Presidente da CPI dos Fundos de Pensão, deputado Efraim Filho (DEM-PB)
afirma que de quatro entidades investigadas, três estão relacionadas ao PT
Por Marcela Mattos, de Brasília,
25/10/2015, www.veja.com.br
Deputado Efraim Filho, presidente da CPI: 'Dos quatro fundos hoje
investigados, três deles são comandados por filiados ao PT'
Após o fim melancólico da CPI da Petrobras,
encerrada nesta semana depois de poupar
todos os políticos e
parlamentares envolvidos no propinoduto que sangrou a estatal, deve ganhar os
holofotes na Câmara dos Deputados outra comissão de inquérito com potencial
avassalador para o governo e o PT. Ainda despercebida, a CPI dos Fundos de
Pensão se debruça, há dois meses, sobre contratos com indícios de também terem
sofrido influência de figuras petistas já conhecidas do noticiário policial,
como o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu, ambos presos na Operação Lava Jato. De acordo com o presidente da CPI,
o deputado Efraim Filho (DEM-PB), já está constatado que o mesmo modus
operandi usado nos escândalos do mensalão e do petrolão foi repetido
nos recursos destinados a aposentados e pensionistas. "O que a gente
identifica é que há uma máquina de corrupção do PT para financiar um projeto de
poder", afirma o parlamentar. O foco da comissão, nos próximos dias, será
conseguir aprovar a convocação do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do
ex-presidente Lula, suspeito de articular o pagamento de propina à nora do
petista com recursos da Sete Brasil, empresa ligada à Petrobras. Leia a
entrevista ao site de VEJA.
A CPI dos Fundos de Pensão também corre o risco de
acabar em pizza?
Toda CPI começa com a presunção de pizza, mas
eu estou otimista de que teremos bons resultados. Há uma diferença de que essa
CPI está sendo comandada pela oposição, então o governo não influencia aqui.
Ainda há a questão do apelo social da comissão, estamos defendendo aposentados
e pensionistas, e isso dificulta também o discurso de blindagem do governo. A
CPI é protagonista dos seus fatos. Nós vamos produzir as provas da nossa
investigação. Nós não temos uma operação Lava Jato ao lado que pauta a
comissão. Para nos ajudar nas apurações, nós requisitamos o apoio de servidores
do Banco Central, do Tribunal de Contas da União, da Comissão de Valores
Mobiliários, da Previc e da Polícia Federal.
Em dois meses, o que a CPI já pôde constatar?
Logo percebemos que o mesmo modus
operandi do mensalão e do petrolão pode ser identificado nos fundos de
pensão, que é o aparelhamento das instituições, o tráfico de influência e o
direcionamento dos negócios para interesses pessoais. Isso em um montante de
350 bilhões de reais em quatro fundos de pensão (Petros, Previ, Funcef e
Postalis).
As delações da Lava Jato podem ajudar nas
investigações?
Sem dúvidas. Já estávamos debruçados sobre o
Postalis e a delação do Fernando Baiano jogou ainda mais luz sobre esse
processo, identificando interesses de pessoas como Eike Batista, João Ferraz
(ex-presidente da Sete Brasil), José Carlos Bumlai (amigo do ex-presidente
Lula) e Lula. O Ferraz esteve na comissão no início do mês e afirmou que se
encontrou com o Lula. Ele falou isso antes da delação, o que já legitima pelo
menos parte das declarações do delator. Agora, há informações de bastidores de
que o próprio Ferraz está em processo de delação na Lava Jato. Ou seja, podem
surgir novas evidências em breve.
Como os dois escândalos de corrupção se relacionam?
O que a gente identifica é que há uma máquina de
corrupção do PT para financiar um projeto de poder. E essa máquina de corrupção
agiu onde ela identificou potencial para isso. Nós já vemos aparecer nomes como
João Vaccari Neto e José Dirceu, figuras que estão nas duas frentes das
investigações. Dirceu, inclusive, já está convocado para a CPI para explicar a
atuação dele na Funcef. No relatório de indiciamento do ex-ministro no âmbito
da Java Jato, há uma tabela feita pela Polícia Federal que aponta duas notas
frias do Milton Pascowitch (lobista também preso) que somam mais de 3 milhões
de reais. E a nota era para a articulação de recursos junto aos fundos de
pensão.
E qual o envolvimento do ex-tesoureiro do PT?
A Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários
de São Paulo), da qual Vaccari foi presidente, acabou fornecendo muita mão de
obra para ocupar cargos de direção das entidades. Muitos dos atuais diretores
dos fundos de pensão têm origem lá no sindicato dos bancários, entre eles o
Antônio Carlos Conquista, presidente da Postalis. Há ainda a suspeita de
tráfico de influência de Vaccari e o doleiro Alberto Youssef para influenciar
decisões nos fundos.
Qual a relação entre partidos políticos e as
irregularidades nos fundos de pensão?
Dos quatro fundos hoje investigados, três
deles são comandados por filiados ao PT: Petros, Funcep e Postalis. Por
"mera coincidência", os três que apresentam déficit. O único que não
é filiado ao PT é a Previ, e é o único fundo que apresenta balanço positivo. É
sintomático. Já podemos perceber uma grande influência do José Dirceu, do João
Vaccari Neto, e, em acordo de delação, o Fernando Baiano disse que quem indicou
o João Ferraz a Sete Brasil foi o Antônio Pallocci (ex-ministro da Fazenda). Também
queremos entender a participação de José Carlos Bumlai, que é próximo a João
Ferraz e ao ex-presidente Lula. A CPI está fazendo um levantamento que mostra
como as indicações de investidores acabaram virando cabide de empregos para
apadrinhamentos e pretende apresentar uma certa vinculação entre designações
para esses conselhos e militância partidária.
Há a garantia de que, se convocado, o Bumlai vai prestar
depoimento?
Ele será chamado a depor nem que seja à
força. Para ele ir, depende de um ato exclusivamente meu, que sou presidente.
Por isso que eu digo que uma CPI comandada pela oposição é diferente. A minha
dificuldade é que para aprovar o requerimento é necessário o apoio da maioria
do colegiado. Depois de aprovado, ele senta lá no outro dia - ele vai e vai
rápido. Agora, está claro que a blindagem do governo é para não deixar aprovar
essa convocação. O governo mobilizou a sua base e tenta tratorar a votação. Mas
há um lado bom que, com a divulgação do envolvimento dele, a gente tem ganhado
um tempo para que a própria opinião pública tome conhecimento da atuação do
amigo do Lula. Eu consigo identificar alguns votos flutuantes que são muito
sensíveis à opinião pública. A gente acaba trazendo esses votos para contribuir
com o aprofundamento das investigações na CPI.
A CPI já teve acesso a documentos relacionados à
Lava Jato?
Eu estive em uma audiência com o juiz Sergio Moro e
ficou acertado o compartilhamento das informações e ainda a liberação do
doleiro Alberto Youssef para prestar depoimento. Pedimos também o
compartilhamento da quebra de sigilo do Vaccari e do próprio Youssef. A Lava
Jato tem documentos que para eles eram questões secundárias, mas que é o nosso
foco, como a descoberta de uma relação dos investigados com a Funcef.
O que já está em investigação sobre os fundos de
pensão?
São mais de trinta inquéritos da Polícia Federal
relacionados a fundos de pensão - o Postalis é recordista deles e também está
sendo investigado. A Funcef e a Petros também tem algumas investigações em
curso. Já a Previ, que tem uma governança mais sólida, tem um processo menor.
Faltam menos de dois meses para o fim da CPI.
Haverá tempo suficiente para a análise de toda essa documentação?
O prazo de encerramento é no dia 8 de dezembro,
mas, obviamente, vamos solicitar a prorrogação. Ainda que estejamos no recesso,
a investigação não para. Nós temos um volume de informação tão grande que
teremos um trabalho volumoso para a equipe de consultoria. Pedimos todas as
informações de todos os contratos desses quatro fundos. Tem muita coisa que a
gente ainda não conseguiu se debruçar. Quatro meses é um tempo extremamente
exíguo, eu espero contar com a prorrogação. A Operação Lava Jato tem dois anos
e meio. Nós ainda estamos na primeira fase. A idéia é que a seja só o primeiro
passo para uma investigação maior.
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