Apesar da crise provocada pelo
deletério e corrosivo governo de Dilma Rousseff, as instituições continuam
funcionando bem. Golpe quem dá é a presidente
Por Augusto
Nunes, 04/05/2016,
www.veja.com.br
Texto de Ives Gandra da
Silva Martins publicado no Estadão
Em meus artigos, raramente falo de pessoas,
preferindo discutir ideias, numa democracia em que o contraditório é a
constante. Todos os políticos que defendem “teorias abrangentes e excludentes
de outras” são vocacionados à ditadura. Os que defendem “teorias não
abrangentes e sujeitas ao debate” têm vocação para a democracia, como expunha
John Rawls, em sua obra Justiça e Democracia.
Em meu livro Uma Breve Teoria do Poder, mostro que
as democracias crescem com oposições fortes, que limitam o nível de arbítrio
dos detentores do poder. Quando elas são fracas, aqueles que governam tendem a
tornar-se ditadores, como vimos com Fidel e Raúl Castro, ditadores declarados,
e seus aprendizes Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa. Não cuido de
Nicolás Maduro porque sua incompetência e sua vocação ditatorial são tão
desastradas que ele conseguiu arrasar a terceira economia da América do Sul. É
assegurado no poder apenas por força de um Judiciário fantoche, formado na
undécima hora para enfraquecer o Legislativo eleito.
A presidente Dilma Rousseff, que sempre esteve
fascinada pela mais sangrenta ditadura das Américas (Cuba) e por tiranetes dos
países bolivarianos, ultimamente, após ter sido fragorosamente repudiada pelo Legislativo
popular – a Câmara dos Deputados é a Casa do Povo, não o Senado –, tem
reiterado que o impeachment é um golpe.
É de lembrar que o Senado é a Casa da Federação, ou
seja, da representação dos estados. Por isso os eleitores votam em um ou dois
candidatos. Para a Câmara, não. Há uma variedade enorme de opções. Nos EUA, o
Senado surgiu por imposição das colônias do sul, a fim de impedirem a abolição
da escravatura, que poderia ocorrer pela maior população do norte se houvesse
uma única Casa legislativa. Uma Casa em que a representação de cada colônia
fosse idêntica, independentemente da população, permitiu a promulgação da
Constituição de 1787 e a ideia de uma Confederação de 13 países foi substituída
por uma Federação de 13 estados. Os estados do sul conseguiram, dessa maneira,
atrasar em 80 anos a abolição da escravatura.
Ora, após sua fragorosa rejeição por mais de 70% na
Câmara dos Deputados, representantes reais do povo, as declarações da
presidente, de rigor, transformam-na em golpista contra as instituições
brasileiras. Foi vencida tendo a Câmara seguido, sem nenhuma alteração, o rito
definido pelo Supremo Tribunal Federal. E entende ela, agora, que o Supremo
Tribunal Federal e a Câmara dos Deputados foram golpistas?! Conclui-se, então,
que seu próprio criador, o ex-presidente Lula, foi, em sua peculiar visão,
também golpista quando liderou o impeachment do presidente Fernando Collor.
Hospeda, por outro lado, a tese de que a
Constituição brasileira teria 248 artigos democráticos e 2 golpistas, ou seja,
os artigos 85 e 86. Para a presidente da República, o Supremo Tribunal Federal
é golpista por cumprir a Lei Maior. Mas ela não o é, apesar de pretender
desmoralizar os outros dois Poderes da República.
Vejamos por que é golpista a presidente. Em primeiro
lugar, deu um golpe na Nação ao mentir espetacularmente na campanha eleitoral,
alardeando que o país estava bem em 2014, quando já estava falido. Esse
estelionato eleitoral permitiu que, por margem mínima de votos, superasse seu
opositor, que teve quase os seus 54 milhões de votos.
A mentira presidencial, desventrada nos primeiros
dias de seu segundo governo, tornou-se mais clara quando o Tribunal de Contas
da União descobriu as pedaladas fiscais, que mascararam, no ano eleitoral, o
orçamento federal. Feriu, pois, os artigos 165 a 169 da Lei Suprema e a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Mentiu para os eleitores que as contas públicas
estavam sob controle quando já estavam absolutamente desorganizadas.
Deu, também, um golpe na economia. Em seu
desastroso governo, prevê-se queda de 10% do produto interno bruto (PIB) nestes
dois primeiros anos. Outro golpe foi desferido no controle inflacionário,
permitindo que a inflação chegasse a 10%. Deu ainda golpe fatal no emprego,
gerando 11 milhões de desempregados. Na sequência, deu um golpe no dinheiro dos
contribuintes ao permitir que seu governo fosse o mais corrupto da História do
mundo. Deu, por fim, um golpe na credibilidade do seu cargo ao prometer juros
baixos e mantê-los em nível que consome mais de R$ 500 bilhões por ano para seu
giro. O mais grave, todavia, reitero, é o golpe contra as instituições, ao
desqualificar a atuação da Suprema Corte e do Parlamento brasileiro,
chamando-os de golpistas.
Neste quadro, o que torna o golpe pior no
comportamento da presidente é procurar enganar governos de outros países – como
enganou o eleitor em 2014 – na busca de apoio de outras nações às suas teses
insubsistentes. Pretende que governos bolivarianos imponham sanções ao Brasil.
Apenas esses dados são suficientes para mostrar que, mesmo que o seu
impeachment não passe, ela não terá a menor condição de governar. Seu espírito
guerrilheiro do passado, em que pretendia uma ditadura cubana para o Brasil,
parece renascer. Felizmente, já começou a ser impedida pela Casa do Povo. Se
sobreviver ao impeachment, levará a nação ao mesmo destino da Venezuela.
Mas as instituições estão funcionando no país e o
golpe institucional, econômico, político que pretende dar está sendo barrado
pela Suprema Corte e pelo Congresso Nacional. Nada obstante a crise provocada
por seu deletério e corrosivo governo, elas continuam, sim, funcionando bem.
Nenhum desses dois Poderes é golpista. O Brasil tem
uma Lei Suprema, que tem sido valorizada pelos Poderes Judiciário e
Legislativo. Merecem, todavia, seus atos e declarações ser examinados à luz da
Lei 7.170/83, que cuida dos crimes contra a segurança nacional. Pode ter
incidido em alguns deles. Parece-me, pois, que a presidente Dilma é a única
verdadeira golpista contra as instituições.
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