A carta retrata o nível de
indigência intelectual e moral dos integrantes da máquina de difamação que,
sustentada por dinheiro público, se especializou em contar mentiras, plantar
boatos e caluniar adversários políticos do PT
Por Augusto
Nunes, 29/05/2016,
www.veja.com.br
Editorial do Estadão
Depois de três dias de discussões sobre a crise do
País, os participantes do 5.º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas
Digitais – que contou com a participação da presidente afastada Dilma Rousseff
numa de suas sessões – lançaram uma carta aberta à sociedade cujo teor parece
ter sido inspirado em escrachadas patuscadas da televisão ou em chanchadas do
cinema.
Escrita com o objetivo de denunciar o “golpe
parlamentar” que afastou Dilma do poder e denunciar à ilegitimidade do governo
do presidente interino Michel Temer, a carta, escrita em português precário –
meio parecido com o que a presidente afastada fala, o que mostra que fez escola
–, raciocínio tortuoso, viés ideológico e aversão à verdade, é mais do que um
besteirol. Retrata de modo inequívoco o nível de indigência intelectual e moral
dos integrantes da máquina de difamação que, sustentada por dinheiro público
durante os 13 anos e meio do lulopetismo, se especializou em contar mentiras,
plantar boatos, caluniar adversários políticos do PT e agredir moralmente
repórteres e colunistas dos grandes jornais, sempre sob o pretexto de defender
a “democratização da comunicação”.
A carta aberta começa acusando o Supremo Tribunal
de Federal de ser um “poder acovardado”. Prossegue afirmando que o governo
Dilma teria subestimado a força dos jornais, revistas e televisões “a serviço
do conservadorismo”. Alega que Temer é elitista e machista, por não ter
indicado nenhuma mulher, negro ou trabalhador para seu Ministério. Diz que ele
destruirá as empresas estatais do País e entregará os recursos do pré-sal “às
multinacionais do petróleo, recolocando o Brasil na órbita dos Estados Unidos”.
Criticam, ainda, a demissão do presidente da Empresa Brasil de Comunicação
(EBC), que havia sido nomeado por Dilma dias antes da votação da abertura do
impeachment pelo Senado. Aparelhada pelo PT, a empresa é uma tevê estatal
disfarçada de televisão pública que foi criada em 2007 pelo governo Lula.
Apesar de ter consumido mais de R$ 3,6 bilhões de recursos federais nos últimos
anos, só conseguiu chegar a 1% da audiência duas vezes – quando mostrou um
documentário sobre o Rio Reno e quando apresentou um filme de Mazzaropi. Nos
demais dias, a EBC – que emprega a peso de ouro alguns participantes do 5.º
Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais – jamais saiu do traço.
A carta aberta também apóia ocupações de prédios
públicos, como forma de “resistência contra o governo golpista”. Propõe ampla
cobertura das manifestações contra Temer, das ações que permitam o retorno de
Dilma ao Palácio do Planalto e das notícias que mostrem mulheres, jovens
negros, militantes da reforma agrária e povos indígenas como “vítimas mais
imediatas da escalada autoritária”.
Dois parágrafos da carta aberta merecem destaque.
Um é o que afirma que o governo interino priorizará a “comunicação chapa
branca, favorecendo a Globo na distribuição de verbas públicas e usando
dinheiro do contribuinte para salvar organizações moribundas, como a editora
Abril e o ex-Estadão” (sic), cujos proprietários, além de participar do
“sistema corrupto de poder que tenta se perpetuar sob a presidência de Temer”,
seriam “beneficiários de contas suspeitas em paraísos fiscais”. O outro afirma
que o golpe faz parte de uma “estratégia de recolonização do continente e de
desestabilização dos Brics” – plano esse que teria entre seus líderes o titular
do Ministério das Relações Exteriores, José Serra, que é classificado como
“conspirador parceiro da Chevron”.
Na parte final da carta, os blogueiros são
taxativos. “Não daremos trégua à Globo, a Temer, aos traidores que se dizem
sindicalistas, nem aos tucanos e empresários da FIESP, que agiram a serviço do
golpismo. Resistiremos nas ruas e nas redes”, prometem eles. Se alguém deve
recear essas ameaças certamente são os redatores de programas de humorismo da
televisão. Agora eles têm nesses blogueiros e ativistas fortes concorrentes.
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