Por Juremir Machado
da Silva, 20/06/2013,
www.correiodopovo.com.br
O vandalismo é sempre inaceitável. A destruição de
contêineres e de vidraças, embora muito criticável, é uma violência bem menor
do que a praticada com aparentes bons modos pelos privilegiados do Brasil. Os
saques, como em São Paulo, são infames. Há, no entanto, outras formas infames
de violência. Renan Calheiros novamente na presidência do Senado é uma bofetada
na cara dos brasileiros honestos. José Sarney jamais ter sido alcançado pela
justiça é um tapa no rosto de quem espera meses por atendimento médico público.
Bilhões de reais para estádios de futebol enquanto faltam hospitais e escolas
de tempo integral são socos na boca do estômago dos mais necessitados. Lula
viajando pelo mundo patrocinado por empreiteiras é uma agressão descarada.
Pagamentos retroativos de auxílio moradia e
alimentação ao judiciário é outra bofetada no rosto incrédulo de todos nós. A
alteração de nossas leis para contentar a FIFA tem o efeito de choques
elétricos nos órgãos genitais dos nossos cidadãos. A confissão feita por políticos
de que obras fundamentais só estão sendo realizadas por causa da copa do mundo
é um pontapé em nossas canelas. Os aumentos injustificados das passagens de
ônibus para garantir a taxa de lucro de empresas gananciosas foi um dos mais
estrondosos atos de vandalismo praticados no Brasil pós-ditadura.
A construção de estádios faraônicos em cidades sem
futebol dói no corpo de cada brasileiro como um ato de tortura.
São muitas as bofetadas na cara de cada brasileiro.
É uma bofetada os mensaleiros petistas e seus aliados, condenados pelo STF, não
estarem cumprindo suas penas e dois deles, João Paulo Cunha e José Genoíno,
integrarem a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados; outra
estrondosa bofetada é a permanência de um deputado homofóbico na presidência da
Comissão de Direitos Humanos. É uma bofetada os mensaleiros tucanos, inventores
do golpe em Minas Gerais, não terem ainda sido julgados; mais uma bofetada é o
Brasil enterrar R$ 28 bilhões num torneio de futebol chamado copa do mundo; bofetada
diária e humilhante é o papel da mídia conservadora sempre ao lado do poder
econômico e sempre pronta a criminalizar movimentos e manifestações sociais.
Tomamos bofetadas cotidianas. Somos vítimas do
vandalismo engravatado de políticos, empreiteiros, adulteradores de leite,
exploradores de pedágios, aproveitadores de serviços públicos sem licitação e
tantas outras modalidades invisíveis de depredação do patrimônio público e do
que é de cada um de nós. Somos “simbolicamente” violentados, estuprados, pisoteados,
enganados, enrolados, tudo em nome da governabilidade, do desenvolvimento
econômico, da racionalidade, da responsabilidade, da sensatez e até da
empregabilidade.
A corrupção é uma violência histórica contra os
brasileiros que se renova a cada governo, com qualquer partido no poder, na
ditadura ou na democracia. A maior bofetada é o cinismo dos políticos que,
obrigados a abdicar de algum privilégio, tratam de retomá-lo com novas
legislações e novo nome pouco depois. A plebe está cansada de apanhar.
Os donos do poder que abram o olho.
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