A Lava Jato quebrou o sigilo de
e-mails do Instituto Lula e comprovou que Lula e Delcídio se reuniram cinco
vezes entre abril e agosto de 2015, ou seja, antes e durante as tratativas e os
pagamentos pelo silêncio de Nestor Cerveró
Por Reinaldo
Azevedo, 18/05/2016,
www.veja.com.br
Do Jornal Nacional:
O Jornal Nacional teve acesso à
denúncia da Procuradoria Geral da República contra o ex-presidente Lula. Ele é
acusado de obstrução à justiça no caso da Lava Jato que envolve o ex-diretor da
Petrobras Nestor Cerveró. Quem mostra é a repórter Camila Bomfim.
A Procuradoria-Geral da República
partiu das delações do ex-senador Delcídio do Amaral e de seu chefe de
gabinete, Diogo Ferreira, para buscar provas materiais, como extratos
bancários, telefônicos, passagens aéreas e diárias de hotéis. E chegou à
conclusão de que eles se juntaram ao ex-presidente Lula, ao amigo dele e
pecuarista, José Carlos Bumlai, e o filho, Maurício Bumlai, e atuaram para
comprar por R$ 250 mil o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O
“Jornal Nacional” teve acesso à íntegra da denúncia da Procuradoria-Geral da
República.
O primeiro pagamento, de R$ 50 mil, foi
feito por Delcídio, em maio de 2015. Ele recebeu o dinheiro de Maurício Bumlai
num almoço. A quebra de sigilo mostra que Maurício Bumlai fez dois saques de R$
25 mil dias antes.
A operação foi em uma agência bancária
da Rua Tutóia, São Paulo, cidade onde ocorreu o repasse dos valores a Delcídio
do Amaral.
Segundo a denúncia, o ex-chefe de
gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira, fez os pagamentos que restavam em outras
quatro datas entre junho e setembro de 2015, sempre recebendo o dinheiro sacado
por Bumlai na agência da Rua Tutóia, conforme os extratos bancários.
A denúncia detalha a participação do
ex-presidente no planejamento desses repasses. A Lava Jato quebrou o sigilo de
e-mails do Instituto Lula e comprovou que Lula e Delcídio se reuniram cinco
vezes entre abril e agosto de 2015, ou seja, antes e durante as tratativas e os
pagamentos pelo silêncio de Nestor Cerveró.
Uma das reuniões foi no Instituto Lula,
no dia 8 de maio, dias antes de Delcídio fazer o primeiro pagamento.
Delcídio afirmou em delação premiada
que, no encontro, o ex-presidente expressou grande preocupação de que José
Carlos Bumlai pudesse ser preso por causa de delações na Lava Jato e que Bumlai
precisava ser ajudado.
Segundo Delcídio, o motivo para a
intervenção na delação de Cerveró era evitar que viessem à tona fatos;
supostamente ilícitos envolvendo ele mesmo, José Carlos Bumlai e Lula.
A PGR também aponta como provas
telefonemas entre Lula e José Carlos Bumlai como no dia 7 de abril, um mês
antes dos pagamentos — Lula e Bumlai se falaram quatro vezes. E, no dia 23 de
maio, um dia depois do primeiro pagamento, Lula ligou para José Carlos Bumlai.
Conversaram duas vezes nesse dia.
No final da denúncia, a Procuradoria
conclui que Lula “impediu e ou embaraçou investigação criminal que envolve
organização criminosa, ocupando papel central, determinando e dirigindo a
atividade criminosa praticada por Delcídio do Amaral, André Santos Esteves,
Edson de Siqueira Ribeiro, Diogo Ferreira Rodrigues, José Carlos Bumlai e
Maurício de Barros Bumlai” e pede a condenação dos denunciados por obstrução da
Justiça.
Em nota, o Instituto Lula declarou que,
no depoimento à Procuradoria Geral da República, o ex-presidente já esclareceu
que jamais conversou com o ex-senador Delcídio do Amaral com o objetivo de interferir
na conduta do condenado Nestor Cerveró ou em qualquer outro assunto relativo à
Operação Lava Jato.
A defesa de José Carlos Bumlai negou as
acusações. Afirmou que ele nunca pagou qualquer valor a Cerveró. E que o
ex-senador Delcídio do Amaral está vendendo informações falsas em troca da
liberdade.
Os advogados de Maurício Bumlai só vão
comentar depois de ter acesso à denúncia inteira.
A defesa de Diogo Ferreira confirmou os
pagamentos, mas disse que foram feitos a mando do ex-senador Delcídio do Amaral.
O advogado de Edson Ribeiro declarou
que ele nem sequer conhece Lula e Bumlai e que jamais participou de qualquer
ato de obstrução à Justiça.
A defesa de André Esteves declarou que
ele não cometeu nenhuma irregularidade.
O JN não teve resposta dos advogados de
Delcídio do Amaral.
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