Por Reinaldo Azevedo, 11/08/2015,
www.veja.com.br
Há algumas coisas na Operação Lava Jato
que me parecem um pouco estranhas. Tentei achar a lógica que as explica e,
confesso, não consegui. Talvez vocês me iluminem ou mesmo a força-tarefa se
encarregue de responder. Vamos ver.
Hamylton Padilha, um dos delatores, que
está longe de integrar a lista das maiores celebridades da operação, fez um
acordo de delação premiada e se comprometeu a devolver R$ 70 milhões — sem
dúvida, uma bolada.
Padilha relatou pagamento de propina de
US$ 31 milhões à diretoria da área Internacional da Petrobras na contratação do
navio-sonda Titanium Explorer, negócio feito entre a estatal e uma empresa da
qual ele era representante: a Vantage Drilling Corp. O diretor da área, à
época, era Jorge Zelada.
Muito bem! Se o tal Padilha topa
devolver R$ 70 milhões, a gente deve imaginar que a dinheirama corria mesmo
solta. Você, leitor, e a vasta maioria de seus confrades nunca nem devem ter
ouvido falar do tal Padilha, uma figura marginal do petrolão.
Pois bem… Todos devemos supor que, na
organização criminosa, Paulo Roberto Costa, por exemplo, exercesse papel bem
mais importante do que o Padilha das Couves, certo? E Alberto Youssef? Não
obstante o protagonismo da dupla, o primeiro aceitou devolver os mesmos R$ 70
milhões, valor idêntico ao de Julio Camargo, aquele que primeiro inocentou e
depois acusou Eduardo Cunha. Youssef, o doleiro universal da turma, topou
entregar apenas R$ 55 milhões, menos de um quinto da bolada que será devolvida
por Pedro Barusco, esta em dólares: US$ 97 milhões. Vamos ver quanto custará a
de Renato Duque, que era chefe de Barusco…
Desculpem-me a ortodoxia, mas tendo a
achar que, quanto mais central é o papel de um criminoso na organização — e,
tudo indica, Youssef podia mais do que Barusco, que podia menos do que Costa —,
mais dinheiro ele tem condições de amealhar ou de desviar, não é? Para si ou
para os outros. E José Dirceu? Na condição, segundo a força-tarefa, de um dos
mentores de toda a safadagem, é acusado de ter amealhado, via consultorias de
fachada, R$ 39 milhões, com mais alguns milhares aqui e ali em reforma de
imóveis e coisa e tal.
Transformem tudo isso num enredo
policial. A produtora devolveria o roteiro para uma revisão. Se subordinados
lucram mais do que os chefes e se personagens periféricos amealham muito mais
do que os centrais, algo está muito mal contado.
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