Senador dá lição de moral,
critica fisiologismo e diz que país está "no ápice de todas as
crises"
Por Felipe
Moura Brasil, 12/05/2016,
www.veja.com.br
Investigado na Operação Lava Jato em um sem-número
de inquéritos, suspeito de abocanhar 26 milhões de reais em propina do petrolão
e senhor absoluto do aparelhamento na BR Distribuidora, o senador Fernando
Collor de Mello, pelo menos até hoje o único presidente impichado na história
do Brasil, ocupou a tribuna do Senado tarde da noite nesta quarta-feira para
passar um pito na administração Dilma Rousseff, um governo que apontou como
adepto de “cooptação” e de um “fisiologismo que envergonham a classe política”.
Alvo de investigações que indicam que vilipendiou
por anos a fio empresas ligadas à Petrobras, Collor se arvorou a condenar o
silêncio do PT diante dos corruptos do petrolão, fez menções ao escândalo que
levou mensaleiros petistas para a cadeia e resumiu:
“Chegamos ao ápice de todas as crises”.
Em referência clara ao esquema do mensalão, o
primeiro escândalo que se abateu sobre o governo petista, Collor disparou:
“Há 11 anos vimos o choro de
parlamentares decepcionados com as agruras e a verdade crua de um partido.
Hoje, envoltos em tormentos muito piores, não vejo sequer uma lágrima, uma
lágrima de constrangimento que seja. Ao contrário: o que se vê é a defesa
rouca, cega, mouca e intransigente. Entre retóricas e evidências, entre quimeras
e realidades, entre golpe e a farsa do golpe, apesar de tudo e por tudo isso a
população brasileira evoluiu na participação política. Mas admitamos que
regredimos no agir da política”.
Em seu discurso, o ex-presidente indicou que deve
votar a favor do impedimento da presidente Dilma, embora tenha feito críticas à
Lei 1079, de 1950, que detalha os crimes de responsabilidade, e a
instabilidades políticas decorrentes do presidencialismo.
“Nesta quadra de adversidade para uns e
tragédia para outros que constatamos que o maior crime de responsabilidade está
na irresponsabilidade pelo desleixo com a política, na irresponsabilidade com a
deterioração econômica de um país, na irresponsabilidade pelos sucessivos e
acachapantes déficits fiscais e orçamentários, na irresponsabilidade pelo
aparelhamento desenfreado do Estado, que o torna inchado, arrogante e ineficaz,
na irresponsabilidade pela ação ou omissão perante obstruções da justiça. É
crime de responsabilidade a mera irresponsabilidade com o país, seja por incompetência,
negligência ou má-fé”, disse
Collor.
Em boa parte de seu discurso, comparou o próprio
impeachment, em 1992, ao processo que vai confirmar o afastamento de Dilma
nesta quinta-feira, criticou a velocidade do procedimento contra ele – quatro
meses da apresentação da denúncia ao julgamento final -, alfinetou o fato de a
presidente petista utilizar a advocacia da União em sua defesa e criticou uma
suposta violação ao direito de defesa em seu processo.
“O rito é o mesmo, mas o ritmo e rigor
não”, resumiu.
O senador também se remeteu à introdução feita por
Barbosa Lima Sobrinho no processo de impeachment contra ele, em 1992, e afirmou
que o cenário sob a gestão Dilma é uma “confluência clara e entrelaçada” de
crises política, econômica, financeira, institucional e – Collor ressaltou –
“moral”.
“Jamais o Brasil passou como hoje por
uma confluência tão clara, tão entrelaçada e aguda de crises na política, na
economia, na moralidade e na institucionalidade. Chegamos ao ápice de todas as
crises. Chegamos às ruínas de um governo, às ruínas de um país. Este é o motivo
pelo qual aqui e agora discutimos possíveis crimes de responsabilidade da
presidente da República”,
discursou.
Em tom professoral, Collor informou ter aconselhado
Dilma em momentos de crise e se colocado à disposição, embora ao final,
reclamou, tenha sido solenemente ignorado.
“A auto-suficiência pairava sob a razão”, reclamou.
Trigésimo oitavo senador dos 71 inscritos para
discursar no plenário da sessão, que analisa a admissibilidade do pedido de
impeachment contra Dilma Rousseff ignorou estrategicamente; o fato de ter se
aliado ao PT para voltar à proa e atacou:
“Não há como recuperar esse modelo de
coalizão, de cooptação e fisiologismo que envergonham a classe política”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário