O renascimento da política
externa do novo governo terá de rever todas as posturas anacrônicas da
diplomacia lulopetista, a começar pela restauração da credibilidade externa do
Brasil
Por Augusto
Nunes, 17/05/2016,
www.veja.com.br
Texto de Paulo Roberto de Almeida Publicado
no Estadão
Dois elementos são essenciais a qualquer
diplomacia: credibilidade e inserção internacional. Ao se aproximar o fim de 13
anos de bizarrices na política externa, cabe rememorar como a diplomacia
lulopetista, partidária por definição, sacrificou ambos os elementos no altar
de posturas sectárias e de iniciativas obscuras. A deformação das mais sensatas
tradições da diplomacia profissional não só retirou credibilidade ao Brasil no
contexto regional, como isolou o país da economia mundial, fazendo retroceder
tanto a integração no Mercosul quanto nossa inserção nas cadeias globais.
Os lulopetistas retiraram credibilidade à política
externa e à própria diplomacia profissional, em primeiro lugar, pelo
alinhamento canhestro a regimes de esquerda na região, numa demonstração de
anti-imperialismo anacrônico e de antiamericano infantil (existiam motivos
atrás disso, o Foro de São Paulo, uma organização de fachada que permite aos
comunistas cubanos controlar correias de transmissão no Hemisfério). Houve um
tempo em que o Brasil parecia dispor de vários ministros de Relações
Exteriores, sendo um ironicamente designado de “chanceler para a América do
Sul”, um apparatchik do partido, amador em assuntos externos, mas dispondo de
grande poder para impor posturas contrárias ao interesse nacional, contra as
opiniões mais sensatas da diplomacia profissional.
Não faltou sequer certa dose de traição aos
interesses do país, como revelado em episódios lastimáveis da diplomacia
partidária, como a expropriação ilegal e indevida de ativos nacionais em países
vizinhos, ou até a tentativa, felizmente frustrada, de fazer organismos
externos interferirem em nossa política interna, todos a partir de atropelos
dos lulopetistas aprendizes de feiticeiro na agenda internacional do Brasil,
que teria ficado em melhores condições nas mãos dos diplomatas profissionais.
O desmantelamento dos objetivos comerciais e
econômicos do Mercosul, e sua transformação em mera tribuna política, sem
nenhum efeito sobre seu fortalecimento enquanto parceiro internacional
confiável foi outra; das lamentáveis “realizações” dos lulopetistas: o Mercosul
se desqualificou, quando não abandonou por completo sua participação em
negociações regionais ou plurilaterais em prol da abertura econômica,
liberalização comercial ou inserção em cadeias mundiais de valor. O apoio
concreto a duvidosos regimes esquerdistas – quando não ditaduras abertas –
constituiu o aspecto mais histriônico, e nefasto, dessa política externa
bizarra, aliás, em total desrespeito a normas constitucionais e em contradição
completa com nossas tradições diplomáticas (como a interferência nos assuntos
internos de Honduras, por exemplo). Tudo isso minou a credibilidade da nossa
política externa e da diplomacia profissional.
O isolamento econômico do Brasil não foi algo
improvisado, mas, sim, resultou de concepções anacrônicas em matéria de
políticas industriais ou comerciais, que recendem a um bolor desenvolvimentista
de décadas passadas, o qual, todavia, os lulopetistas sempre admiraram pelo seu
lado estatista e dirigista, com raízes no protecionismo comercial e na proteção
de uma “indústria infante” (a automobilística, por exemplo), que ainda não
terminou de ser criança, mesmo passados 60 anos. Regras de conteúdo local e de
discriminação tributária, como condição de acesso ao mercado interno, não estão
apenas em contradição com regras do GATT - Organização Mundial do Comércio
(OMC), mas realimentam velhos sonhos soviéticos de “socialismo num só país”, no
nosso caso transformado em perfeito exemplo de “stalinismo industrial”, ou
seja, uma indústria isolada do mundo.
O renascimento da política externa num novo governo
terá de rever todas essas posturas anacrônicas do lulopetismo diplomático,
indignas de nossas melhores tradições profissionais nessa área. A restauração
da credibilidade externa do Brasil começa pela dupla superação da doença
infantil do esquerdismo terceiro-mundista, traduzido na míope “diplomacia
Sul-Sul”, e da obsessão pela busca de “parceiros estratégicos”, um
fantasmagórico grupo de “anti-hegemônicos” (na concepção dos lulopetistas),
cada um, na verdade, cuidando de seu interesse próprio no cenário mundial. O
fim do auto-isolamento econômico e comercial passa, por sua vez, pela reversão
completa das medidas adotadas nos últimos anos, começando por colocar novamente
na agenda os objetivos prioritários inscritos no artigo 1.º do tratado do
Mercosul, ou então a concessão de liberdade a cada membro para negociar acordos
de liberalização comercial com os parceiros mais prometedores. A indústria
brasileira não precisa tanto de proteção e subsídios quanto de abertura e
competição, à condição que ela deixe de ser esmagada por uma carga tributária
tão extorsiva quanto imoral.
A política externa lulopetista isolou o Brasil do
mundo e retirou credibilidade à sua diplomacia profissional ao partir de
pressupostos completamente equivocados, em alguns casos deliberadamente
voltados para prestar serviço a obscuros clientes externos, que nada tinham que
ver com os nossos interesses nacionais. O Itamaraty precisa ser restaurado em
seu papel fundamental de assessoria competente, essencialmente técnica, na
formulação das diretrizes presidenciais em matéria de política externa, sem
nenhum vezo partidário ou ideológico.
Afastados apparatchiks partidários – que, aliás,
romperam com métodos de trabalho obrigatórios na diplomacia profissional, como
o registro documental de cada ação empreendida –, o Brasil poderá recuperar sua
credibilidade externa e reinserir-se produtivamente na economia mundial.
Não era sem tempo!
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