A trinca que conviveu
harmoniosamente durante sete anos merece ser instalada no mesmo banco dos réus
pelo crime de obstrução da Justiça
Por Augusto
Nunes, 25/05/2016,
www.veja.com.br
Entre março e julho de 2005, período em que chefiou
o Ministério da Previdência, Romero Jucá conviveu em perfeita harmonia com o
presidente Lula e com Dilma Rousseff, então acampada no Ministério de Minas e
Energia. Á volta ao Congresso do pajé do PMDB de Roraima, forçado por novas
anotações no prontuário a deixar o primeiro escalão, não afetou o exemplar
entrosamento com a dupla do PT.
Em 2006, com Lula no segundo mandato e Dilma na
chefia da Casa Civil, a promoção de Jucá ao posto de líder do governo recompôs
o trio que jogaria no mesmo time até 2012. As mudanças de posição ocorridas não
afetaram a notável afinação. Vitoriosa na eleição presidencial de 2010,
Dilma manteve Jucá na liderança do governo e Lula continuou mandando nos dois.
Oficialmente desfeita em 2012 pela partida do senador, a trinca acaba de ser
recomposta.
Eles agora jogam juntos contra a Operação Lava
Jato, atesta o áudio que agrupa trechos de conversas telefônicas que escancaram
a conspiração forjada para paralisar a devassa do maior esquema corrupto da
história. São três falatórios irretocavelmente cafajestes. São três tapas na
cara do Brasil decente. São três afrontosos pontapés no artigo do Código Penal
que trata do crime de obstrução da Justiça.
O primeiro deles, grampeado pela Polícia Federal em
4 de março e divulgado 12 dias depois, registra o boçal destampatório de Lula
durante uma conversa com Dilma:
“Nós temos uma Suprema
Corte totalmente acovardada, um Superior Tribunal de Justiça totalmente
acovardado, um Parlamento totalmente acovardado, somente nos últimos tempos o
PT e o PCdoB começaram a acordar e começaram a brigar, um presidente da Câmara
fodido, um presidente do Senado fodido, não sei quantos parlamentares ameaçados,
sabe… sabe… e fica todo mundo no compasso achando que vai acontecê um milagre e
que vai todo mundo se salvá. Eu estou, sinceramente, estou assustado é com a
república de Curitiba”.
O segundo trecho revela o repulsivo diálogo entre o
padrinho e a afilhada interceptada em 16 de março e divulgado no mesmo dia.
Para colocar o antecessor sob as asas do foro privilegiado antes que o camburão
estacionasse diante do Instituto Lula, a presidente avisa que acabara de enviar
o termo de posse do chefão do bando na chefia da Casa Civil. Descontrolado pelo
medo de cadeia, o ex-presidente não diz sequer “obrigado” antes ou depois do
hoje famoso “Tchau, querida”.
Dilma: Alô.
Lula: Alô.
Dilma: Lula deixa eu te falar uma coisa.
Lula: Fala, querida. Ahn?
Dilma: Seguinte, eu tô mandando o ‘Bessias’ junto com o
papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de
posse, tá?
Lula: Uhum. Tá bom, tá bom.
Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.
Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.
Dilma: Tá?!
Lula: Tá bom.
Dilma: Tchau.
Lula: Tchau, querida.
O terceiro trecho foi pinçado do diálogo bandido
com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, que transformou Jucá em
ex-ministro do Planejamento do governo Temer. A certa altura, para tranqüilizar
o comparsa metido até o pescoço na roubalheira do Petrolão, Jucá mergulha de
cabeça no pântano:
“Nós temos que
encontrar uma maneira, você tem que ver com seu advogado como é que a gente
pode ajudar. Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é
político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o
governo pra poder estancar essa sangria”.
A menção à mudança de governo foi imediatamente
transformada por Dilma na prova definitiva de que impeachment é um golpe com
sotaque inglês. Errado: a troca de ideias imbecis com Sérgio Machado só mostra
que medo de cadeia faz mal à cabeça. Por que trocar o governo se o poste e seu
fabricante adorariam jogar uma bomba atômica sobre a república de Curitiba?Jucá
tampouco entendeu que a ruptura com os antigos cúmplices jamais se consumou.
Eles estiveram juntos no Petrolão: o senador foi um
dos atacantes do time que Lula montou e Dilma manteve em campo. Deveriam ser
julgados juntos por obstrução da Justiça. E despachados juntos para a
mesma gaiola.
Nenhum comentário:
Postar um comentário