No programa transmitido ao vivo
pela TV Cultura, o ex-líder do governo no Senado observou que não foi o PT que
inventou a corrupção na Petrobras, “mas foi no governo petista que começou a
haver uma corrupção sistêmica e partidária na estatal"
Por Augusto
Nunes, 17/05/2016,
www.veja.com.br
“Quem manda
na Petrobras é o presidente da República”, afirmou o ex-senador Delcídio do
Amaral no programa Roda Viva desta segunda-feira, ao confirmar que Lula e Dilma
Rousseff tinham total conhecimento do esquema corrupto armado pelo governo
lulopetista que desviou bilhões de reais da estatal na última década. Delcídio
sabe do que está falando. Nascido em 1955 na cidade de Corumbá, Mato Grosso do
Sul, ele foi ministro de Minas e Energia durante o governo Itamar Franco e
diretor da Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso.
“Nós costumávamos brincar que o presidente da
Petrobras fingia que mandava e nós fingíamos que obedecíamos, mas quem manda
ali é o presidente da República”, garantiu. Filiado ao PT, elegeu-se senador em
2002 e, três anos depois, tornou-se nacionalmente conhecido ao presidir a
CPI dos Correios, que investigou o escândalo do mensalão. “Descontando a
dimensão dos escândalos, a diferença entre o mensalão e o petrolão é que, em
2005, o país continuou a andar. Agora, foi totalmente contaminado pela crise
política e econômica”.
Reeleito senador em 2010, sempre manteve boas
relações com políticos de todos os partidos, trunfo que o transformou em líder
do governo no Senado no segundo mandato de Dilma Rousseff. Ele ocupava o
posto no fim de 2015, quando foi acusado de obstruir as investigações da
Operação Lava Jato e se tornou o primeiro senador preso no exercício do
mandato.
“Pedi desculpas publicamente ao povo brasileiro
pelo que fiz”, disse no programa. “Não avaliei bem a situação e acabei cometendo
um deslize. Mas devo lembrar que nunca tive nenhum processo até hoje. Sempre
fui ficha limpa. Não fui denunciado por roubo, mas por obstrução de Justiça”.
Em liberdade depois de assinar um acordo de
colaboração com a Justiça, teve o mandato cassado por unanimidade na
semana passada. “Já pegaram dirigentes de estatais, os donos de empresas e os
diretores. Onde estão os políticos?”, perguntou, antes de informar que muitas
revelações virão à tona nos próximos dias.
“Não foi o PT que inventou a corrupção na
Petrobras”, observou. “Mas foi no governo petista que começou a haver uma
corrupção sistêmica e partidária. Um nível de operação muito mais amplo, com o
conhecimento das lideranças que compunham a base do governo federal”.
Para Delcídio, o impeachment é consequência da soma
das pedaladas fiscais com as descobertas da operação Lava Jato e a inexistência
de coordenação política. “Os auxiliares da Dilma tinham uma visão completamente
desfocada da realidade”, comentou. “Enquanto eu e outros políticos dizíamos que
ela tinha que se preocupar, o Aloizio Mercadante, por exemplo, garantia que as
investigações poderiam até chegar no Lula, mas que ela sairia forte do
processo”.
Depois de lembrar que Renan Calheiros responde a 12
processos e chamar o presidente do Senado de “cangaceiro”, Delcídio disse o que
espera de alguns dos personagens principais da novela política brasileira.
“Lula sairá muito desgastado e acredito que sua candidatura em 2018 não seja
competitiva”, afirmou. “O cerco está se fechando e provavelmente chegará até
ele”. Delcídio acredita que Dilma Rousseff não voltará a assumir a Presidência
e que Michel Temer enfrentará “um desafio enorme”. “Alguns ministros são bem
fraquinhos”, sublinhou. “Temos que torcer para dar certo, mas os primeiros
passos preocupam muito”.
A bancada de entrevistadores reuniu os jornalistas
André Guilherme Vieira (Valor), Eliane Cantanhêde (Estadão),
Flávio Freire (O Globo), Natuza Nery (Folha) e Vera Magalhães
(VEJA). Com ilustrações em tempo real do cartunista Paulo Caruso, o programa
foi transmitido ao vivo pela TV Cultura.
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