Lula, que já naquela época não
sabia de nada, orçou a ladroagem congressual em 300 picaretas (e, ao ganhar poder, aliou-se a todos)
Por Augusto
Nunes, 20/11/2016,
WWW.VEJA.COM.BR
Texto de Carlos Brickmann
Ali Babá no Brasil não teria a menor chance. Nas
Mil e Uma Noites derrotou 40 ladrões, mas como enfrentaria as fabulosas hordas
de ladrões que conhecem a senha dos cofres públicos? Lula, que já naquela época
não sabia de nada, orçou a ladroagem congressual em 300 picaretas (e, ao ganhar
poder, aliou-se a todos). Errou feio ao subestimar o número. Mas, embora não
seja chegado à leitura de filósofos e pensadores, compreendeu o pensamento de
John Dalberg, o primeiro barão de Acton, “Todo poder corrompe”. Abriram-se as
porteiras e cada um tratou de garantir o seu.
Um ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, foi preso,
acusado de receber R$ 224 milhões em pixulecos. No custo das obras, somavam-se
7%, dos quais, diz a força-tarefa da Lava Jato, 5 eram para Cabral, 1 para o
assessor Hudson Braga e 1 para dividir entre alguns conselheiros do Tribunal de
Contas do Estado. Fala-se também de uma mesada paga a Sua Excelência por
empreiteiras. No presídio, encontrou outro ex-governador, que já foi aliado e
hoje é adversário, Anthony Garotinho – cuja esposa é prefeita de Campos, cuja
filha é deputada federal. Ambos foram, em épocas distintas, aliados e
adversários do petismo. Os dois, aliás, não estão juntos no presídio, como
talvez fosse educativo: adversários quando no poder, forçados ao mesmo destino.
Uma decisão judicial superior autorizou Garotinho que fosse para um hospital
particular e se trate lá.
Conto
carioca
Em 2010, a Prefeitura do Rio investiu R$ 44 milhões
em valores da época na Cidade do Rock, destinada ao Rock in Rio, com garantia
de permanência. “Com o novo local”, disse o empresário Roberto Medina,
proprietário do evento, “o Rock in Rio poderá acontecer a cada dois anos”.
Agora, decidiu-se erguer uma nova Cidade do Rock no
lugar do Parque Olímpico. E os R$ 44 milhões (que hoje, corrigidos, dariam R$
70 milhões)? E o que se gastou para erguer o Parque dos Atletas, que também
deveria ser utilizado depois das Olimpíadas? OK foi gasto da Prefeitura, não do
Estado. Mas o prefeito Eduardo Paes faz parte do grupo político de Sérgio
Cabral e do atual governador Pezão, do PMDB – no poder desde 2007. Talvez esse
caso ajude a entender a crise financeira do Rio.
Cabral?
Quem?
Dilma Rousseff não perde a oportunidade de perder
uma oportunidade. E acaba de perder uma grande oportunidade de calar-se. Mas
fez questão de se manifestar sobre a prisão de Sérgio Cabral: disse que ele
jamais foi seu aliado. Mas foi, sim: há vídeos de ambos juntos em comícios, em
2010. Fazendo campanha. E, quando o PMDB do Rio hesitou em apoiá-la, em 2014,
foi Sérgio Cabral o primeiro a pedir votos para a candidata. Se é para mentir,
e num caso em que sua opinião nem é tão solicitada, por que falar?
O de sempre
Parecia impossível, mas está acontecendo: os gastos
sigilosos com cartões corporativos, no governo Temer, são 40% maiores que os do
governo Dilma. Em seus primeiros cinco meses, Temer já gastou R$ 13 milhões,
enquanto em seus cinco primeiros meses Dilma gastou R$ 9,4 milhões. Os números
foram apurados pelo respeitado site Contas Abertas.
Carmen
Lúcia…
A ministra Carmen Lúcia, presidente do Supremo
Tribunal Federal, argumenta com números: “Um preso no Brasil custa R$ 2,4 mil
por mês, e um estudante de ensino médio custa R$ 2,2 mil por ano. Alguma coisa
está errada na nossa Pátria Amada”. Vai mais longe: “Darcy Ribeiro fez em 1982
uma conferência dizendo que, se os governadores não construíssem escolas, em 20
anos faltaria dinheiro para construir presídios. O fato se cumpriu (…). Quando
não se faz escolas, falta dinheiro para presídios”.
…é isso aí
Carmen Lúcia apontou a solução a longo prazo, mas
acha possível tomar providências imediatas. “A violência no país exige mudanças
estruturantes e o esforço conjunto de governos e da União, para que possamos
dar corpo a uma das necessidades do cidadão, que é ter o direito de viver sem
medo. Sem medo do outro, sem medo de andar na rua, sem medo de saber o que vai
acontecer com seu filho”. E lembrou que, a cada nove minutos, uma pessoa é
morta violentamente no Brasil. “Nosso país registrou mais mortes em cinco anos
do que a guerra na Síria”.
País
tropical
A ministra só não disse o que leva tantos
governantes a investir mais em cadeias do que em educação. É que muitos, depois
de exercer o poder, não é para a escola que vão. João Bussab, decano da
imprensa policial paulista, sugere que os políticos corruptos harmonizem seus
interesses com os do país. Como quiseram construir um shopping exclusivo no
Congresso, que façam um presídio exclusivo para políticos. Estarão cuidando do
futuro.
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