Folha,
01/11/2016,
www.folhadesãopaulo,com.br
Texto de Kim
Kataguiri
As eleições de 2016 mostraram que, para os
monopolistas da moral e das virtudes, pobre só presta quando vota em candidato
de esquerda. No Twitter, diversos comentários absolutamente abjetos de
eleitores de Marcelo Freixo (PSOL) foram feitos contra a maioria esmagadora de
famílias pobres que votaram em seu adversário.
Durante os 13 anos de governo petista, as esquerdas
sempre se vangloriaram de representar os mais pobres. "Demos carro e casa
para os mais pobres! Colocamos eles nas universidades, nos aviões!",
afirmavam, como se falassem sobre marionetes, sobre brinquedos que estavam à
sua disposição.
Após o resultado dessas eleições, os pobres, de
repente, são "burros" e "não sabem votar". Tanto Haddad
(PT) em São Paulo como Freixo no Rio perderam feio nos bairros mais carentes.
Isso só prova que os pobres - assim como as mulheres, os negros, os gays e
todas as outras "minorias oprimidas"— não passam de mero instrumento
político para essa gente. Quando estão sujeitos ao seu cabresto ideológico, são
vítimas. Quando divergem, são o mal da humanidade.
O discurso liberal, por outro lado, demonstrou
ainda mais força nesse segundo turno. Símbolo disso é a vitória de Nelson
Marchezan (PSDB) em Porto Alegre. Deputado federal, o tucano nunca escondeu
suas posições.
Criticou o reajuste do Judiciário - maior
contradição do governo Temer, que dá sinais cambaleantes de compromisso com o
equilíbrio fiscal—, expôs os absurdos R$17 bilhões gastos com a Justiça do
Trabalho e mostrou como o Congresso está muito mais preocupado com o interesse
de sindicatos e grupos de pressão do que com o da sociedade.
Marchezan venceu com um discurso pragmático,
realista. Discurso que muitos acreditavam não funcionar numa eleição
majoritária. Não só isso: o deputado venceu a primeira eleição em Porto Alegre
em que a esquerda tradicional não foi nem para o segundo turno.
A esquerda cultural - aquela que se reúne nos
mesmos bares, ouve as mesmas músicas, usa as mesmas roupas e diz adorar Marx,
mas não tem ideia do que "superestrutura" significa—, percebeu que,
após as grandes manifestações pelo impeachment, seu papinho só cola dentro de
uma bolha extremamente limitada.
Depois de mais de uma década de corrupção
institucionalizada, a população se cansou de discursos bonitos de tão
demagógicos e demagógicos de tão bonitos. Quem sente a crise na pele optou por
mudar. Àqueles que vivem de escrever textão no Facebook do alto de seus
MacBooks, só restou resmungar para a mesma patota de sempre.
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