No posicionamento mais claro do
país norte-americano sobre a crise política brasileira, Michael Fitzpatrick
afirmou que o processo de impeachment de Dilma transcorre em respeito às
instituições e cutucou a Venezuela
Por Reinaldo
Azevedo, 19/05/2016,
www.veja.com.br
Na mais enfática manifestação dos Estados Unidos
sobre a crise política no Brasil até agora, o representante do país na Organização
dos Estados Americanos (OEA), Michael Fitzpatrick, afirmou nesta quarta-feira
que não há um “golpe em curso” no país, conforme alardeia os petistas, e que o
processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff ocorre em
respeito às instituições e à Constituição brasileiras.
As autoridades americanas vinham adotando um tom
cauteloso em suas manifestações sobre a crise política no Brasil, tratando a
questão como um assunto interno. Ontem, Fitzpatrick expôs uma posição mais
clara e direta sobre o tema. “Há um evidente respeito às instituições
democráticas, uma clara separação de poderes, rege o Estado de Direito e há uma
solução pacífica de disputas”, declarou o representante americano durante
reunião do Conselho Permanente da OEA. “Nada disso parece existir na Venezuela
hoje e essa é a preocupação.”
A situação do Brasil foi levantada pelo Paraguai,
que foi suspenso do MERCOSUL em 2012 em razão do impeachment do então
presidente Fernando Lugo. Na OEA, o representante paraguaio defendeu a legitimidade
do processo em curso no Senado e o direito do Brasil de resolver seus problemas
domésticos sem ingerência externa.
A crítica ao impeachment coube à Venezuela e à
Bolívia, países que sustentam a tese de que o afastamento de Dilma representa
um golpe. Ambos fizeram declarações nesse sentido, rechaçadas pelo Itamaraty,
já sob a gestão do tucano José Serra.
Depois da manifestação dos bolivarianos, o
embaixador do Brasil na OEA, José Luiz Machado e Costa, afirmou que o processo
se desenvolve em respeito às normas constitucionais e às instituições do país.
O diplomata ressaltou que o país considera inapropriada a ingerência em
assuntos internos por parte de países que rejeitam a interferência
internacional em seus próprios assuntos – uma referência indireta à Venezuela.
Fitzpatrick pediu a palavra em seguida, manifestou
apoio à posição de Machado e Costa e afirmou não ver golpe “de nenhum tipo” no
Brasil. O representante dos EUA disse estranhar que as mais enfáticas críticas
ao processo brasileiro venham de Caracas, onde manifestantes são reprimidos com
gás lacrimogêneo e há opositores presos pelo governo local.
Foi a primeira vez em que a situação do Brasil foi
discutida na OEA. O secretário-geral da entidade, Luis Almagro, criticou
publicamente o processo de impeachment antes do afastamento de Dilma ser
aprovado pelo Senado, na semana passada. Sua posição, porém, não refletia
debates ou deliberações dos países que integram a organização.
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