Jornal britânico afirma que atual
crise foi provocada por 'incompetência, arrogância e corrupção'. E diz: 'Tempos
piores podem chegar para o país'
Veja,
23/07/2015, www.veja.com.br
A presidente Dilma Rousseff: ela
não está a salvo, avalia jornal.
Incompetência, arrogância e corrupção destruíram o
feitiço brasileiro. Assim começa um editorial publicado nesta quinta-feira pelo
jornal britânico Financial Times sobre a situação do país. Em texto que
trata das graves crises econômica e política que se abate sobre o Brasil, a
publicação lista os fatores que empurraram o país para a atual situação,
descrita pelo jornal como "um filme de terror sem fim".
Para o FT, dois fatores em especial
alavancam a crise: o primeiro, as medidas adotadas pela presidente Dilma
Rousseff para tirar o país do atoleiro econômico em que os governos petistas
lançaram o país. O segundo, e mais importante, o escândalo de corrupção desvendado
pela Operação Lava Jato da Polícia Federal. Ao citar o aperto fiscal, o jornal
salienta como as medidas, associadas a desemprego e inflação em alta,
derrubaram a popularidade da presidente.
Sobre o petrolão, o periódico britânico afirma que
embora ninguém "realmente acredite que Dilma seja corrupta", isso não
significa que a o presidente esteja a salvo. "Até agora, políticos em
Brasília têm preferido que Dilma fique no poder, e assuma o ônus dos problemas
do país. Mas esse cálculo pode mudar quando eles tiverem de salvar suas
próprias peles", afirma o jornal. "Um importante alerta foi dado na
semana passada, quando o líder da Câmara rompeu com o governo após ser
implicado no escândalo", afirma o texto, em referência a Eduardo Cunha
(PMDB-RJ).
O FT ainda cita o julgamento das chamadas
"pedaladas fiscais" e a suspeita sobre as doações à campanha da
petista em 2014 como questões que poderiam derrubá-la do poder. E trata da
investigação aberta contra o ex-presidente Lula. "Não é de se estranhar
que a situação no Brasil hoje se assemelhe a um filme de terror sem fim. Ainda
assim, há boas notícias surgindo".
O jornal cita o entusiasmo com as investigações
sobre a Petrobras como mostra da força das instituições democráticas no país. O
texto afirma que, em um país onde poderosos se julgam acima da lei, Marcelo
Odebrecht, dono da maior empreiteira brasileira, foi preso e executivos da
Camargo Correa, condenados a mais de 10 anos de prisão. Ao tratar das
investigações abertas contra a Odebrecht em outros países, afirma: "Se
isso levar políticos e líderes empresariais a pensar duas vezes antes de pagar
suborno, terá sido um enorme avanço na luta da América Latina contra a
corrupção".
Embora elenque os sinais auspiciosos da Lava Jato,
o jornal alerta para o fato de que Dilma enfrentará três anos solitários à
frente do Palácio do Planalto. "Os brasileiros são pragmáticos. Então, o
pior cenário, de um processo de impeachment caótico, deve ser evitado. Ainda
assim, o mercado começa a precificar esse risco. Tempos ainda piores podem
estar chegando para o Brasil".
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