Só haverá esperança de salvação
para quem conseguir afinar-se com a voz das ruas
Por Augusto
Nunes, 05/05/2016,
www.veja.com.br
Na madrugada desta quinta-feira, na abertura do programa
que trataria do iminente despejo da inquilina do Planalto, Jô Soares fez de
conta que o que lhe tirava o sono não é o que Dilma Rousseff faz há mais de
cinco anos, mas o que poderia fazer Eduardo Cunha em dois ou três dias de
interinidade caso o titular Michel Temer tivesse de viajar.
“Já imaginaram o Cunha presidente?”, alarmou-se o
apresentador. A cara de patriota aflito avisou aos gritos que o programa fora
gravado horas antes ─ e envelhecera irremediavelmente. Quando foi para o ar, o
ministro Teori Zavascki já havia mandado para o espaço o motivo da insônia de
Jô.
A decisão, que deverá ser aprovada nesta tarde pelo
plenário do Supremo Tribunal Federal, reafirma que maio será um mês
especialmente generoso com o país que presta. O fim do reinado de Eduardo Cunha
é mais que uma ótima notícia para quem não tem bandidos de estimação.
É também uma chance oferecida à Câmara dos
Deputados para ficar menos parecida com um clube de cafajestes cujos sócios se
absolvem mutuamente e, quando o camburão se aproxima, escapam pela trilha do
foro privilegiado. Enfim, o STF arriou outra bandeira malandra dos milicianos
do PT, dispensados desde hoje de saírem por aí berrando “Fora Cunha!”
Agora será mais fácil enxergar as coisas como as
coisas são. Por exemplo: os crimes que colocaram Cunha na mira da Lava Jato
foram praticados durante o governo Lula, que lhe entregou as chaves dos porões
de Furnas. E o parlamentar do PMDB fluminense foi até outro dia um bom
companheiro dos poderosos patifes que avançam rumo ao penhasco.
Se é improvável que outro parlamentar tocasse o
processo de impedimento de Dilma com tanta celeridade e eficácia, também é
certo que um presidente da Câmara com mais apreço pela lei teria endossado sem
tanta demora a ação de despejo. Convém lembrar, enfim, que os brasileiros
decentes jamais acreditaram na inocência de Cunha. Fez-se a vontade dos homens
de bem.
O impeachment que será formalizado pelo Congresso,
não custa lembrar, nasceu nas ruas, cresceu nas ruas e ganhou musculatura nas
ruas. Já era uma imposição nacional quando foi encampado pelos partidos de
oposição e, depois, pelos governistas que pressentiram o fim. A Câmara fez o
que quis o povo, representado por milhões de manifestantes. E assim será no
Senado.
Michel Temer chegará à Presidência por determinação
constitucional. No próximo programa, Jô Soares talvez se assuste com a ideia de
vê-lo no lugar de Dilma. Alguém precisa lembrar-lhe três detalhes relevantes.
Primeiro: Temer se elegeu vice, duas vezes, graças ao PT. Segundo: Temer só
conseguirá governar se conseguir entender-se com a nação que acordou.
Não há chances de salvação para quem não estiver
afinado com a voz das ruas.
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