Total de visualizações de página

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Guerra é guerra



Medidas do Senado até fazem sentido, mas não com Renan, não agora

Por Augusto Nunes, 16/11/2016,
 www.veja.com.br

Texto de Eliane Cantanhêde Publicado no Estadão

Tecnicamente, digamos assim, o presidente do Senado, Renan Calheiros, tem argumentos de sobra para defender a Lei de Abuso de Autoridade, a flexibilização dos acordos de leniência com as empreiteiras e, principalmente, a comissão para identificar e cortar os supersalários dos três Poderes. E qual é o problema? O problema é o próprio Renan Calheiros, ou a falta de legitimidade dele para capitanear tudo isso, neste momento.

Ninguém, em sã consciência, defende abuso de qualquer autoridade, nem de procuradores e juízes nem de um guarda de trânsito, um auditor e um policial civil, militar ou federal. Não podem constranger quem quer que seja, perseguir adversários, descumprir a lei, exorbitar penas ou multas. Certo? Certo. Mas Renan, alvo de 11 inquéritos, pode capitanear esse debate? E é hora de “cortar as asinhas” de investigadores, bem no meio da Operação Lava Jato?

No caso dos acordos de leniência, faz sentido separar, de um lado, empreiteiros e executivos corruptos e, de outro, empreiteiras que empregam milhões de pessoas, contratam centenas ou milhares de outras empresas de diferentes ramos e aquecem a economia. Mas, peraí, isso não pode anistiar pessoas físicas e jurídicas que tanto prejudicaram o País e nossas empresas públicas. E mais: que financiaram campanhas e carreiras políticas a vida toda. Não haverá como convencer a opinião pública de que o Congresso quis fechar os olhos para a corrupção, como forma de pagar os favores recebidos.

Bem, quando se fala nos supersalários, há uma unanimidade. É indefensável sob qualquer aspecto, seja orçamentário, seja legal, seja ético, que um juiz ganhe até R$ 200 mil por mês, quando a Constituição, que ele é pago para defender, estabelece como teto os menos de R$ 40 mil que os ministros do Supremo recebem. É óbvio para qualquer mortal que é preciso acabar com jeitinhos e extras moldados para descumprir a lei no Judiciário, Legislativo e Executivo. Mas Renan é o homem certo, na hora certa, para fazer isso?

Muita gente, dentro e fora do Congresso, considera Renan Calheiros um ótimo presidente do Senado. Tem força, liderança, diálogo com os diferentes partidos e combate o bom combate, defende o regimento e as causas certas. Mas Renan é Renan, entronizado na política por Collor, às voltas com inquéritos, com uma rejeição popular gigantesca. Tudo o que ele faz está automaticamente sob suspeição. Ainda mais se parece ser, ou é mesmo, contra a Lava Jato.

Um outro projeto que irrita e incomoda os investigadores, apesar de não ser diretamente contra eles, é o de repatriação de recursos não declarados no exterior. Se o governo arrecadou R$ 46 bilhões só com 15% de impostos e mais 15% de multas da repatriação na primeira leva, isso corresponde a cerca de R$ 150 bilhões enviados para fora do País clandestinamente. Por quem? Por quê? Qual a origem?

Nesse saco de gatos, há de tudo, desde sonegação de dinheiro lícito até lavagem de dinheiro de corrupção e tráfico de drogas. E não acabou. Vem aí a segunda leva da repatriação, com multas e impostos um pouco maiores, para lavar a jato (mas na contramão da Lava Jato) o resto do dinheiro, boa parte dele sujo, que andou passeando por paraísos fiscais e agora serve para amenizar a imensa crise de União e Estados.

Mas, na guerra com o Congresso, o Judiciário também tem suas armas, como a pressão crescente para acabar com o foro privilegiado dos políticos, que sobrecarrega o Supremo e é fator de impunidade de políticos. Um a um, os ministros do STF estão assumindo clara e publicamente a posição contra o privilégio, em consonância com o que deseja a sociedade, cada vez mais bem informada e cada vez mais sabendo o que quer – e o que não quer.

Comentários

Indignado
 
Chega!Não agüentamos mais. Onde estão os jovens desse Brasil?Onde estão os militares que não socorrem esse povo sofrido. Vamos esperar por quem?Esses políticos bandidos que querem extinguir a lava jato?Por esse judiciário que é tão ou mais corrupto que os políticos?Vãos às ruas, à Brasília cercar os 3 poderes

Silvando
 
Um texto escrito de maneira simples, mas com um conteúdo extremamente inteligente que retrata o atual momento desse pobre Brasil.

Ps
Pois é Eliane, a dureza é saber que: tecnicamente a bandidagem ainda é maioria e está bem representada no legislativo dos coroné e, é ela quem elege os “prisidenti du pudê”!

Fausta
Olá, Augusto!
Correta e equilibrada a opinião de Eliane Cantanhede! A verdade é que podem até aparecer no Congresso alguns projetos dignos de discussão. Entretanto, a possibilidade de serem essas discussões dirigidas pelo presidente do Senado, já nos deixa desconfiados, uma vez que, até onde sabemos, o que é bom para Renan Calheiros, não é bom para a sociedade. Conta com vários processos que o incriminam, inclusive na Lava Jato, enquanto adota um comportamento nada convencional quando se trata de decisões que possam prejudicá-lo, ou à sua turma. Pois é, não sabemos até que ponto pode chegar sua ambição e ambigüidade, quando se trata de manter o poder nas próprias mãos (vide o caso do fatiamento do julgamento de impeachment de Dilma Rousseff)! Bem, não sei, mas acho que acabar com o foro privilegiado, tendo o atual Presidente do Senado à frente das discussões, será tarefa inglória para aqueles que defendem a medida. O que é quase certo, também, é que, como diz a Eliane “tentará cortar as asinhas dos investigadores da Lava Jato”. E só nos resta esperar para ver o que acontece!!!

Razumikhin
Amarrar canino utilizando-se de corda linguiçal.

Simples
Inclusive hoje deu falta de quórum na sessão sobre foro privilegiado.
Se os políticos não apoiarem o fim do foro privilegiado, estão assinando a confissão que todos são bandidos? Precisam da proteção do STF apadrinhado? Sociedade, ruas!

Rodrigo
Freqüentemente oportuna e brilhante, Eliane, parabéns pelo artigo, poucos escreveriam com tanta competência. Já não era sem tempo alguém lúcido jogar luz sobre o oportunismo que se esconde por trás de atos com carinha inocente. Acabar com a Lava Jato é o objetivo desse pessoal. Toda força à Lava Jato. Toda força a jornalistas como você, Eliane.

Gonzaga
Começo a aceitar a estratégia do Eduardo Cunha. Só um safado para tratar com os outros safados. Graças à Cunha que obtivemos um impcheament da Dilma. Depois deixamos ele rolar ladeira abaixo.

Antonio Renovável
No fim de tudo, qual é a matemática?
Simples: Classe política, toda ela RICA E ENDINHEIRADA, e o País começando pelos municípios, passando pelos estados e finalizando na União quebrados de pires na mão. E quem vai pagar a conta????

Luiz
Guerra de facções…
Renan movimenta seu arsenal de canalhices contra o Ministério Público e Poder Judiciário.
Tivessem seus membros dignidade e honra, colocavam todos seus 11 inquéritos para andar.
Nisto tudo, não tem nenhum inocente, isento ou imparcial

Nenhum comentário:

Postar um comentário