Comando da EBC suspende contratos
milionários para renegociar. Renegociar? Na quase totalidade dos casos, é para
demitir mesmo!
Por Reinaldo
Azevedo, 26/05/2016,
www.veja.com.br
A TV Brasil na forma em que existe é
uma das invenções mais caras da era petista. Dá traço de audiência, mas paga
salário de gente grande. Não é por acaso que custa R$ 1 bilhão por ano. Num
país quebrado.
Aderbal Freire Filho, que acha que o
impeachment é golpe, tem um programa sobre teatro chamado “A Arte do Artista”.
Para dar pinta lá uma vez por semana, recebe R$ 68 mil mensais. Tem contrato
até o fim do ano.
Aderbal é casado com Marieta Severo,
aquela que cantou as glórias do PT no “Domingão do Faustão”, ex-mulher de Chico
Buarque, que exalta os feitos da legenda em toda parte.
Outro que não passa apertado é Luis
Nassif, com um programa também semanal chamado “Brasilianas.org”. Embora
ninguém veja a defesa que ele faz do governo — não na TV ao menos —, tem um
contrato anual de R$ 761 mil — mais de R$ 63 mil por mês. Ou R$ 15.750 por
programa!
Nassif até tenta fingir diversidade com
alguns temas de interesse geral. Quando envereda para a política e para a
economia, é mero porta-voz do governo petista (veja aqui). Lúcia Mendonça, diretora do seu
programa, tem um contrato de R$ 289 mil/ano.
Paulo Markun também fez um bom acordo
para um programa semanal: R$ 585 mil anuais. Em favor de Markun — e não tenho
nenhum problema em dizer isto —, observo que mantém ao menos uma pauta plural
em “Palavras Cruzadas” (está aqui).
Não é o caso de Paulo Moreira Leite,
também com uma, por assim dizer, atração por semana chamada “Espaço Público”.
Tem um contrato anual de R$ 279 mil. Só entrevista esquerdistas e governistas —
na maioria das vezes, petistas. Vejam.
E Emir Sader, o grande intelectual de
um país chamado “Emirados Sáderes”, que desenvolveu até uma gramática própria?
Para fazer alguns pequenos comentários — em que fala bem do PT e das esquerdas
do Brasil e do mundo e mal de todos os seus adversários, recebe R$ 227 mil por
ano. Tereza Cruvinel, que hoje só dá alguns pitacos políticos, mantém um
contrato anual de 182 mil.
Exceção feita a Aderbal — não entendi
ainda por quê —, todos os outros contratos estão suspensos para ser
renegociados.
A questão particular
Não sei exatamente o que o novo comando
da TV Brasil entende por “renegociação”. Não entro no mérito das convicções
políticas de um Paulo Markun, por exemplo, porque não sou policial de
consciências. Havendo uma TV Pública, ele tem trajetória, estofo e biografia
para fazer um programa plural. Se o novo valor que lhe vai ser proposto é ou
não aceitável, isso é com ele.
Nunca vi o seu programa, mas ele é um
entrevistador competente. A pauta de “Palavras Cruzadas” evidencia não se
tratar de mero prosélito do petismo.
Nos outros casos, lamento, basta uma
pesquisa rápida para a gente perceber que não se trata de jornalismo, mas de
militância política. E feita com o nosso dinheiro. O “jornalismo” que essas
pessoas fazem, inclusive fora da TV Brasil, não as habilita a estar numa TV
Pública — a menos que esta sirva de cabide de emprego e de remuneração por
serviços prestados fora dali.
Elas têm simplesmente de ser demitidas
a bem do serviço público. O nome disso é aparelhamento do estado.
A questão geral
Eu não seria eu se não dissesse o que
penso, certo? Sou contra a existência de uma TV que consome R$ 1 bilhão por ano
para ninguém ver. Deveria ser simplesmente fechada. Mas sou realista: acho
difícil que aconteça.
Que Laerte Rimoli, novo presidente da
EBC, à qual se subordina a TV Brasil, chame especialistas da área para estudar
e implementar um modelo de TV pública que não assalte os cofres e não sirva de
cabide emprego — de petistas ou pessoas de quaisquer outras legendas.
Reitero: eu não acho que a TV Brasil
deva deixar de ser a emissora do PT para ser a emissora do PMDB. Como ente
público, tem de ser a emissora que respeite os valores da Constituição. E o bom
mesmo é não haver uma TV Brasil. Se ninguém vê, pra quê?
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