O Tribunal Superior Eleitoral
sumiu com os pareceres técnicos que sugeriam a reprovação das contas do PT na
época do mensalão e da campanha da presidente Dilma em 2010. Documentos revelam
que isso ocorreu por determinação do ministro Ricardo Lewandowski
Por Rodrigo
Rangel, 10/08/2013,
www.veja.com.br
Em outubro do ano passado, o Supremo Tribunal
Federal monopolizava as atenções do país quando alinhavava as últimas sentenças
aos responsáveis pelo escândalo do mensalão. Naquele mesmo mês, só que em outra
corte de Justiça e bem longe dos holofotes, um auditor prestava um
surpreendente depoimento, que jogava luz sobre episódios ainda nebulosos que
envolvem o maior caso de corrupção da história. O depoente contou que, em 2010,
às vésperas da eleição presidencial, foi destacado para analisar as contas do
PT relativas a 2003 - o ano em que se acionou a superengrenagem de corrupção.
Foi nessa época que Delúbio Soares, Marcos Valério, José Genoino e o restante
da quadrilha comandada pelo ex-ministro José Dirceu passaram a subornar com
dinheiro público parlamentares e partidos aliados. Havia farto material que
demonstrava que a contabilidade do partido era similar à de uma organização
criminosa. Munido de documentos que atestavam as fraudes, o auditor elaborou
seu parecer recomendando ao tribunal a rejeição das contas. O parecer, porém,
sumiu - e as contas do mensalão foram aprovadas.
Menos de dois meses depois, ocorreu um caso
semelhante, tão estranho quanto o dos mensaleiros, mas dessa vez envolvendo as
contas da última campanha presidencial do PT. O mesmo auditor foi encarregado
de analisar o processo. Ao conferir as planilhas de gastos, descobriu diversas
irregularidades, algumas formais, outras nem tanto. Faltavam comprovantes para
justificar despesas da campanha. A recomendação do técnico: rejeitar as contas
eleitorais, o que, na prática, significava impedir a diplomação da presidente
Dilma Rousseff, como determina a lei. Ocorre que, de novo, o parecer nem sequer
foi incluído no processo - e as contas de campanha foram aprovadas. As duas
histórias foram narradas em detalhes pelo auditor do Tribunal Superior
Eleitoral, Rodrigo Aranha Lacombe, em depoimento ao qual VEJA teve acesso.
Ambas cristalizam a suspeita de que a Justiça Eleitoral manipula pareceres
técnicos para atender a interesses políticos - o que já seria um escândalo. Mas
há uma acusação ainda mais grave. A manipulação que permitiu a aprovação das
contas do mensalão e da campanha de Dilma Rousseff teria sido conduzida
pessoalmente pelo então presidente do TSE, o ministro Ricardo Lewandowski.
Nenhum comentário:
Postar um comentário