O ainda ministro resolve
financiar a música com R$ 100 milhões oriundos do FAT, que já é deficitário. É
o fim da picada!
Por Reinaldo
Azevedo, 03/05/2016,
www.veja.com.br
O país está na pindaíba, quebrado. Os
doentes, como as ramas das batatinhas se esparramam pelo chão. Mas o ministro
da Cultura, o Juca Ferreira, no apagar das luzes, resolveu torrar R$ 100
milhões, a juros subsidiados, com música.
Não, amiguinhos! Não estou fazendo
aquela crítica rasa de que os esquerdistas das artes gostam de fazer caricatura
quando se referem àquilo que chamam “direita”: “Oh, enquanto houver um doente
sem assistência no país, não se gasta dinheiro com música ou poesia…” A crítica
não é essa. Que o Ministério eleja as suas prioridades dentro do Orçamento que
tem.
Ocorre que a porcaria que Ferreira está
fazendo é outra. Ele decidiu criar uma linha de crédito de R$ 100 milhões para
a música com recursos oriundos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). A linha
de crédito será operada pelo Banco do Brasil, a juros subsidiados: 12,5% ao
ano.
Certo! Até aí, bem! O FAT poderia estar
nadando em dinheiro. Por que não financiar alguns trinados, não é? Mas a
verdade é outra, lembra à Folha o pesquisador do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio Vargas José Roberto Afonso, especialista em contas
públicas: “O FAT está deficitário. O que se gasta com seguro-desemprego, abono
salarial e programas de treinamento supera a arrecadação. O Tesouro é que cobre
o déficit.”
Bem, se o Tesouro cobre o déficit do
FAT e se o FAT vai financiar com juros subsidiados a música, a companheira
Dilma está subsidiando a música fabricando… déficit. A cada vez que esse
dinheiro financiar um trinado haverá um pobre ainda mais pobre.
Ferreira ainda posa de valente e diz
esperar que suas decisões sejam respeitadas: “O ideal é que os governos, quando
chegam, sejam legítimos ou não — e em minha opinião este que pode estar
chegando não é —, têm de respeitar uma cadeia de construção do Estado
brasileiro. Não pode fazer terra-arrasada de processos que trouxeram benefícios
para os artistas brasileiros”.
Entendi. Juca Ferreira acha que a
pobrada pode muito bem arcar com um peso extra para financiar os nossos
“artistas”.
Essa gente me dá é nojo!
É por isso que Michel Temer tem de
pensar com muito cuidado quem indica para o Ministério da Cultura. É preciso
que a escolha recaia sobre alguém que tenha intimidade com esses mecanismos de
subsídio à produção artística e com as leis de incentivo à cultura. Ou o
coitado será vítima de um viveiro de sanguessugas. Ou melhor: as vítimas
seremos nós.
A juros subsidiados.
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