Por Augusto Nunes, 26/01/2016,
www.veja.com.br
Editorial do
Estadão:
Notícias sobre envolvimento de políticos oposicionistas em ações de
corrupção são invariavelmente exploradas pelos líderes petistas em
pronunciamentos oficiais e pela militância do partido nas redes sociais como se
isso fosse capaz de justificar e legitimar
o assalto aos cofres públicos praticado em dimensões oceânicas desde que Lula e
sua tigrada assumiram o poder. Há corruptos, sim, também entre os
políticos da oposição. Qual é a novidade? Negar essa obviedade é tão
despropositado e ridículo quanto o chefão do PT se proclamar o mais honesto dos
brasileiros. O que a prática generalizada da corrupção na gestão da coisa
pública demonstra é que o sistema político patrimonialista em vigor desde os
tempos coloniais é viciado e não serve aos propósitos de uma sociedade que se
pretende moderna e genuinamente democrática. O sistema precisa urgentemente de
reforma. E em 13 anos no poder o PT não moveu uma palha nesse sentido.
O fato de os petistas explorarem em benefício próprio as notícias sobre
corrupção praticada pelos oposicionistas demonstra, desde logo, que essas
notícias existem e são veiculadas por todos os meios de comunicação, o que
desmonta o argumento de Lula & Cia. de que impera no país uma “imprensa
golpista” que protege a oposição, manipula o noticiário em benefício dos
interesses da “burguesia” e por isso se esmera em caluniar o PT, único e
legítimo defensor dos fracos e dos oprimidos.
É verdade que a quantidade das notícias sobre a delinqüência dos
petistas e aliados – a rigor, cúmplices – sobrepuja em muito o número de
notícias sobre as lambanças de gente da oposição. Mais uma vez, porém, qual é a
novidade? Há mais de uma década o partido que surgiu para lutar contra “tudo
isso que está aí” chegou à conclusão de que não adianta dar murro em ponta de faca
e se entregou sem o menor constrangimento ao aperfeiçoamento das mesmas
práticas que passara a vida condenando. Tudo em nome é claro, de uma causa
nobre: a perpetuação no poder da “opção popular”.
E veio o mensalão, brincadeira de criança comparada com a “privatização”
da Petrobras em benefício de políticos, empresários e espertalhões de variadas
especialidades. Durante anos seguidos, a partir do primeiro mandato de Lula, o
assalto aos cofres das estatais foi-se tornando cada vez mais amplo e bem-sucedido,
a ponto de os envolvidos na mamata nem imaginarem que a lei os pudesse
alcançar. Tiveram uma surpresa com o processo do mensalão. E em março de 2014
uma operação policial de nome estranho, Lava Jato, começou a puxar o primeiro
fio da meada que hoje parece inesgotável.
A partir de então, praticamente todo dia surge à notícia de um fato novo
no trabalho da Polícia e do Ministério Público federais. Praticamente toda
semana algum juiz, não apenas Sergio Moro, manda para a cadeia um figurão pego
com a mão na massa. Os principais delitos praticados são o tráfico de
influência, o favorecimento a prestadores de serviços públicos, inclusive na
forma de superfaturamento, e o desvio de recursos para o fim de pagamento de
propina. Crimes que obviamente só podem ser praticados com a cumplicidade de
quem tem o poder de prover. O que não costuma ser o caso dos oposicionistas.
Assim, a tigrada aperfeiçoou métodos, mas não é original na essência do
que faz. Há mais de meio século, os correligionários de um importante político
paulista, que foi prefeito da capital e governador do Estado, proclamavam com
orgulho: “Rouba,
mas faz”. Hoje e, a tigrada rouba, deixa roubar não “faz”. A não ser que se
considere um progresso o fato de o atual governo lulopetista estar pondo a
perder os avanços que os brasileiros mais pobres conquistaram quando o governo
Lula tinha dinheiro para investir em programas sociais.
Melhor faria agora
a tigrada petista se levasse a sério o diagnóstico feito semanas atrás pelo
ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Jaques Wagner: “O PT
errou ao não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo Lula. E aí
não mudou os métodos do exercício da política”. E agora vai mudar?
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