Ex-deputado Valdemar Costa Neto
articulou, na sede do PR, texto que pode salvar o pescoço dos políticos que
receberam caixa dois
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Um único assunto dominou os principais gabinetes no
Congresso Nacional nesta semana: a temida delação dos executivos da Odebrecht e
o efeito devastador do detalhamento do esquema de pagamento de propina a
políticos dos mais diversos matizes. Em um movimento multipartidário, formou-se
uma tropa em busca de algum tipo de blindagem ao estrago que a cada dia se
aproxima. A solução foi sacar dos bastidores uma proposta de anistia
ao crime de caixa dois e torná-la pública revestida com ares de
moralidade, dentro de um pacote de medidas anticorrupção.
Para isso, advogados de políticos enrolados no
esquema se mobilizaram às pressas para discutir o texto. A portas fechadas, o
clima era de tensão total: “A delação da Odebrecht vai ferrar todo mundo.
Precisamos ver isso [a anistia]”, repetiam deputados, apreensivos. Relator das
10 medidas contra a corrupção, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) recebeu um
telefonema, aos gritos, do líder de seu partido, Pauderney Avelino (AM). Era
chamado de traidor por não acatar as mudanças sugeridas ao projeto proposto
pelo Ministério Público. Do outro lado da Câmara, já havia um batalhão de
senadores a postos para aprovar a medida tão logo ela saísse da Casa.
A cinco quilômetros do Congresso Nacional, um nome
já conhecido da Justiça por suas traficâncias com dinheiro público também se
movimentava para impor um duro revés à Operação Lava-Jato. Valdemar Costa Neto,
ex-deputado condenado no julgamento do mensalão a sete anos e dez meses de
prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, reunia na sede do Partido
da República (PR) deputados para discutir caminhos de sobrevivência.
Uma das propostas foi derrubar, ainda na comissão,
o relatório de Lorenzoni e apresentar um novo texto que trazia a anistia a
reboque da tipificação do crime de caixa dois. Presidente do Conselho de Ética,
justamente o órgão responsável por fiscalizar o decoro dos congressistas, o
deputado José Carlos Araújo (PR-BA) foi escolhido por Valdemar Costa Neto para
comandar um texto alternativo ao do relator.
Na véspera da votação, Araújo ensaiou o discurso
repetido entre aqueles que querem a anistia: se ainda não há uma tipificação,
não há crime. Ele admite ter sido questionado se assinaria uma medida com
essa redação, mas nega que o ex-presidente do PR tenha sido porta-voz da
proposta. Araújo também admite que se reuniu com Valdemar nesta semana, mas
afirma que o assunto esteve restrito à prestação de contas do diretório do
partido na Bahia. “Não houve essa articulação”, resumiu à reportagem.
Em outra frente de atuação, na terça-feira Valdemar
Costa Neto recebeu deputados na sede do partido, entre eles o líder do PTB,
Jovair Arantes (GO), e do PR, Aelton Freitas (MG). Saíram de lá com a redação
da anistia em mãos e entregaram para líderes do chamado centrão, um bloco com
12 partidos formado por mais de 200 deputados, durante um almoço na casa de
Jovair. Também visitou o local o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e
Comunicações, Gilberto Kassab (PSD). Ele nega, porém, que tenha tratado sobre a
emenda. Segundo sua assessoria, ele participou do encontro apenas para anunciar
a candidatura de Rogério Rosso (PSD) à presidência da Câmara.
O PR tem interesse direto em se blindar. Em acordo de delação, Fernando Cavendish, dono da construtora Delta
Engenharia, negocia vincular o Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNIT), um dos braços do Ministério dos Transportes, historicamente
ligado ao partido, ao pagamento de propinas a políticos. O acordo de colaboração
se dá no âmbito da Operação Saqueador, da qual o empresário foi alvo em junho
deste ano.
Em nota, Valdemar Costa Neto afirmou que é comum a freqüência
de parlamentares na sede do Partido da República, inclusive para realização de
reuniões com deputados de outras legendas, e disse atender a todos que o
procuram “no horário de expediente”. Valdemar afirma restringir “sua atuação
aos limites da atividade profissional que desempenha como funcionário
responsável pela administração do Partido da República”.
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