresentar ao Ministério Público para contar o que sabe
em troca de redução de pena. Durante esse tempo, ele prestou centenas de
depoimentos. Deu detalhes da primeira vez que embolsou propina por contratos no
extinto Inamps, na década de 70, até ser preso e condenado a vinte anos e sete
meses de cadeia por envolvimento no petrolão, em 2015. Corrêa admitiu ter
recebido dinheiro desviado de quase vinte órgãos do governo. De bancos a
ministérios, de estatais a agências reguladoras - um inventário de quase
quarenta anos de corrupção.
VEJA teve acesso aos 72 anexos de sua delação, que
resultam num calhamaço de 132 páginas. Ali está resumido o relato do médico
pernambucano que usou a política para construir fama e fortuna. Com sete
mandatos de deputado federal, Corrêa detalha esquemas de corrupção que remontam
aos governos militares, à breve gestão de Fernando Collor, passando por
Fernando Henrique Cardoso, até chegar ao nirvana - a era petista. Ele aponta
como beneficiários de propina senadores, deputados, governadores,
ex-governadores, ministros e ex-ministros dos mais variados partidos e até
integrantes do Tribunal de Contas da União.
Além de novos personagens, Corrêa revela os
métodos. Conta como era discutida a partilha de cargos no governo do ex-presidente
Lula e, com a mesma simplicidade com que confessa ter comprado votos, narra
episódios, conversas e combinações sobre pagamentos de propina dentro do
Palácio do Planalto. O ex-presidente Lula, segundo ele, gerenciou pessoalmente
o esquema de corrupção da Petrobras - da indicação dos diretores corruptos da
estatal à divisão do dinheiro desviado entre os políticos e os partidos. Corrêa
descreve situações em que Lula tratou com os caciques do PP sobre a farra nos
contratos da Diretoria de Abastecimento da Petrobras, comandada por Paulo
Roberto Costa, o Paulinho.
Uma das passagens mais emblemáticas, segundo o
delator, se deu quando parlamentares do PP se rebelaram contra o avanço do PMDB
nos contratos da diretoria de Paulinho. Um grupo foi ao Palácio do Planalto
reclamar com Lula da "invasão". Lula, de acordo com Corrêa, passou uma
descompostura nos deputados dizendo que eles "estavam com as burras cheias
de dinheiro" e que a diretoria era "muito grande" e tinha de
"atender os outros aliados, pois o orçamento" era "muito
grande" e a diretoria era "capaz de atender todo mundo". Os
caciques pepistas se conformaram quando Lula garantiu que "a maior parte
das comissões seria do PP, dono da indicação do Paulinho". Se Corrêa
estiver dizendo a verdade, é o testemunho mais contundente até aqui sobre a
participação direta de Lula no esquema da Petrobras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário